Mudança (Zilevo) - Parte II

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ATO II

Máterum, com um brilho paternal nos olhos, inclina-se para mim na areia, a ternura transbordando em sua voz. — Gostaste, coração? — Pergunta, segurando um caderno repleto de esboços, cada página revelando vislumbres de um futuro cheio de maravilhas.

Com os olhos arregalados de admiração, respondo entusiasticamente. — Sim, Pai! — A cada página que ele vira, meu fascínio cresce. Diante de mim, o esboço de Malbork, uma estrutura colossal, se revela em detalhes meticulosos. A fortaleza, desenhada com uma precisão impressionante, parece atravessar os céus de Primárium, dominando o horizonte com muros que parecem tocar as estrelas.

Máterum, com um sorriso orgulhoso, ajoelha-se ao meu lado, aproximando-se para compartilhar cada detalhe. — Será nossa casa daqui a alguns séculos, coração! — ele declara, apontando para outros desenhos enquanto os raios de sol banham a areia dourada e uma brisa suave sopra do horizonte. — Isto será nosso jardim e isto nossos...

Absorto na leitura dos nomes das futuras criações, me perco em pensamentos, mal ouvindo as palavras de Máterum.  — Miramer. Animais... — leio em voz baixa.

— Bonitas criações, pai — parabeniza Tanri, interrompendo minha leitura. Seu elogio é sereno, mas a tensão em sua voz não passa despercebida, evidenciada por sua presença marcada por um sorriso que esforçadamente tenta mascarar seu rancor. Seus olhos, embora brilhem com um lampejo de admiração pelas criações de Máterum, também carregam um visível ressentimento.

Com um ar de desafio velado, Tanri questiona Máterum. — Quando confiará em nós para te ajudar na criação delas? — Sua postura, embora respeitosa, revela uma impaciência latente, um desejo de ser mais do que apenas um espectador nas façanhas de seu pai.

Máterum, percebendo a complexidade dos sentimentos de Tanri, responde com calma e autoridade, mas com um toque de carinho paternal. — Quando o dia chegar, avisar-vos-ei — Ele recolhe os papéis das minhas mãos com um gesto suave e deliberado, deixando apenas o desenho de Malbork comigo.

Tanri, em pé ali, destaca-se não apenas por seu domínio precoce da telecinese, mas também por sua presença física. Apesar de sua aparência frágil, semelhante à dos irmãos, há algo nele que irradia uma força inerente, um potencial bruto e poderoso de poder extincional. Ele é um prodígio entre os deuses, seu rosto refletindo uma beleza serena e uma força que contradizem sua juventude.

Internamente, Tanri luta com seus pensamentos. Ele se vê capaz de realizar feitos grandiosos, mas se sente subestimado e confinado às margens das criações de Máterum. Esse sentimento de estar à sombra de seu pai, apesar de seu talento e potencial, o enche de frustração.

— Pelo menos nos ensina a criar. Dessa forma, não terá que remodelar novamente nossas falhas criações, assim como fez com as anteriores — diz Tanri, sua voz tingida com um rancor que até então jazia adormecido.

Máterum, erguendo-se com uma serenidade que contrasta com a tensão de Tanri, responde com uma voz repleta de paciência e sabedoria paternal. — Tuas criações não são falhas, filho. Apenas eram imperfeitas. Abrangiam beleza formidável e singular — diz ele, tentando infundir confiança em Tanri, cujos olhos brilham com ceticismo.

— Palavras bonitas, apenas com o propósito de não chamá-las de defeituosas — reitera Tanri, enchendo as mãos de areia. — Isto é o que criamos! — jogando punhados de areia ao chão em um gesto dramático. — Não há como comparar isto com isso! — Exclama, apontando para a areia espalhada, depois para o papel em minhas mãos, em um esforço para destacar a disparidade entre as suas criações e as de Máterum.

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora