Capítulo 2

262 36 72
                                    

Na frente de um prédio de dez andares que poderia ser confundido com qualquer outro edifício vizinho, pois possuíam as mesmas características, tirando as pichações que lhes atribuíam um toque de cidade vandalizada, Andrew batucava os dedos no volante ao som de sua playlist. O grande portão de grades grossas e pretas do mais puro ferro terminou de abrir, então Andrew entrou no estacionamento. Foi até sua vaga habitual e, após conferir se não estava esquecendo nada no banco de trás, pegou algumas balas no porta-luvas, tirou a chave do carro e saiu do veículo.

A brisa fria o fez puxar as mangas do moletom até os pulsos e olhar para o céu, que ganhava nuvens acinzentadas. Andrew apertou o botão na chave do carro e, sentindo o cheiro de combustível que perfumava o estacionamento, enfiou as balas no bolso do casaco. Pelo visto, a madrugada seria chuvosa.

Estava a caminho da portaria quando ouviu a voz de uma das moradoras do quarto andar. Um grito desesperado que o fez parar onde estava. Será que estava acontecendo alguma coisa na portaria? Uma tentativa de assalto? Em todos os anos que morou naquele prédio, Andrew nunca tinha ouvido nem um boato sequer de algum crime naquela região. Balançou a cabeça e voltou a andar, quando passos agitados vieram na direção da porta de entrada.

- Peguei! - disse Andrew, agarrando um garotinho de aproximadamente três anos que fugia da mãe. - Fugitivo apreendido. Dispensem os reforços.

Andrew fez cócegas na barriga do menino, que se encolheu enquanto gargalhava. A mãe, ajeitando a saia e prendendo a bolsa debaixo do braço, estendeu as mãos para pegar o filho.

- Obrigada, Andrew. - Ela sorriu aliviada. - Eu juro que ainda vou ficar louca com esse pestinha.

- Tranquilo, Sra. Perkins. - Andrew entregou o garoto, que ainda dava risadinhas, e enfiou as mãos no bolso do moletom. - Bom passeio, fugitivo.

Andrew continuou seu caminho até o porteiro, um senhor que se esforçava para não cochilar, e entregou duas balas para ele, que sorriu.

O Sr. Johnson trabalhava como porteiro daquele prédio desde antes de Andrew se mudar para lá com os pais. Sempre foi muito simpático com todos os moradores, sendo um contraste ao porteiro da manhã, que mal os cumprimentava, portanto, era muito querido por todos. Sempre que Andrew e Becky chegavam da escola, ele lhes dava balinhas, então Andrew começou a retribuir, selando uma amizade de poucas palavras.

Andrew se aproximou do elevador e apertou o botão para chamá-lo. No visor, o número nove levou alguns segundos para começar a cair, então Andrew começou a digitar uma mensagem para avisar a Greg que já estava em casa. Greg tinha começado a digitar, quando a porta do elevador abriu e Andrew entrou.

Apertando o botão de número sete, ele continuava trocando mensagens enquanto a porta se fechava. A luz do elevador começou a piscar. "Por favor, que seja só a lâmpada", desejou Andrew, temendo ficar preso no elevador por falta de energia. Os olhos vidrados no visor, que continuava sua contagem crescente, sem nenhuma pressa. Quinto andar. Andrew enfiou as mãos nos bolsos e mexia nas balas para ter o que fazer. Sexto andar. "Vai! Vai! Só mais um." Mais uma piscada de luz, e Andrew achou ter demorado mais que o normal para acender. Começava a esmagar uma das balas entre o polegar e o dedo indicador. Sétimo andar. A porta ainda estava aberta pela metade quando Andrew saltou para fora do elevador, soltando a respiração. Largou as balas, virando-se para a direita, e buscou a chave do apartamento em seu bolso.

- Segura o elevador, garoto! - disse a Sra. Prasad, avó de Becky, saindo do apartamento dela, em um dos seus saris indianos e com uma garrafa térmica na mão.

A Sra. Prasad, embora morasse nos Estados Unidos há quinze anos, quando mudou-se com os pais de Becky e a neta, sempre manteve suas tradições e costumes. Andrew achava a cultura muito interessante e, sempre que a via fazendo algo que não compreendia, consultava Becky. Até hoje, Andrew ainda não entendeu o porquê da avó de Becky preferir utensílios de cozinha feitos de metal à utilizar coisas como pratos e copos de vidro. Becky tentou explicar que em seu país, principalmente os mais velhos, só utilizam coisas de metal, mas não entrava na cabeça de Andrew.

A eternidade mordeOnde histórias criam vida. Descubra agora