Inocência Arrancada

47 5 36
                                    

O mundo é como um baile de máscaras

Mascaradas, as almas estão a dançar no Baile

E os olhos apenas refletem o nosso verdadeiro abraço

O meu destino está a desmoronar

Masquerade - Versailles


Agosto, 1884


Morgana tinha que fazê-lo, mas Morgana não queria.

– Não, não, não... – Ela repetia vezes sem conta, baixinho, porque as forças faltavam-lhe para que levantasse a voz e se fizesse ouvir.

O horror estava estampado na sua face, o sangue corria nas suas veias com uma velocidade imensa, o coração batia frenético no peito ao ponto de magoar. As mãos tremiam, principalmente a sua mão direita, na qual segurava a varinha da sua mãe. O seu pai gritava ao pé da sua orelha.

– Fá-lo, Morgana! É uma ordem: mata-o!

– Eu não consigo... – Choramingou.

Os olhos, mergulhados em lágrimas, já não distinguiam mais nada diante de si. O homem ajoelhado à sua frente, trémulo e gago, não passava de um borrão no cenário, misturado na sala fria de pedra que ficava por baixo da sua casa. Ele balbuciava por misericórdia na esperança de que a inocência de Morgana fosse o suficiente para poupá-lo. No entanto, a palavra misericórdia não estava no vocabulário do pai de Morgana, Ezekiel Malfoy, e era ele quem estava no comando.

Ezekiel tinha atingido o seu limite e, num acesso de fúria, a sua mão pesada encontrou o rosto de Morgana. A bofetada ecoou pelo cómodo e a mãe, à entrada, virou a cara como se tivesse sido ela a recebê-la. Apertou a maçaneta na mão, mas de nada lhe valia. Afinal, a única que podia impedir tudo aquilo era ela e, ainda assim, escolheu ficar parada.

– A bem ou a mal vais fazê-lo, Morgana. Escolhe como preferes.

Morgana fez a sua escolha. Deitou fora a máscara de menina obediente e com ela a varinha. Ezekiel agarrou-a pelos cabelos e bofeteou-a outra vez.

– A mal, não é? Que assim seja. – Agarrou na sua própria varinha, apontou-a à cabeça de Morgana e grunhiu: – Crucio!

Morgana arregalou os olhos e da sua garganta subiu dos mais agudos gritos de dor que já tinha ouvido. Tremeu e dobrou-se pela dor. Ezekiel soltou os seus cabelos e viu-a encolher-se como um feto no chão. O sorriso largo espelhava a sua satisfação perante o sofrimento de Morgana. Prolongou o feitiço apenas para a ouvir chorar e urrar de dor; para a ver contorcer-se em agonia, quem sabe implorar pelo seu perdão.

Morgana não implorou, portanto, quando se sentiu satisfeito, interrompeu a maldição. Ela suava e tremia, puxava o ar com necessidade e arrastou-se como pôde para se afastar do seu pai.

– Mata-o, Morgana. Não vou repetir.

Não teve resposta. Agachou-se à sua frente e agarrou-a outra vez. Morgana cuspiu-lhe na cara antes que ele conseguisse dizer alguma coisa.

Crucio!

Incapaz de ver e escutar a tortura à qual Morgana estava a ser submetida, a sua mãe correu porta fora e subiu as escadas aos tropeções.

– Vais aprender a respeitar-me, sua imunda. – Rugiu Ezekiel ao ouvido de Morgana. – Vais ter que me obedecer. Aqui não há lugar para as tuas vontades. Não és ninguém.

Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)Onde histórias criam vida. Descubra agora