18 - Jogo Duplo

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No dia em que Lu e eu finalizamos suas músicas, recebi um e-mail que escolhi deixar para ler mais tarde. O e-mail se tratava de um convite da equipe de Liz Suelo para que eu participasse de um Camping para seu próximo trabalho.

Escrever para Lari Gaspardi me colocou na mira dos veteranos, aquele era um dos trabalhos que eu esperei a minha vida toda.

Liz Suelo era um nome de peso na indústria. Uma diva raiz. Há vinte e seis anos atrás, ela e mais quatro garotas foram as responsáveis pelo pop ser um gênero tão forte no nosso país como vemos hoje. No auge das Spice Girls, tínhamos o Popers. E das cinco lendas que fizeram parte dele, Liz Suelo foi a que conseguiu construir a melhor carreira solo, fazendo a junção perfeita da qualidade musical com o entretenimento megalomaníaco do qual o pop vive.

Meu fim de semana seguinte foi enfiada no estúdio com mais nove compositores e a própria, trocando ideias e fazendo a maior quantidade de músicas que eu já escrevi em tão pouco tempo.

Era um domingo ensolarado e estávamos todos enfiados naquele estúdio há tanto tempo, que a presença ilustre de Liz já havia se tornado normal.

Ela decretou uma folga para comermos, esticarmos as pernas e refrescar a cabeça antes de continuarmos e eu aproveitei para checar minhas conversas no telefone:

"Tá livre amanhã?"

Era uma mensagem de Fabi.

Desde que fiquei com Lu, só tínhamos conversado pelo telefone. Ela perguntou como havia sido e me deixou à vontade para falar do que rolou. Levou tudo na boa, como eu esperei que fosse, deixou claro que não se importava em me dividir.

Sorri de lado, estava prestes a clicar em sua mensagem quando uma nova conversa subiu ao topo da lista:

"Minha casa amanhã?"

Meu coração disparou quando li o nome de Lu.

Também só havíamos conversado por mensagem desde que ficamos. Ela puxou conversa na quinta à noite, dizendo que não parava de pensar na última madrugada. Desde então, trocávamos flertes. Nós duas sabíamos que ia acontecer de novo, mas escolhemos ficar nas provocativas e ir aumentando nossas expectativas quanto a isso, esperando para ver quem de nós seria a corajosa de convidar primeiro.

Não estava surpresa que fosse ela.

Eu tinha um impasse até engraçado para minha vida: com qual das duas sair primeiro.

Nem nos meus desejos mais loucos eu poderia imaginar essa reviravolta. Três meses antes estava na pindaíba, sozinha e pensando em desistir. Agora, escrevendo para grandes nomes e com duas mulheres daquelas atrás de mim.

Num momento bem infantil, passei um tempo fazendo uni-duni-tê com o indicador em cima das duas conversas.

Decisão difícil.

— Ovelhinha desgarrada, tá na hora de voltar pro rebanho.

Senti meu corpo ressaltar ao ouvir a voz grave de Liz Suelo tão perto e minha primeira reação foi proteger a tela do telefone, levando-a para junto do meu peito.

A cantora passou por mim gingando, dando uma risadinha descontraída da minha reação, rumo à porta do estúdio no final do corredor.

— Já tô indo. – respondi rapidamente, tentando me recompor do quase flagra – Eu estava só… respondendo a umas mensagens aqui.

Liz parou à porta do estúdio, segurando-a entreaberta e me observou por dois segundos, curvando os lábios cheios num sorriso de lado.

— Vou te dar mais cinco minutos pra você resolver isso aí. – enfatizou com ar de riso, deixando claro que sabia do que se tratava e estava se divertindo com a situação.

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