Alvorada: O refinamento da floresta (Críngu) - Parte IV

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ATO V

- Somos só eu e você agora, Bucu - anuncio, levantando-me lentamente do chão, onde Gálidus jaz desmaiado, um peso a mais sobre as orquídeas e rosas partidas e ensanguentadas ao seu redor.

Bucu encara-me, seus olhos estreitando-se para o confronto. Com destreza, ele faz a kurasi e o chicote dançarem em suas mãos. - Não se esqueça que você ainda está sem sua arma.

Respondo com um sorriso desafiador, apesar da dor lancinante que percorre meu corpo. - Acha mesmo que uma arma fará diferença agora? - Retruco, enfiando as manoplas de Gálidus em meus punhos feridos.

Um pensamento urgente invade minha mente enquanto o sangue escorre entre meus dedos. - Preciso acabar com isso rápido. - Cada segundo de hesitação, cada movimento, pode ser o meu último. A exaustão se aproxima, ameaçadora, um lembrete de que meu tempo está se esgotando. - Não posso falhar agora - penso, fixando meu olhar em Bucu, preparado para o confronto final.

Avanço em direção a Bucu, meus músculos tensionando, prontos para a ação, enquanto canalizo minha energia restante nas pernas. Bucu, percebendo minha investida, começa a girar o chicote em um redemoinho vertiginoso, cada movimento uma barreira que desafia meu avanço.

Observo, calculando cada movimento. - Ele está na defensiva. Preciso encontrar uma maneira de atravessar sua guarda. - penso, analisando a cadência e o ritmo de seus ataques. Sinto uma pontada de frustração, misturada com a urgência de quebrar sua defesa. - Vai ficar aí eternamente? - provoco, esperando que minha voz revele mais confiança do que realmente sinto, tentando abalar a concentração de Bucu.

Bucu reage ao meu desafio com um sorriso sardônico - Não, Críngu. Apenas até você desmaiar - ele responde, intensificando o ritmo de seus movimentos, desafiando minha aproximação. Ele está plenamente ciente da minha condição enfraquecida, observando o sangue que escorre incessantemente por entre os ferimentos em meu torso, e isso apenas o encoraja. - Com esses ferimentos, certamente não demorará muito.

Em um movimento rápido e preciso, Bucu estica a lança da Kurasi, seu golpe diagonal cortando o ar com uma eficiência mortal. Sinto a lâmina passar pelo meu rosto, uma dor aguda e quente explodindo ao lado do meu olho esquerdo. O sangue começa a fluir, tingindo minha pele e obscurecendo minha visão parcialmente. A surpresa e a dor do corte me fazem recuar um passo.

- Não posso ceder agora - penso, enquanto limpo o sangue do rosto com a palma da mão, lançando-o ao chão num gesto simbólico de desafio. - Concentre-se, Críngu! - a voz em minha cabeça grita, buscando afastar o caos das dores e distrações. Encaro Bucu, determinado. - Usá-la neste treino é ultrajante - ciente da ousadia de usar a técnica proibida neste treino, formulando uma estratégia desesperada, sentindo a pressão de Bucu cortando as rosas de minha vanguarda com precisão. - Apenas uma vez - prometo a mim mesmo, retraindo conforme os chicotes se expandem.

Em uma tentativa de avançar, Bucu manipula a trajetória da kurasi e arranha minha perna.

- Você não passará, Críngu - ele declara, os movimentos de seus braços aumentando em velocidade e força. - Não importa quantas vezes você tente. Seu tempo está passando. Desista! Você já perdeu. Só está atrasando nosso descanso - ele insiste, oscilando as mãos incansavelmente. - Posso continuar fazendo isto por muito tempo, eu treinei para isso, e você sabe disso - enrijecendo o antebraço.

Sua provocação ecoando em meus ouvidos, mas não permito que suas palavras me abalem. A dor se intensifica, mas mantenho-me firme. - Bucu está certo, ele pode continuar isso por horas - penso, analisando a situação com um olhar crítico. Vejo a tensão em seus antebraços, a determinação em seus olhos. Mas, apesar da dor e do cansaço, algo em mim se recusa a desistir. - Não posso cair agora - murmuro para mim mesmo.

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora