As suas pernas ardiam; o esforço fez os músculos enrijecerem-se e pesarem o dobro. Parecia que não queriam acompanhar por mais que na sua cabeça gritasse «Corre!». Os galhos das árvores eram severos e cortavam-lhe a pele do rosto, dos braços, das pernas. Saltou por cima das raízes – por pouco não tropeçava em algumas –, impulsionou-se nos troncos grossos quando precisou de mudar a rota. Apesar da densidade da floresta, os passos continuavam a segui-la de perto e não pareciam abrandar nunca.
– Morgana! – Ouviu o seu nome, mas não parou. Pelo contrário, levou o seu corpo ao limite para ganhar distância.
Parecia que estava diante da sua janela partida, o vento contra o seu rosto com o cheiro da liberdade tão perto, a um pulo de distância. Tão depressa estava ali como lhe foi tirada. E esse pesadelo repetia-se. Um cava-charco saltou na sua direção quando tentava atravessar o riacho para o outro lado. Gritou e atirou-se para o chão. Rolou na lama e rastejou para um lugar mais alto.
– Confringo!
A chama voou em direção ao animal. Com um grunhido, ele afastou-se e deixou livre o caminho até Morgana.
– Não, não, não...
Morgana tremia muito, os olhos esbugalhados estavam presos na figura alta e de vestes negras. Os longos cabelos loiros esvoaçavam ao sabor do vento. A cicatriz onde antes estava o seu olho esquerdo ficou destapada, tornando a seriedade do homem ainda mais assustadora. A mão grande voou até aos seus cabelos pretos e agarrou-os com força.
– A criança já acabou de brincar? O titio está cansado de correr.
Morgana rodeou-lhe o pulso com as duas mãos, embora sem forças para afastá-lo. Sem esperar uma resposta, o homem bateu a têmpora de Morgana contra o chão.
A visão ficou turva. As luzes não passavam de grandes círculos turvos repletos de mosquitos inquietos. Apesar de desfocado, conseguiu distinguir a curva de um sorriso no rosto aguçado de Nicholas Malfoy.
– Boa noite, docinho.
Morgana abriu os olhos e fitou a grande janela do seu quarto, aberta, por onde a brisa de verão entrava. O sopro acariciou os seus cabelos e balançou o seu vestido preto. Pôs um pé no parapeito. O salto médio do sapato soou como uma batida de uma faca na madeira. Depois, pôs o outro pé e estendeu as mãos para buscar apoio na estrutura da janela. Respirou fundo. Saboreou o ar do exterior, uma mistura doce das flores de campo com o amargo do chão relvado.
O seu quarto ficava no segundo andar, a uma distância considerável do chão. No entanto, as paredes eram cercadas por arbustos farfalhudos e de ramos suficientemente resistentes para aguentar com o seu peso. Era fim de Julho, a um dia de Agosto, e nenhum sinal dos seus pais. Se saísse agora, Jacob não ficaria a saber.
– O que estás a fazer?
A voz anasalada assustou-a e todo o seu corpo enrijeceu. Olhou para o lado e viu a cabeça de Jacob a espreitar pela janela. Um cigarro aceso descansava entre os dedos. A fina linha de fumo serpenteou ao lado do rosto dele, para se tornar invisível quando expirou uma nuvem acinzentada. O cheiro veio na sua direção e Morgana fez uma careta.
– Pensei ter visto uma aranha aqui no topo da janela. Não estou interessada em ter a visita dela à noite, por isso vinha tratar-lhe da saúde.
Jacob riu e levou o cigarro à boca.
– Se eu não te conhecesse, minha irmã...
Morgana não disse nada. Observou-o. Os olhos azuis estavam num tom tão pálido que quase se perdia no branco; e o mesmo acontecia com o seu cabelo loiro.
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Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)
FanficA vida é como um baile de máscaras. Escondemos quem somos, o que somos. Dançamos ao som da música: por vezes a nossa, por vezes a dos outros. Nesta dança, Morgana Malfoy descobre que não só ela, mas também todos à sua volta vestem uma máscara para e...