Flávia chegou em casa esperando encontrar a família toda. Gustavo a deixou na porta, como prometeu. Ela foi até a janela da sala e observou-o ligar o carro novamente para ir embora. Ainda sentia o beijo que recebera dele no rosto. Ele havia prolongado o gesto, talvez esperando que ela se virasse e algo mais acontecesse. Em vez disso, ela fugiu. Saiu apressadamente do carro, dizendo um "obrigada" e nem olhou para trás. Não sabia se seria forte o bastante se continuasse tão perto dele. Por que não o beijara? Ele era seu professor. Apesar de não lecionar nenhuma aula para sua turma esse semestre, ainda sim, não sabia que implicações um beijo teria no emprego dele e na vida acadêmica dela.
Ele era seis anos mais velho, mas nem era pela idade. Flávia sabia que ele devia ser um homem experiente e ela, definitivamente, não era. O tipo de relacionamento que ela permitiria, seria suficiente para um homem como ele? Ou talvez ele só quisesse um beijo e nada mais? Sua cabeça estava a mil, quando ela percebeu algum movimento na casa. Deixou a bolsa em cima do sofá e atravessou a copa, vendo que a luz da cozinha estava acesa. Sua mãe estava distraída, lendo um livro enquanto alguma coisa estava estalando na panela.
– Oi, mãe! Está cozinhando alguma coisa? – Flávia alertou.
Assustada, Sônia correu para apagar o fogo. Sua mãe sempre fazia isso. Assim como Flávia, era apaixonada por livros e quando se concentrava na leitura, era um perigo. Arroz sapecado era a especialidade da casa! Todos da família até se acostumaram.
– Obrigada, filha! Quase queimei o arroz de novo! – a mãe agradeceu e depois olhou para o relógio que estava pendurado na parede da cozinha. – Demorou pra chegar! O que houve? Era muito longe o lugar onde foi fazer a entrevista?
– Mais ou menos – respondeu sem dar mais detalhes. – Cadê papai e Felipe?
– Ah! Foram comprar um pouco de churrasco na rua de cima. O estômago daqueles dois não tem fundo! Fiz um arroz e preparei uma saladinha pra acompanhar. Você deve estar morrendo de fome, né?
– Não. Comi alguma coisa na rua – ela se sentou em um dos bancos que ficavam perto do balcão da cozinha. – Mãe... Você já me contou como você e papai se conheceram, mas como você soube que o papai era "o cara"? Sabe? Aquele que daria certo?
Sônia tampou a panela do arroz novamente e de imediato não falou nada. Porém, depois de um momento, se sentou em outro banco, ao lado da filha.
– Não sei ao certo como te explicar filha, só sei que eu tinha um desejo enorme de fazê-lo feliz! Sentia pelo jeito dele, como me tratava... Veja bem, sabia que não era perfeito, mas ele tinha algo. Pode parecer piegas o que eu vou dizer, mas ele tinha meu coração! Simples assim. Eu só sabia que queria amá-lo. E quando a gente está determinada a amar alguém, tudo fica mais fácil, porque você ama incondicionalmente. Quanto a "dar certo", estamos empenhados nisso até hoje. Não é uma escolha feita só uma vez, escolhemos estar juntos a cada dia. Nada é de graça, meu coração! Nos contos de fada que conhecemos, só lemos a parte "e viveram felizes para sempre", mas não há relatos do dia a dia do casal. Não contam como a princesa se sentiu gorda depois do segundo filho, enquanto suas amigas desfilavam pelos bailes reais com suas silhuetas perfeitas. Nem quando o príncipe teve que rejeitar vários convites para caçar com os amigos, para poder brincar com seus filhos e dar atenção à sua esposa. Nem quando os pais, reis e rainhas, discordavam entre si sobre o governo de seus filhos ou como eles criavam os netos. Entende?
Flávia fez que "sim" com a cabeça. Desejava viver um amor assim: simples, forte e verdadeiro. Sabia o quanto seu pai amava a sua mãe. Cresceu vendo sua cordialidade, carinho e preocupação com seu bem-estar. Viviam se falando ao telefone durante o dia. Pareciam dois namorados, tirando aquela parte ridícula do "você desliga primeiro", "não, você desliga"... Afinal, eles já eram maduros e bem crescidinhos. Sempre admirou a amizade que tinham. Ambos se interessavam pela vida do outro.
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Quando o Amor Acontece: A Procura
Любовные романыFlávia acha um celular perdido e decide devolvê-lo, mas não imaginava que o dono do telefone fosse despertar tanto o seu interesse. Rafael era encantador e, pelo que ela percebeu, também se interessou por ela. Para completar, o melhor amigo dele se...