Continuação - 4

301 28 6
                                    

ARAÇATUBA - 7 MESES ATRÁS

Desde às nove horas da manhã que os missionários e membros da igreja faziam um serviço voluntário de limpeza naquela praça. Era o feriado de 12 de outubro e o tempo estava nublado.

"Faze o bem, faze o bem e a verdade vencerá! Faze o bem, faze o bem e Deus as bênçãos te dará" – cantava Gomes enquanto limpava o canteiro de plantas, na praça central de Araçatuba. Ficou horas apenas nesse refrão, que ele repetia seguidamente.

Bá! Mas alguém deu corda no Gomes hoje? – perguntou Pires, um gaúcho de olhos bem azuis. – Mas ele hoje tá que tá! Soares, como tu aguentas?

– Pires, são nove horas da manhã, quando for lá pelas onze, ele para – respondeu Soares. – Vá por mim!

Faze o bem, Soares, faze o bem – e lá ia Gomes com um carrinho de mão cheio de mato e pedras, cantando. – E a verdade vencerá! Fazem o bem, Pires, faze o bem...

– Soares – chamou um irmão que se apoiava numa muleta –, pode me ajudar a por esse mato no carrinho de mão?

Irmão Arlindo tinha passado horas sentado no chão, se arrastando com uma perna só, de um lado para outro arrancando ervas daninhas dos canteiros. Tinha perdido a outra perna num acidente que quase custou-lhe a vida. Ao fim daquela manhã, estava cansado e com a bermuda suja de terra.

– Claro, irmão! Já estou indo.

Após ajudá-lo, Soares secou a testa com um lenço, sentou-se num banco de cimento e comentou:

– Irmão Arlindo, muito obrigado por sua ajuda. Apesar de tantos irmãos terem comparecido, o senhor veio e nos ajudou, mesmo sem precisar ter vindo...

– Ora, como eu não viria? – disse o homem se apoiando para levantar com a ajuda do missionário. – Os projetos de serviço são feitos para servir! Veja! Só tenho um pé, mas mãos, eu tenho duas! – e abriu os braços se equilibrando na única perna.

BELO HORIZONTE - HOJE

Depois de passar o dia inteiro fora, Flávia tinha ido ao shopping para se encontrar com Denise, mãe de Rafael. Como sempre, chegou cedo. Aproveitou para ler um livro que tinha na bolsa e colocou os fones de ouvido para escutar sua playlist preferida. Depois de um tempo, mergulhou de corpo e alma na estória e nem percebeu as horas. De repente, ouviu alguém chamar seu nome. Tirou os fones do ouvido e – uau – era um rapaz! Tinha um dos sorrisos mais lindos que já vira e uma pinta perto da boca, um charme que era uma graça. Usava roupa social e isso atraía qualquer garota de bom gosto. O corte de cabelo curtinho dava-lhe um ar de homem mais maduro. Era encantador o modo como ele parecia tentar se acostumar com o novo visual, o que fez Flávia se lembrar do quanto estava atrapalhada. Ela passou as mãos pela cabeça tentando, inutilmente, achar as presilhas que estavam em algum lugar entre os seus cabelos.

Conversaram por alguns minutos e acabaram descobrindo que pertenciam à mesma religião. Flávia reparou na marca de sol no pescoço, perto do colarinho da camisa e logo soube que era um missionário retornado. Quando tudo parecia perfeito, chega "a coisa": uma moça até bonita, tinha que admitir, mas tão falsa quanto a bolsa Prada que ela usava a tiracolo. Tinha um olhar de desdém para a Flávia; com toda certeza a garota se sentia superior.

A tal Alice nem fingiu gentileza. Para provocar, Flávia brincou com o Rafael sobre algo que só os dois entenderiam, por terem as mesmas crenças. Alice nitidamente não gostou. Rafael percebeu o clima e foi estranho. Ele ainda tentou amenizar as coisas, chamando Flávia para se juntar a eles, na praça de alimentação. Claro que ela recusou. Rapazes, às vezes, são tão sem noção!

Quando o Amor Acontece: A ProcuraOnde histórias criam vida. Descubra agora