Capítulo 3

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No fim de tarde de Sábado, dia em que iriam acampar, Andrew, após confirmar que tudo estava no porta-malas do carro, deixou o celular no carregador em seu quarto e foi para a sala, assistir TV com Selena. Ele se jogou no sofá, analisando o que passava.

   — Mais um dos seus seriados sobre true crime? Qual o nome desse aí? — Ele colocou a almofada debaixo da cabeça e se esticou.

   — Não é seriado. É o jornal — disse Selena, com os olhos fixos na tela. Ela aumentou o volume da televisão.

   — Até o momento, — dizia o repórter. — não temos notícias que confirmem o paradeiro do detento. Os policiais já interrogaram seus colegas de cela, mas eles dizem não saberem de nada. Afirmam que, até o horário em que foram dormir, o detento estava na cela. As suspeitas são que ele tenha fugido da prisão durante a madrugada. O comandante da Polícia local informou que já colocaram agentes nas ruas para capturar o fugitivo.

   — Como o cara sai de dentro da cela sem ninguém ver? — disse Andrew, erguendo uma sobrancelha. — Tem alguma coisa errada aí. Claro que ele deve ter dado dinheiro pra algum dos policiais pra abrir a cela.

Selena roía as unhas e mexia no celular, com as mãos trêmulas.

   — Será que seu pai já tá chegando? Já era pra ele estar em casa. E se…

A maçaneta da porta da sala girou, e o Sr. Muller entrou, mascando um chiclete, descontraído, com uma caixa da Dunkin’ Donuts na mão. Estava até cantarolando.

   — Ay, mí amor. — A Sra. Muller se atirou em seus braços, fazendo-o olhar para Andrew, surpreso. — Que bom que você chegou.

   — Amor, eu sei que você sente saudades, mas não é pra tanto. — Christopher riu, beijando-a.

Andrew voltou a olhar para a tela da TV, onde agora passava mais informações sobre o desaparecimento do entregador Robert Greywood, conhecido como Bobby. Sua moto havia sido encontrada, abandonada em uma rodovia ainda com a chave. Nem sinal do paradeiro do jovem, que já começava a ser considerado como morto.

   — Esta cidade não era assim — choramingou Selena, apoiando-se nas costas do sofá. — Acabaram de anunciar que tem um assassino à solta.

Andrew olhou para ela, com a testa franzida. Quando é que tinham dito que o cara era um assassino? Ele deu um risinho, julgando o exagero da mãe, e, pelo visto, Christopher também já estava acostumado com os exageros da esposa.

   — Querida, você fica assistindo essas séries sobre crimes, depois fica assim. — Ele afrouxou a gravata e começou a desabotoar a camisa. — Tenho novidades.

Andrew se sentou no sofá e olhou para o pai, que estava radiante. Selena tirou a caixa de donuts, que implorara para que ele trouxesse durante o café da manhã, dizendo que acordara com eles na cabeça, da mão dele e a levou até a mesa da cozinha.

Christopher ia começar a falar, mas alguém parecia determinado a derrubar a porta da sala.

   — Fofa! Fofa, eu sei que está aí — berrava Becky, esmurrando a porta.

   — Será que aconteceu alguma coisa? — Selena levou a mão ao peito. — Minha nossa! Será que é a Ishani?   — Mãe, é a Becky. — Andrew foi até a porta. — Certeza que não é nada com a avó dela. 

Ele abriu a porta, e a garota de um metro e meio começou a falar, ou melhor, gritar com ele:

   — Fofo, enfiou o celular no c…? — Ela percebeu que os pais de Andrew estavam a observando, então se interrompeu. — Ah, oi, Fofa. Oi, Sr. Andrew pai. Ih, aquilo ali são donuts? — Ela passou por baixo do braço de Andrew e foi direto para a caixa sobre a mesa.

A eternidade mordeOnde histórias criam vida. Descubra agora