Amarelinha,
Mais do que nunca, sinto a tua falta. Não aguento mais ouvir as discussões da Anne e do Sebastian, que acabam sempre com um Solomon vermelho de raiva. Não sei como o coração do pobre homem aguenta. Acho que não preciso de dizer os motivos.
Espero que estejas bem.
O Senhor Ominis Gaunt.
PS: A Anne está há cinco dias ou mais a escrever-te. Já vai em dez páginas. Até que a recebas, deve duplicar. Arranja umas horinhas na tua agenda para ler.
O apelido apanhou Morgana desprevenida. Revirou os olhos ao lembrar-se da sua origem, o que não impediu de um calor acolhedor a abraçar. Também sentia a falta de Ominis e não tardou para que escrevesse isso mesmo numa carta para ele, acrescentando que estava a usar o seu precioso tempo para estudar. Era uma meia verdade.
Entregou a carta para a coruja e coçou as suas penas escuras antes de deixá-la sair.
– Pelo menos ela não vai voltar de patas vazias.
Como se compreendesse, a sua coruja encolheu-se, os olhos semicerraram-se no que parecia ser uma birra. Não era culpa dela se Aesop não quisera responder.
– Pelo menos ele leu?
A coruja não fez qualquer som. Levantou uma asa e ali escondeu o rosto. Morgana desistiu e recostou-se no espaldar da cadeira. A madeira chiou com o peso.
– Está bem. Uma música como pedido de desculpas?
A coruja sacudiu as penas e deu-lhe as costas. Porém, estar de costas para si era estar de frente para o piano. Com ânimo renovado, Morgana saltitou para ele e posicionou os dedos sobre as primeiras notas da música que Jacob lhe oferecera.
Depois de tanto tocá-la já sabia de cor. No entanto, tinha a partitura aberta à sua frente para seguir a letra. Cantou-a baixinho, como se fosse um segredo. A coruja mexeu-se no poleiro e, pelo canto do olho, Morgana viu os grandes olhos amarelos fixos em si. Sorriu e continuou.
As palavras de Jacob voltaram à sua mente: a história do rei Arthur e a sua irmã Morgaine. Agora que Cordelia estava de volta, era hora de saber a verdade sobre eles e, consequentemente, sobre as intenções de Jacob. Porém, para seu azar, Cordelia nunca estava sozinha.
O baile seria ali mesmo na mansão Malfoy e Jacob mantinha Cordelia ocupada com a organização dos quartos, especialmente o quarto de Victor Rookwood. Seria estrategicamente a seguir aos aposentos de Ezekiel, do lado oposto do seu. Seria bom, pensou Morgana, não se cruzar com eles com frequência. No entanto, achava intrigante ser dessa forma, especialmente depois de ver o comportamento do seu pai na presença do Victor. Mais intrigante ainda era estar mais próximo do que o da própria esposa. Há alguns anos que Cordelia e Ezekiel ocupavam quartos em lados opostos da casa.
– E ele falou em traição... – Murmurou Morgana para o nada.
Revirava nas suas memórias tudo o que acontecera ali em casa que remetesse a uma traição. Não havia nada. Cordelia fazia tudo o que Ezekiel lhe pedia, mesmo que implicasse passar por cima dos próprios filhos.
Debater-se com os seus pensamentos não traria respostas; não com a falta de informações que enfrentava. Por isso, levantou-se e foi atrás delas. Com todos ocupados, quem daria pelo seu paradeiro no quarto de Cordelia? Foi para lá que se dirigiu, já que a biblioteca estava fora de questão enquanto Ezekiel estivesse lá.
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Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)
FanficA vida é como um baile de máscaras. Escondemos quem somos, o que somos. Dançamos ao som da música: por vezes a nossa, por vezes a dos outros. Nesta dança, Morgana Malfoy descobre que não só ela, mas também todos à sua volta vestem uma máscara para e...