Era Primordial - Parte IV

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ATO X

Durante meses a fio, os deuses renegados persistiram em suas tentativas de criar, cada esforço terminando em fracasso, mas alimentando ainda mais sua determinação. A frustração era evidente em seus gestos, cada tentativa falha deixando-os mais resolutos.

Foi então que uma memória surgiu, iluminando o caminho com uma faísca de inspiração. Eles se lembraram do primeiro presente que haviam dado a Máterum e das alterações que ele fizera. Essa lembrança trouxe um novo ânimo ao grupo. - Vamos usar isso como nossa fundação - propôs Zilevo, com um faixo de inspiração em seus olhos direcionados ao vultuoso Sol.

Novamente, os deuses renegados unificaram seus poderes, mas desta vez com um foco renovado. Eles se concentravam intensamente, suas energias entrelaçando-se em uma única criação. Lentamente, começaram a moldar uma nova forma de vida, uma que iria cobrir o planeta de Zaranler com um manto verde.

À medida que as árvores, flores, frutas e vegetais começaram a brotar pelo planeta, uma sensação de êxtase percorreu o grupo. Seus rostos se iluminavam com sorrisos de realização, e exclamações de alegria e admiração preenchiam o ar. A vida verde emergia como um testemunho de sua união e habilidade, cobrindo o solo árido de Zaranler com uma explosão de vida.

Cada nova folha, cada flor que desabrochava era uma celebração de sua criatividade. Os deuses renegados, olhando para o esplendor da vida verde que haviam criado, sentiram um orgulho imenso. Eles haviam conseguido, contra todas as probabilidades, dar um passo significativo em direção a afirmar sua própria identidade e poder criativo.

A criação da vida verde em Zaranler era, sem dúvida, um espetáculo de tirar o fôlego, e seus criadores observavam com maravilhamento. As florestas exuberantes e os campos floridos eram uma visão de puro encantamento, mas os deuses renegados sabiam que seu objetivo final ainda estava além de seu alcance. Eles ansiavam pela criação de um novo deus, um ser gerado a partir da própria essência da vida verde.

Nos anos que se seguiram, os deuses esperavam pacientemente, seus olhos percorrendo as vastidões de Zaranler, procurando sinais de uma nova divindade. A cada ano que passava sem o surgimento de um novo deus, a dúvida começava a se instalar. Tanri, com uma expressão pensativa, expressou a preocupação crescente do grupo. - Talvez, nossas criações não gerem deuses, como as de Máterum - ele ponderou, sua voz tingida de desapontamento. Os outros deuses compartilhavam olhares incertos, o desânimo começando a pesar em seus corações.

Todavia, exatamente no dia do sétimo ano após a criação da vida verde, quando a esperança parecia estar se esvaindo, um milagre ocorreu. Das profundezas das florestas de Zaranler, surgiu Bucu, o primeiro deus criado pelos próprios deuses.

Os deuses renegados, ao testemunharem o surgimento de Bucu, sentiram uma onda de alívio inundar seus seres. Eles se aproximaram com admiração, observando a figura divina que haviam gerado. Seus olhos brilhavam em felicidade, e exclamações de maravilha e gratidão ecoavam pelo ar. A presença de Bucu era a prova viva de que, apesar de todas as adversidades, eles haviam conseguido alcançar o inimaginável.


ATO XI

Enquanto os deuses renegados vivenciavam sua ascensão e descobertas em Zaranler, Máterum, em seu domínio, enfrentava seus próprios conflitos internos. Ele vagava pelos corredores de sua morada divina. Seus passos eram lentos e ponderados, como se cada movimento fosse acompanhado por um pensamento profundo e melancólico.

Máterum, em sua busca pelos filhos, revelava uma expressão complexa, onde a esperança de reencontrá-los se entrelaçava com a incerteza de suas verdadeiras intenções. Por vezes, ele parava e olhava para o horizonte, seus olhos divinos penetrando as vastidões do espaço em busca de qualquer sinal de seus filhos rebeldes. Havia momentos em que sua figura parecia vacilar, como se a dúvida sobre a sinceridade de sua busca o assombrasse.

Em outros momentos, Máterum parecia perder-se em reflexões, questionando se sua procura era genuína ou se era apenas uma forma de se iludir, de acreditar em um retorno que, no fundo, sabia ser improvável. Seu olhar se tornava distante, perdido em pensamentos de um possível reencontro, de um lar reunificado, interrompidos apenas pela realidade da situação presente.

Essa ambivalência era visível em suas expressões e gestos. Havia uma tristeza subjacente em sua busca, um reconhecimento implícito de que os laços que outrora os uniram estavam agora profundamente estremecidos. Máterum, o Universo, o criador divino, o pai dos deuses, agora se via confrontado com a possibilidade de que seus filhos talvez nunca mais retornassem ao lar que ele havia criado para eles.


ATO XII

O nascimento de Bucu representou um ponto de inflexão crucial na saga divina. Para Máterum, a notícia do surgimento desse novo deus, fruto da rebelião de seus filhos, foi como um golpe brutal em suas últimas esperanças de reconciliação. A revelação despedaçou suas ilusões, substituindo-as por uma fúria avassaladora.

Máterum, sentindo a energia pulsante do nascimento de Bucu, foi consumido por uma raiva intensa, uma emoção tão forte que ofuscava qualquer vestígio de razão. Em um estado de ira cega, ele recorreu a seus poderes telepáticos, sua voz ressoando na mente de cada um dos deuses renegados. - Todos os deuses devem retornar imediatamente a Primárium e sentenciar Bucu em minha presença. Só assim, obterão perdão! - Sua mensagem era um ultimato, a ordem de um pai furioso, desafiando a autoridade e a autonomia de seus filhos.

Os deuses renegados, ao receberem a mensagem de Máterum, sentiram um choque de indignação. Suas expressões se endureceram, e um sentimento de desafio cresceu entre eles. Longe de acatar a exigência de Máterum, eles escolheram o caminho da resistência. - Não! - Declararam em uníssono, uma voz coletiva de rebelião. - Não obedeceremos. Declaramos guerra contra o Universo e todos os deuses que permanecerem ao seu lado. - Sua declaração era firme, marcada por uma revolta feroz de lutar por sua liberdade e pela proteção de Bucu.

Essa decisão desencadeou uma série de eventos que levariam a uma grande guerra, uma batalha que se estenderia por milênios.

Máterum, ao perceber a rejeição total de seus filhos, sentiu a dor. Seus olhos, que antes demonstravam uma tristeza profunda, agora obrigados a assumir a seriedade de um líder prestes a entrar em uma guerra que ele nunca desejou, mas que se via obrigado a travar.

Marum se preparava para uma confrontação épica, e a tensão se espalhava como um incêndio por suas raízes. A guerra que se aproximava prometia ser longa e brutal, com inúmeras mortes e lamentações marcando o futuro da história divina.

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora