Capítulo 1

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Andrew Muller reconheceu, antes mesmo de entrar, aquele emaranhado de cabelo cor de rosa atrás do monitor da gráfica que Becky, sua melhor amiga, trabalhava. O barulho das impressoras industriais abafaram o som da porta, então Becky não o notou. Ela parecia muito focada no que estava fazendo.

Andrew se aproximou devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. O lugar cheirava a uma mistura de papel, tinta e álcool. Ele tirou um pacotinho de jujubas do bolso e o jogou ao lado do braço de pele marrom, que clicava frenético e arrastava o mouse de um lado para o outro.

- Puta merda, viado! - disse Becky, dando um salto da cadeira. - O que você tá fazendo aqui?

Ela pegou o pacotinho de jujubas e, sorrindo, abriu a porta ao lado do balcão para abraçá-lo. Quem os visse de longe, pensaria que os dois formavam um casal interessante. Ele: alto, pele escura como as penas de um corvo e uma barriga saliente. Ela: com a cabeça que batia abaixo do peito dele, pernas curtas e roliças, dona de uma cascata de fios ondulados rosa até os ombros. No entanto, nada mais eram que bons amigos.

Amizade que surgiu há 4 anos, quando a jovem Indiana chamou a atenção de todos por confrontar um grupo de adolescentes no corredor da escola por tentarem tirar sarro de seu peso. Andrew soube de cara que queria ser seu amigo. O destino colaborou, e Rebecca Prasad estava na mesma turma que Andrew.

Daquele momento em diante, tornaram-se inseparáveis. Inseparáveis era realmente a palavra certa para eles, pois apenas um corredor ficava entre os apartamentos em que moravam.

- Também curto te ver - disse Andrew, soltando-a, em seguida, virou o monitor para ver o que ela estava fazendo. - Tava de saco cheio de ficar dentro de casa, então vim buscar você. Que troço horrível! Quem pede pra estampar as próprias caras como fundo do convite de casamento?

Becky, abrindo o pacote de jujubas, retornou para trás do balcão e disse:

- Essas duas criaturas aí! - ela apontou para a tela, com a cabeça balançando em um julgamento cruel. Jogou duas jujubas na boca e continuou: - Eu tentei dar umas ideias pra que eles não se divorciassem com tanta vergonha dessa merda depois, mas nada faria a "fofa" mudar de ideia. O dinheiro é deles, né?

Becky deu de ombros e voltou a fazer os retoques no próximo ganhador do prêmio "Convite pavoroso do ano". Andrew andou até os modelos dos serviços que a gráfica oferecia, julgando, com sua experiência quase zero no assunto, quais poderiam ser perdoados por não serem cafonas ao extremo.

- Tá afim de comer alguma coisa comigo e com o Greg depois que sair daqui? - disse Andrew, franzindo a testa para uma foto de um neném. - Credo! Esse neném tá a cara daquela bebê do "Crepúsculo", coitado.

Becky esticou o pescoço para olhar qual era a foto, depois riu. Clicou mais algumas vezes, ergueu os braços agradecendo a Ganesha por ter acabado aquele show de horrores, e voltou a comer as jujubas.

- Tá me perguntando se o Vaticano tá, há séculos, controlando e escondendo toda a verdade sobre a criação do mundo dos seus seguidores fanáticos? - ela mastigava as jujubas com tanto gosto que Andrew quase sentiu vontade de experimentar uma. Mas, como detestava jujubas, jamais colocaria uma na boca. - Claro que eu quero! Que horas a gente vai buscar ele?

- Só se quiser que ele fique com o humor ainda pior do que já tá durante a semana toda - disse Andrew, finalmente aliviando o ombro ao depositar sua bolsa sobre o balcão, a seguir, sentando-se no banco perto do computador. - Ele não gosta que eu vá buscar ele no trabalho, com medo que o povo lá saiba que a gente namora.

Becky revirou os olhos, mas Andrew sabia que era por revolta contra as pessoas que, em pleno século XXI, ainda tinham preconceito com pessoas LGBTQIAP+. Após discursar sobre sua revolta, Becky avisou aos funcionários nos fundos da loja para começarem a desligarem as máquinas logo, pois ela tinha um lanche esperando por ela e, se eles não saíssem imediatamente de lá, ela os prenderia lá dentro.

A eternidade mordeOnde histórias criam vida. Descubra agora