Não o Faz Ser Menos Homem

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Um trovão rugiu, distante, na noite. O choro de criança preencheu o quarto imerso na penumbra. Da janela vinham os clarões, raios cortavam o céu como se ele batalhasse com a terra. Uma batalha feroz com dois pares de olhos a assistir.

A criança segurou os cabelos longos e pretos da mãe e usou-os para esconder o seu rostinho redondo e molhado pelas lágrimas.

– Minha adorada Morgana.

A mãe embalou a sua pequena, apertou-a nos seus braços e alisou os cabelinhos curtos. Ainda assim, a criança continuou a chorar.

– Eu sei, meu amor, eu sei... Perdoa-me. Perdoa-me por te trazer para este mundo.

Cordelia também chorou, em silêncio. Deixou um demorado beijo no alto da cabeça da menina.

– És a única que pode por um fim em tudo isto... – Depois deste último sussurro, Cordelia cantou baixinho perto da orelha da pequena Morgana.


Voe sobre a terra

Como uma águia, como uma águia

Brilhe sobre a terra

Como fogo, como fogo

Кометы - polnalyubvi


Tu, cuida do pássaro na tua alma. Não o deixes quebrar.

Morgana abriu os olhos para o fundo do Lago Negro, o seu canto baixo ecoou suavemente contra o vidro. As plantas aquáticas erguiam-se do fundo, da terra, como se fossem línguas. Serpenteavam e lambiam os pequenos peixes que navegavam as águas turvas. A luz fosca da lua era um borrão entre elas, como se fosse uma mancha no vidro.

– Ah, é aqui que tu estás.

Não precisou de olhar para saber que era Anne.

Depois de meia dúzia de passos, a amiga alcançou-a e estendeu algo para Morgana. Era a sua varinha. Tinha-se esquecido de pedi-la ao professor Sharp antes de voltar.

Pegou nela e girou-a nos dedos.

– O que aconteceu? O professor Sharp estava com uma péssima cara, o meu irmão não estava muito melhor, e tu não apareceste para jantar.

Anne sentou-se à sua frente na pequeníssima saliência de pedra onde terminava a alta janela. Protestou baixinho pelo frio, mas depressa deixou de senti-lo.

– Devias perguntar ao teu irmão.

– Para saber que foi ele que fez asneira? Isso eu já sei. – Anne revirou os olhos e recostou as costas no vidro. – Ele vai dar a versão dele, dizer que tem razão e fica por aí. Quero saber o verdadeiro motivo para bater-lhe na proporção certa.

Morgana respirou fundo e levantou o olhar de volta para o lago. A luz da lua e o reflexo do lago banharam-lhe a face em tons de azul e prata.

– O teu irmão estava decidido a querer roubar-me um beijo na detenção. Muito decidido. – Enfatizou as duas últimas palavras. A recordação apoderou-se da sua mente, a aflição fê-la encolher-se. Apertou os lábios numa fina linha.

– Oh, ele não desiste...

Anne levantou-se num pulo e já marchava de volta para a escadaria quando Morgana a interrompeu, continuando o seu relato.

– Isso foi o que me aborreceu, não ao Sebastian. Eu disse-lhe... Que os vossos pais teriam vergonha dele.

Morgana pôs-se de pé. Anne virou-se muito devagar para olhar para ela.

Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)Onde histórias criam vida. Descubra agora