Solidão (Void) - Parte I

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ATO I

- Arf! Arf! O que estou fazendo? - questiono a mim mesmo em um sussurro ofegante, enquanto me esgueiro sorrateiramente pelo grande salão. Meus passos são cautelosos, quase temerosos, enquanto minha cabeça gira freneticamente, buscando qualquer sinal de movimento. - Ainda posso desistir - penso, a hesitação fazendo meu coração bater mais rápido. Lanço um olhar ansioso ao redor, o vasto espaço ecoando meu isolamento. - Talvez devesse tê-lo deixado para trás - meu olhar se fixando no portão, atrás do qual repousa o deus ainda inconsciente.

Me aproximo lentamente do portão e olho para o deus caído, observando sua forma mais de perto. Ele não é robusto, mas seu físico definido engana quanto ao seu peso. Sua pele branca manchada de uma colagem grotesca de sangue seco, areia e pedaços de grama, testemunhando os rigores da batalha que enfrentou.

A luz fraca do salão pinta sombras sobre seu rosto. - Não deveria estar fazendo isso - penso com um nó no estômago, a ideia de traição me fazendo tremer. - Ou deveria? - A ambivalência me atormenta; parte de mim me puxa para frente, mas a cautela me sussurra que ainda posso recuar, que posso chamar Báron agora e terminar isso.

As palavras de Jonglam ecoam em minha mente: "Ele é inocente de qualquer crime". Palavras persistente de que Kinkara pode ser inocente.

Esse lampejo de verdade, mesmo que parcial, alimenta minha desconfiança em relação a Báron e fortalece minha resolução em ajudar este deus misterioso que encontrei perambulando pelos muros de Malbork.

Expiro lentamente, tentando acalmar os batimentos acelerados do meu coração, e opto por continuar com o ato de traição. Com um suspiro resignado, me agacho ao lado do deus, preparando-me para o esforço de carregá-lo. Seus músculos, embora relaxados pelo inconsciente, parecem pesar mais pela gravidade da situação. Ao levantá-lo, sua cabeça pende de forma vulnerável

Levando-o pelo corredor dos aposentos, meus braços tremem ligeiramente sob o peso. A cada virada de corredor, meu olhar varre o ambiente, procurando sinais de Báron ou de qualquer outro que possa descobrir minha traição.

Apressadamente, entro no quarto de Muntera, minha mente rodopiando com pensamentos frenéticos. - Se Báron ou Korla me descobrirem aqui, será meu fim - reflito, sentindo o frio da ansiedade subir pela espinha.

De repente, o deus ferido começa a despertar, quebrando o silêncio com sua voz rouca e confusa. - Hm... onde... onde estou? - ele murmura, movendo a mão trêmula para seu abdômen ferido, um gesto instintivo de autoproteção. Seus olhos se abrem, acinzentado como os de Tempórious e Máterum, embora não tão brilhantes.

- Calma, você está seguro aqui em Malbork - digo em um tom baixo e firme, tentando transmitir uma calma que eu mesmo luto para manter. Suavemente, o apoio contra a parede do quarto, tentando aliviar seu desconforto sem agravar seus ferimentos.

Ele me encara, os olhos agora um pouco mais focados. - Quem é você? E por que me ajudou? - Ele pergunta com uma voz fraca, sua expressão revelando sua desconfiança.

Por um momento, hesito, confrontado com as mesmas perguntas. - Estou me perguntando o mesmo - penso. - Não pensei nas consequências, apenas agi - confesso, olhando a variedade de ferimentos espalhados pelo seu corpo.

- Tenho que ir - murmura, suas mãos trêmulas explorando o ambiente em busca de algo para se apoiar. Seus olhos, cheios de uma desconfiança que nunca se desvanece, permanecem fixos em mim, como se cada movimento meu pudesse ser uma ameaça oculta.

- Pode tentar, mas duvido que consiga se levantar - digo com uma voz que tenta ser gentil, mas que não pode esconder a dureza da realidade. Observo a perna direita dele, com o osso grotescamente exposto, uma visão que me causa um calafrio involuntário. - Você está em um estado muito grave para se mover - continuo

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora