17 - Encaixe Perfeito

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Terminar a música ficou em segundo plano. Colar nossos corpos um no outro enquanto nos beijávamos, usando as paredes do trajeto até seu quarto de apoio, tornou-se uma prioridade para nós.

Admito que estava me enganando quando achei que seria capaz de resistir a ela. Nunca seria. Ainda que isso tivesse acontecido no dia em que me pediu para escrever esse álbum com ela, eu teria cedido, mesmo machucada com a forma como tudo acabou.

Eu ainda não tinha entrado no quarto de Lu, mas mesmo apenas com a iluminação do corredor, ele me pareceu imenso.

Ela não me deu muito tempo para reparar. Uma de suas mãos me puxou pela cintura, a outra se pendurou em meu pescoço e ela voltou a tomar meus lábios para si, ansiosa.

Aos beijos, fui puxada na direção de sua cama, senti suas mãos tocarem a pele da minha cintura e minha blusa foi içada sobre minha cabeça sem que eu resistisse ao movimento. Fiz o mesmo com a dela e as deixamos largadas pelo chão, no trajeto.

Voltamos a nos beijar com intensidade, entre nossos passos desajeitados. Nossas mãos procuraram ao mesmo tempo pelos fechos de nossos sutiãs, ansiosas da mesma forma por livrarmos uma à outra de mais uma peça de roupa.

Num movimento firme, fui sentada na beira da cama por ela, em seguida a recebi em meu colo, sua boca percorrendo meu pescoço, uma de suas mãos encontrando meu seio despido.

Apertei seu corpo contra o meu, ardendo em desejo. Deixei que ela explorasse com as mãos e a boca meu torso nu, enquanto segurava a respiração.

Voltou a me beijar com intensidade, virei-a na cama e me afastei um pouco para nos livrar das partes debaixo de nossas roupas.

À pouca luz, eu podia ver seus olhos desejosos em minha direção. Colei nossos corpos e voltei a beija-la. Sentir nossas peles se tocando nos fez suspirar ao mesmo tempo.

Ela me virou na cama, tomando o controle da situação, e acho que sorri nesse momento. Uma memória do passado surgiu rapidamente em minha cabeça, me fazendo lembrar que ela gostava de ficar por cima.

A memória foi dissolvida pela onda de excitação percorrendo meu corpo, quando sua boca começou a traçar um caminho do meu pescoço até a minha barriga. 

Meu raciocínio falhou. Arqueei meu corpo e entreguei o resto do meu autocontrole em suas mãos.

E na sua boca trabalhando em mim.

Era uma mistura de sensações. O tesão estava lá, mas também havia um sentimento de estar em casa novamente. Cinco anos haviam se passado, mas ainda conhecíamos cada parte de nós duas, ainda sabíamos cada ponto fraco de nossos corpos.

Era recompensador perceber que ela ainda tinha domínio sobre mim, assim como também era perceber que eu ainda conseguia fazê-la se entregar daquela forma.

Enquanto a noite passava e nos revezávamos para dar prazer uma à outra, eu me dava conta de que nunca havia acabado de fato. Foi apenas um hiato bem longo. Não tinha como algo que era tão bom, acabar.

Nossos corpos cansados, suados, repousaram um ao lado do outro, depois de testarmos cada coisa da qual nos lembrávamos de nossos momentos de intimidade.

E todas deram certo.

Levamos algum tempo para recuperarmos nossa respiração. Meus olhos ameaçaram se fechar na semi escuridão do quarto, meu corpo relaxado sentia o cansaço do dia. Do misto de expectativa, tensão e pressão ao qual o submeti.

Mas depois de mandar tudo pros ares, eu estava feliz.

Senti Lu se mexer na cama, seu corpo se encostar na lateral do meu, sua perna ser jogada por cima das minhas e seu braço envolver minha cintura.

O encaixe dos nossos corpos era perfeito e havia uma sensação de conforto com ela que por mais que eu tentasse, não consegui sentir com mais ninguém.

Que droga, eu estou tão ferrada!

À medida que o entorpecimento do prazer ia se dissipando, minha mente começava a pensar em várias situações e coisas a dizer naquele momento. Procurava definições para o que havia acontecido entre a gente, pensava em como seria quando eu me levantasse daquela cama e tivéssemos que voltar ao trabalho.

Pensava na música que deixamos pendente e que deveríamos estar terminando ao invés de nos perdendo uma no corpo da outra.

Como é que iríamos, simplesmente, nos levantar dali e voltar ao estúdio, depois de tudo o que fizemos?

— Vicky? – ela chamou baixinho, sua voz perto do meu ouvido.

— Oi. – respondi, sentindo minha voz falhar.

— Achei que você já tinha dormido. Tá tão quieta.

Minha mente trouxe de volta outro fato: ela gostava de conversar depois do sexo.

Virei meu corpo para ficar de frente para ela, afastei mechas de cabelo rosa do seu rosto e repousei minha mão ali.

— Tô pensando na coisa certa pra dizer. – admiti.

— E deveria haver uma coisa certa? – mesmo na semi escuridão, vi um sorriso preguiçoso brotar em seus lábios.

— Tem muita coisa. São cinco anos e muita confusão.

— Todas as nossas confusões já foram resolvidas pelo tempo. Pra que se importar com o passado, quando temos o presente?

Aquele pensamento me parecia muito confortável naquele momento.

Sorri e concordei. Meus olhos ameaçaram se fechar, mas eu não iria dormir.

Já que ela gostava de conversar, haviam algumas questões que eu queria entender, antes que tivéssemos que voltar para a realidade que deixamos à nossa espera no andar debaixo.

— Você mentiu pra mim na festa de lançamento. – afirmei, minha voz falhando pelo misto de cansaço e relaxamento. 

— Menti?

— Sobre a Fabi. Você sabia que ela não estava querendo me dispensar.

Ouvi um riso seco.

— Eu acabei de te fazer gozar de várias formas diferentes e você vem me falar da Fabi. – havia um ar de riso em sua voz, mostrando que não estava chateada, apesar de sentida.

Mas eu tinha um ponto à provar, para ter puxado aquele assunto.

— Só quero saber se entendi certo.

— Você entendeu certo, eu estava com ciúme, te queria na minha cama e não estava sabendo pedir, como você mesmo jogou na minha cara.

Direta.

Um sorriso bobo, de quem contava vantagem, brotou no meu rosto de forma involuntária. Tenho que admitir que eu estava me sentindo um pouquinho por estar sendo disputada por duas mulheres daquelas.

— Agora, minha vez. – ela anunciou – Se eu tivesse demonstrado antes, você teria correspondido?

Desde o primeiro dia. Mas claro que eu nunca vou admitir isso.

— Talvez.

— Talvez? – ergueu as sobrancelhas em desdém – Sabe qual foi a última vez que eu levei um “não” de uma mulher?

— Quando você tentou seduzir a Débora? – debochei.

Lu me deu um empurrão de leve no ombro, embora risse da minha gracinha.

— Admita que você sempre se roeu de ciúme dela. – respondeu.

Era mais pra um ranço mortal mesmo.

— Eu posso admitir que eu estou querendo isso aqui há muito tempo. É bom pra você?

Lu mordeu o lábio inferior, a sombra de um sorriso astuto neles.

— É bom. – concordou.

Me deu um selinho, um segundo mais demorado. Voltamos a nos beijar.

Tínhamos consciência de que a música que deixamos pendente não terminaria de se escrever sozinha, mas isso poderia esperar mais um pouco.

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