Capítulo 16

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Kai, ainda com os dentes avermelhados do sangue, agradeceu ao homem, que retornou ao serviço, meio aéreo, então foi conferir a porta.

   – Eu estava me alimentando. – Ele agia com indiferença, e Andrew o associou a uma das milhares de versões de Conde Drácula que já vira.

Becky, indignada, conferia o pescoço e pulso de Andrew, então o garoto disse, afastando as mãos dela devagar:

   – Ele não bebeu de mim. – Uma frustração quase imperceptível estava em sua voz. 

Shawn colocou a mochila de acampamento de Andrew no chão.

   – Mas parecia que se não tivéssemos chegado, tu ia oferecer uma goladinha a ele.

Kai exibia um sorriso de canto, mas logo mudou a expressão quando encontrou o olhar de Becky para ele. O vampiro limpou a garganta e saiu da sala, com a desculpa de que iria buscar a carteira para pagar aos homens.

   – Vem comigo. – Becky pegou Andrew pelo pulso e o carregou para o quarto. 

Ela só agia daquela maneira quando queria contar uma fofoca ou dar alguma bronca em alguém, o que era menos frequente. A garota fechou a porta e levou   o  indicador até os lábios para que Andrew ficasse calado. Confuso, ele observou-a caminhar até o móvel em que Kai pegara o conta-gotas, depois, sacudindo a cabeça, pegar o celular.

“Leia mentalmente pra ele não saber o que estamos falando”, digitou ela e olhou para o amigo. Aquilo não parecia apenas uma fofoca. Ela tinha um olhar preocupado. Andrew assentiu, e ela continuou: “Quando você acordou, tinha um conta-gotas aqui?”. Ela apontou para o móvel.

Andrew confirmou e pegou o aparelho da mão dela. “O Kai disse que tinha esquecido aqui no quarto, mas pediu desculpas.” 

Becky olhou para a porta, então tomou o celular de volta. “Aquela merda não tava aqui antes de a gente dormir. Eu tenho certeza. Ele deve ter entrado no quarto enquanto dormíamos. E eu não toquei, mas aquilo era sangue.”

Não estava muito claro para Andrew onde a amiga queria chegar. Na verdade, ele até imaginava, mas a imagem de um vampiro usando um conta-gotas para tirar sangue de um humano não fazia sentido algum para ele. Andrew ia pegar o aparelho, mas Becky o puxou e voltou a digitar. 

“Tem alguma coisa errada com esse cara, Drew. Eu não confio nele. Eu mal consegui dormir. Ficava tendo pesadelos com ele, mas no pesadelo, eu era criança. Pode ser paranoia minha, mas olha só pra sua cara.” Ela abriu a câmera frontal e mostrou a tela para Andrew. Seu rosto estava abatido, com olheiras se formando. Ele estava prestes a dizer que se Kai tivesse feito algo com ele, deveria ter alguma marca em algum lugar de seu corpo, mas o vampiro entrou no cômodo.

   – Algum problema? Sua avó está bem? – Ele olhou para o celular. – Por que a selfie?

   – Não era uma selfie. Eu abri a câmera sem querer. – Becky guardou o dispositivo. – Eu só queria avisar ao Andrew que tinha colocado comida pro hamster dele, e queria, em segredo,  contar sobre eu estar com tesão no grandão que tá lá fora, mas esqueci que você tem um ouvidinho poderoso e acabaria escutando de qualquer forma.

Andrew confirmou, achando engraçada a cara que Kai havia feito com a última informação, e acrescentou para dar mais veracidade a mentira:

   – Tá na cara que ele também tá querendo você. Ele parece até seu guarda-costas.

Kai deu as costas, claramente sem interesse naquele assunto.

   – Os homens já foram embora. Precisamos conversar sobre o treinamento de vocês.

A eternidade mordeOnde histórias criam vida. Descubra agora