Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)

Serás Prisioneira Dele Para Sempre

Era sábado. Deveria estar animada, mas Morgana não conseguia sentir nada fluir nas suas veias além do sangue, lento e cansado. Talvez o sol partilhasse do mesmo espírito, dada a demora para amanhecer com todo o seu esplendor.

Parando para observar, Morgana apercebeu-se de como as árvores estavam diferentes. As folhas estavam a ficar alaranjadas; algumas já estavam secas prematuramente e caídas na base do tronco. Faltava pouco para o outono, constatou no meio dos tumultuosos pensamentos. O vento ainda soprava com a mesma suavidade do verão, embora com um hálito mais próximo do inverno.

Em Hogsmeade, as lojas estavam a abrir e o expositor do Profeta Diário estava a ser montado. As poucas pessoas que percorriam as ruas eram os locais, sendo Morgana a única visitante. Poderia dizer que tinha acordado cedo, mas para isso tinha de ter dormido. Ser atormentada por pesadelos, ou visões – não sabia mais distinguir –, faziam-na despertar constantemente. Era mais desgastante do que virar a noite acordada. A Visão não respondia ao seu chamado consciente – sem a ajuda de Mudiwa Onai –, mas vinha com força assim que fechava os olhos e deixava-se abraçar pela leveza do sono. Batalhas desenrolaram-se diante dos seus olhos sem poder distinguir o rosto de ninguém. Feridos e acamados preenchiam todas as salas para as quais tentava correr em busca de um cantinho seguro para se esconder do terror que a assolava. Era uma experiência completamente diferente da visão do Expresso, onde conseguiu navegar nela de forma consciente. Quando sob o efeito do sono, Morgana agia por instinto – e o seu instinto sempre a mandava fugir.

Morgana encolheu-se no seu casaco para espantar o frio. Estava à porta da Trapobelo quando Augustus Hill abriu a loja. Ele cantarolava baixinho enquanto corria as cortinas das montras e destrancava a porta.

– Oh, senhora Malfoy! Por aqui tão cedo?

– Perdi o sono – mentiu.

– Veio para buscar o casaco e... A encomenda especial, não é verdade? – Hill não escondeu a sua animação. Até mesmo o seu bigode sorriu. – Eu compreendo. Também fico ansioso para ver as minhas roupas ganharem forma!

Morgana só assentiu com um gesto quase impercetível da cabeça. Entre as duas encomendas, não podia negar que o casaco era a que mais a entusiasmava. Duvidava que fosse dar o destinado uso a qualquer que fosse a roupa interior que Hill tinha preparado para si. O casaco era outra história. Os planos para ele eram imensos e a verdadeira batalha era escolher qual deles o melhor.

Hill segurou a porta para que Morgana entrasse e tomou o seu pulso com cuidado.

– Otto, não se importa de ficar na receção por alguns minutos? Vou estar na sala de costura, caso precise.

– Claro, senhor Hill! – A voz veio do lado direito. Morgana encontrou um homem alto, de cabelos loiros. Eram tão claros que parecia vestir a prata da lua. Ele organizava os ternos por cores nos expositores, tão concentrado que não se deu ao trabalho de olhar para Hill.

O lojista não se mostrou incomodado. Dobrou para a porta atrás do balcão com o mesmo entusiasmo com que uma criança entraria na Dedos-de-Mel. Ela levava para um minúsculo vestíbulo com espaço apenas para duas pessoas – como Morgana e Hill eram pequenos, caberia outra como eles. Havia uma porta para o exterior e escadas para o andar superior.

Morgana ficou embasbacada com a sala no topo da escadaria. Estava banhada no dourado da manhã, dando um tom alaranjado às madeiras do chão e das paredes. Um expositor preenchia a parede oposta às janelas, a mais longa de todas. Duas máquinas de costura trabalhavam no centro da sala, uma terminava um terno e a outra fazia as mangas do que viria a ser um vestido. Por fim, uma secretária cheia de papéis mostrava o trabalho de Augustus Hill: inúmeros designs de todo o tipo de roupas de festa, roupas íntimas, roupas casuais, acessórios como chapéus e cachecóis. Um montinho solitário no canto da mesa parecia conter esquemas para joelharia.