Foi alívio para Morgana descer do Expresso de Hogwarts. Ter a companhia de Nerida durante a outra metade da viagem tinha sido uma boa forma de se proteger de pensamentos menos bons, de se afundar em lembranças tristes. No entanto, a conversa com ela tinha levantado outras questões, todas elas em torno de Jacob. Quais seriam os motivos dele para se envolver com Nerida? Temia que fosse usá-la para a vigiar e, de alguma forma, envolvê-la nos planos sinistros que tanto escondiam de si, ou, quem sabe, ter o mesmo destino de George Osric quando não fosse mais útil.
Fosse qual fosse o desfecho, a animação que Morgana cultivara durante o verão para voltar a Hogwarts tinha sido drenada em poucas horas. Escondia tudo por trás de sorrisos sutis para evitar qualquer questão, mas, no fundo, só sentia vontade de se encolher debaixo do lençol da sua cama e não sair mais de lá.
Era isso que pensava até estar de volta ao Salão Principal. O teto coberto de velas flutuantes estava deslumbrante como sempre. Pétalas das cores das casas ondulavam entre elas, misturavam-se como se estivessem numa dança própria. Morgana estava de tal forma hipnotizada pelos movimentos suaves das pétalas que não notou como chegou até à mesa de Slytherin. Apenas despertou quando o diretor Phineas Nigellus Black ocupou o púlpito. Ele deu duas batidas com a varinha na madeira e pigarreou sonoramente antes de começar.
– Bem-vindos... – A voz esganiçada de Black ecoou pelo salão quando todos os alunos se silenciaram. Voltou a pigarrear antes de reiniciar o discurso. – Bem-vindos a Hogwarts. Como em todos os anos, daremos início à receção aos alunos do primeiro ano.
Gesticulou para a porta do salão, onde Gladwin Moon, o zelador, estava. Ao mesmo tempo que ele abriu a porta, a professora Matilda Weasley levou para o palco atrás do púlpito um banco com o Chapéu Seletor.
– O Black é sempre tão... Como dizer... Primário, nos discursos dele – comentou Nerida, sentada ao lado de Morgana, enquanto viam a fila de alunos do primeiro ano marchar em direção à professora Weasley.
– Ele podia, simplesmente, desistir de discursar. A Weasley é muito melhor do que ele nisso – respondeu Thomas Oakley, sentado em frente a ambas. – Aliás, a Weasley podia ficar com o cargo de diretora e o Black ir para a aposentadoria. Era um favor que fazia para a comunidade bruxa.
– E perder um cargo de poder? – Nerida cruzou os braços e revirou os olhos. – Nunca faria isso, muito menos com o trabalho dele a ser feito pela Weasley. Ganha muito e chateia-se com pouco. Ele gosta de ser um bibelot.
Morgana nada disse. O seu olhar perdeu-se na mesa para lá do mar de cabeças diante de si; ele estava sobre o sério e monossilábico Aesop Sharp. Ao seu lado estava Eleazar Fig. Aesop assentia a cada comentário de Eleazar, limitando-se a dar um ou outro parecer, o que fosse estritamente necessário. Eleazar era quem tagarelava sem parar e, pelos gestos, conversavam sobre os alunos recém-chegados.
Morgana estava imersa na figura imponente que era Aesop. Mesmo num local tão distante do centro das atenções, era ele quem roubava a sua. Tanto que não notou nenhum dos acenos de Anne Sallow na sua direção.
Uma dor alojou-se no seu peito ao relembrar do ocorrido no Expresso de Hogwarts. Um leve arrependimento ameaçava borbulhar no seu ser. Tinha sido precipitada. Se tivesse esperado a hora certa, talvez Aesop não a tivesse expulsado daquela forma. Mas quando era essa hora certa?
Enxotou esse possível arrependimento para longe. Perdia mais por hesitar do que por arriscar. Na inércia não havia mudança.
– Gryffindor! – Anunciou o Chapéu Seletor. Era o primeiro aluno a ter a sua casa anunciada e a casa em questão irrompeu em urras e festejos. Todos os leões levantaram-se para receber o rapazote, tão vermelho quanto os seus cabelos. Garreth foi rápido a acolhê-lo no espaço vago ao seu lado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)
FanfictionA vida é como um baile de máscaras. Escondemos quem somos, o que somos. Dançamos ao som da música: por vezes a nossa, por vezes a dos outros. Nesta dança, Morgana Malfoy descobre que não só ela, mas também todos à sua volta vestem uma máscara para e...