Se Está Tudo Bem, Porque Pareces Tão Triste?

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Poppy recuou. O seu braço tremia descontroladamente, apesar de já estar insensível às dores lancinantes que antes o afligiam, como se não estivesse mais conectado ao seu corpo.

Contornou para a colina onde o acampamento estava localizado, na esperança de conseguir encontrar Dorran e ajudá-lo — embora, no seu estado, fosse Poppy quem precisava de ajuda. Ao chegar lá, o seu coração apertou-se de horror. Encontrou o acampamento devastado, onde centauros jaziam caídos, vítimas de uma variedade de ferimentos que desafiavam a sua imaginação.

— Dorran...

A sua prioridade foi procurá-lo. Saltou por cima de centauros de pelo queimado, com a pele pendurada, alguns sem olhos, outros sem dentes. Até que, enfim, encontrou-o e, para sua angústia, estava ainda pior do que ela. Dorran estava encostado a uma árvore, coberto de sangue e respirava com dificuldade. Uma mão apertava o ombro oposto com força.

Dorran ondulou na visão de Poppy, pelo que só conseguiu estudar o seu estado quando estava a um passo dele. Tinha perdido um braço, o qual estava a meia dúzia de passos de distância.

Poppy ajoelhou-se e estendeu a mão boa para pousar sobre a dele. Não fez qualquer pressão; apenas queria senti-lo. Estava quente e vivo. Apesar das circunstâncias, um suspiro de alívio escapou.

— Disse-te para ires embora — murmurou num tom fraco, quase inaudível.

— Sabes bem que não podia deixar-vos. — Poppy mordiscou o lábio inferior antes de acrescentar num sussurro: — Não podia deixar-te.

Afastou-se para tatear as suas roupas em busca de algo que pudesse ajudá-lo.

Dorran levantou uma pálpebra, o suficiente para ver Poppy através dos cílios. Não a distinguiu nitidamente, mas era o suficiente para ter a certeza de que estava inteira. Desceu a atenção para o braço despido. Notou a vermelhidão da pele, embora não conseguisse saber se era sangue dela ou de terceiros. Preferiu acreditar na segunda hipótese.

— Vai. Eles afastaram-se e não devem voltar. Não conseguiram encontrar o mapa dos snidgets.

— Se a ideia é tranquilizar-me, não está a dar resultado, Dorran.

Poppy estendeu uma mão trémula para o centauro com um frasco de poção já aberto.

— Não sei se vai funcionar, mas...

— Usa-o em ti. Estás ferida, não estás?

Esperava que ela fosse negar de imediato, que fosse dizer que o vermelho no seu braço era qualquer outra coisa que não fosse o sangue dela. Todavia, Poppy deitou um olhar temeroso sobre a pele em carne viva, a qual parecia derreter como cera de vela, encolher como plástico no fogo. Um soluço agoniado escapou antes de Poppy poder travá-lo.

Uma onda de cólera assolou-a. O cheiro de queimado e de sangue provocou-lhe náuseas. Não podia fechar os olhos, nem mesmo por instantes, pois a imagem de Dorran ferido vinha para assombrá-la. Poppy virou a Wiggenweld de uma vez — por pouco se engasgara. Pegou no arco de Dorran, ainda na posse do membro cortado, recolheu uma flecha e marchou para a orla do acampamento, onde uma rocha inclinava-se em direção ao céu. Posicionou-se no topo de forma a ter uma visão total da trilha que levava para o exterior da Floresta Proibida.

Exatamente como esperava, Victor Rookwood e o seu peão — que até então desconhecia ser Morgana — passavam ali naquele momento. Não era típico seu, mas quem pensaria racionalmente quando via tamanha crueldade? Vingança era o que cada célula do seu corpo demandava. Queria que Victor e os seus homens pagassem pelo que tinham feito.

Poppy posicionou o arco e a flecha e inspirou fundo. Por um instante, mergulhou num estado de calma. O mundo ao redor pareceu desaparecer. Não ouviu nem sentiu nada, nem mesmo o vento.

Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)Onde histórias criam vida. Descubra agora