Continuação - 3

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ARAÇATUBA - 6 MESES ATRÁS

Em um dia de folga para os missionários, estavam Soares e Gomes em casa, após escreverem cartas para a família, fazerem faxina e lavarem a roupa suja da semana. Soares, procurando goiabas no quintal, e Gomes, na área de serviços, deitado de costas no chão de cerâmica para aplacar o calor.

- Gomes, tem alguém te esperando em casa? - disse Soares enquanto subia na goiabeira.

- É o quê, rapaz? - ele abriu o olho esquerdo.

- Tem ou não tem? - insistiu.

- Tem o quê, Soares? - fechou o olho novamente.

- Tem alguém te esperando quando voltar da missão? - achou uma goiaba grande.

- Rapaz... Olha só, tenho não - disse o baiano com seu sotaque característico.

- Mas você é todo simpático, todo oba-oba, achei que tinha um monte de moça te esperando lá no Pelourinho - falou enquanto mastigava.

- Soares, vou lhe dizer uma coisa - sentou. - Quando eu decidi ser um missionário, quando eu decidi isso pra minha vida, não pensei em nada que tirasse o meu foco. Em nada, viu?

- Nossa, Gomes, que papo sério! Tô só querendo descontrair - deu uma risada.

- Pois olhe, primeiro que eu não moro no Pelourinho - sorriu largamente - e segundo, tinha, sim, uma moça querendo me esperar. Era uma moça bacana, mas terminamos. Nem tínhamos muito tempo de namoro. Mas foi decisão minha, só minha, de ficar 100% focado nesse momento da minha vida. Porque esse momento, Soares... Esse momento não vai voltar.

- Mas e se ela fosse a mulher da sua vida? Por que não pediu pra ela esperar? - desceu da goiabeira num pulo.

- Oxe, porque eu quis focar só na missão, já não disse?

- Pois eu queria ter alguém me esperando. Fico pensando que, nesses dois anos fora, posso ter perdido a oportunidade de conhecer alguém realmente especial.

- Mas quando for pra ser a mulher da sua vida, Soares, tu acha que vai chegar atrasado, é? Ela não vai esperar, não, tu vai chegar na hora certa!

BELO HORIZONTE - HOJE

- Já passa das dezoito horas, vamos? - Alice falou enquanto fechava as gavetas da sua escrivaninha.

- Vamos, claro... - seu coração deu uma leve acelerada.

- Pois bem, quer passar em algum lugar e comer primeiro?

- Infelizmente não, minha mãe marcou às 20h00 com a Flávia e é sempre bom chegar no horário...

- Tá bom, então, guarda suas coisas que eu te espero no corredor.

Quando Rafael saiu da sala, viu Alice de pé, bebendo um copo de água. Calça social e tailleur pretos, blusa branca e um par de sapatos tipo scarpin que a faziam ficar da altura dele. Deixou-se admirá-la por uns segundos e seguiu andando.

- Vamos, senhorita?

- Pois não, cavalheiro - deram um sorriso percebendo certo clima no ar.

Chegando ao carro, Rafael sentiu-se um pouco sem graça por estar sendo levado de carona - o que concluiu ser orgulho masculino ferido - mas prometeu a si mesmo que iria estudar muito e, um dia, iria chegar onde queria. Aí, quem sabe, levaria Alice para um passeio.

Quando o Amor Acontece: A ProcuraOnde histórias criam vida. Descubra agora