16 - Sinais

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Quando eu chegava de táxi, perto da entrada do condomínio de Lu, eu pude ver o poste acidentado.

Havia sido feio e um grupo de técnicos estava lutando sob o sol para tentar resolver. Era um milagre que a energia elétrica ainda estivesse funcionando.

Toquei o interfone de frente aos imensos portões de sua propriedade, esperei que ela me visse pela câmera e o portão se abriu para mim. Caminhei calmamente pelo caminho da entrada até sua porta, aproveitando meus últimos momentos para reforçar a minha decisão: era só trabalho.

Eu sou adulta e sei me controlar. Meus sentimentos por ela estão reacendendo? Sim. Os dela também podem estar? Sim. Mas eu não vou entrar nessa de novo. Figurinha repetida não completa álbum!

Já sabemos como isso acaba e sempre acaba comigo me fodendo. Dá primeira vez, arrasou com a minha vida. Agora eu estava numa fase boa e tudo estava nos eixos pela primeira vez desde sempre, eu não vou deixar o que sinto por ela e todas as questões que isso envolve, ferrarem com tudo de novo e...

Lu abriu a porta e eu perdi o raciocínio lógico.

Eram nove da manhã e ela já estava vestida para matar. Para me matar. Cabelo solto jogado de lado, pouca maquiagem, um blusão que deixava um de seus ombros à mostra e descia até cobrir todo o seu short.

Ela está de short, né? Deus queira que sim!

— A gente vai trabalhar, né? – questionei, só pra ter certeza.

— Gravei uma entrevista agora de manhã, por isso a produção. – explicou, me dando espaço pra passar.

— E o mundinho dos famosos funciona antes das dez, é? – entrei, tomando o cuidado de não encostar nela.

— Nunca para. Depende dos horários que temos disponíveis. – fechou a porta.

Respirei fundo.

— Cadê o nosso A-team?

— Bingo está no estúdio com o Dj Calí, Renan fazendo negociações para patrocínio e Debbie cuidando do conceito estético do álbum.

Virei pra ela um tanto chocada, um tanto desesperada.

— Por que a surpresa? Você achava que a única função deles era andar atrás de mim?

Achava.

— Achei que iriam querer averiguar se vamos realmente entregar essas músicas hoje.

— Ah, vamos! – ela passou por mim, em direção ao estúdio particular – Vamos ou eu desisto desse álbum.

Se não terminarmos, eu vou é desistir de mim.

Seguimos para o estúdio. O lugar, de repente, me parecia tão grande pra nós duas. Deixei minhas coisas num canto, nos sentamos perto do piano e eu puxei meu telefone para checar minhas anotações.

— Já que vamos fazer as três hoje, pensei em começarmos pela dez e depois a sete. Eu fiz uns arranjos ontem, imagino que elas vão mais pro lado do mid-tempo, né. Ou pro up-tempo. Falar dos seus êxitos não dá pra ser triste.

— É. – Luiza me encarava sem piscar – Podemos ir por aí.

Isso era parte do meu planejamento de manter minha cabeça no trabalho o máximo possível. Apesar de seus êxitos se passarem em partes distintas de nossa relação – a sete quando ainda éramos um casal e a dez quando já não estávamos mais juntas – eram territórios seguros, já que focariam mais no que ela estava sentindo. Seria muito mais fácil começarmos por aí, do que ficarmos esmiuçando logo de cara sobre o momento em que nos demos conta que nos amávamos – o tema da música cinco.

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