Confio em Ti

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A mansão Malfoy era intimidante até mesmo de longe. Os pilares grosseiros de pedra sustentavam uma comprida varanda acima da entrada, adornados com fartos arbustos. Abelhinhas voavam para lá e para cá, atarefadas, pousando de flor em flor.

A figura cambaleante não se deixou encantar pela mistura de delicadeza da natureza e a rudeza da pedra. Em vez disso, o desprazer de ali estar carregava as suas linhas de expressão, marcas de uma vida difícil gravadas na pele. Havia um especial destaque para a cicatriz no lado esquerdo do rosto e foi para ela que a atenção foi. Os olhos da menininha pararam por demasiado tempo na cicatriz ao ponto de deixar o homem desconfortável.

– Deve ser a... Morgana Malfoy?

A pequena apenas assentiu num gesto muito sútil. O rosto muito sério deu-lhe calafrios.

– Estou aqui para conversar com o senhor e a senhora...

– Aesop Sharp. Há quanto tempo. – Uma figura alta, de cabelos longos e loiros, surgiu atrás de Morgana que, na sua presença, ficou muito direita; tão direita que parecia não respirar. A mão, que até então estava na maçaneta da porta entreaberta, desprendeu-se dela, agarrou-se à saia e amassou o tecido entre os dedinhos. – Deves ter vindo buscar a minha sobrinha.

Aesop esboçou um sorriso por um incrível segundo.

– Nicholas. – Cumprimentou. – Sim, de facto. Além disso, pensei que pudesses elucidar-me sobre o motivo para o atraso. Há um ano que enviamos cartas e nunca recebemos resposta. Nenhuma.

Nicholas arqueou as sobrancelhas.

– Morgana, vai buscar as tuas coisas. – Obediente, a jovem retirou-se. – Tivemos alguns... Contratempos. A Morgana adoeceu.

– A coruja também? Porque, se não, podiam ter enviado uma carta.

Nicholas curvou os lábios num sorriso cínico.

– Tens razão. Não espero que compreendas o quão preocupados ficamos com a Morgana; tanto que não nos lembramos de... avisar.

Aesop estreitou o olhar sobre Nicholas. Havia algo de dissimulado na voz melodiosa de Nicholas.

– Não tens filhos, não tens sobrinhos... Não espero que...

– Já entendi. – Aesop interrompeu-o. Não queria se lembrar que não tinha nada. Perscrutou o olhar azul de Nicholas. – A decisão é do diretor se aceita ou não essa justificação.

– Tu não aceitas. – Era uma afirmação que soava como um desafio. Desafio esse que Aesop não estava disposto a aceitar. Não esboçou qualquer trejeito e a sua voz trazia o mais neutro dos tons, escondendo de forma impecável o quanto lhe desagradava aquela conversa com Nicholas Malfoy.

– O que eu penso, acho ou aceito não é relevante para esta situação.

Até que a pequena Morgana voltasse, Aesop e Nicholas observaram-se em silêncio. Havia uma animosidade no ar, como se assuntos ainda estivessem pendentes. No entanto, nenhum se mostrou disposto a levantar o véu. Nicholas abriu um sorriso que não chegou aos olhos, frios como uma noite de inverno.

Quando, finalmente, Morgana chegou, o professor tirou-lhe a mala pesada da mão e carregou-a.

– Tem cuidado, Morgana. – Nicholas avisou. A voz trazia uma ameaça silenciosa. Ela estremeceu em resposta, incapaz de fazer algo mais além de balançar a cabeça em concordância.

Aesop estava impaciente. Gesticulou para que Morgana o seguisse, sem se importar com despedidas.

Notou que a cada passo ela olhava para trás, inexpressiva. Aesop estudou-a de esguelha.

Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)Onde histórias criam vida. Descubra agora