Fim do Volume 1

80 15 0
                                    


Após o check-out na pousada, as amigas apareceram com as malas. Dava para notar que o olhar de Marina tinha menos brilho aquela manhã. Até o jeito de sorrir era menos feliz, mas Flávia sabia que tão breve a amiga seria a criaturinha mais feliz da Terra! Era só o momento da despedida. Sentiu um gelo correr pelas costas quando pensou no que aconteceria à amizade delas. Como seria depois que Marina casasse e se mudasse para Salvador? Engoliu seco e entrou no carro, sentando-se ao lado de Rafael, que ligava para a mãe e lembrava-lhe o horário de sua chegada. Flávia fez o mesmo com sua família, acrescentando que Sônia avisasse à mãe de Marina, já que o celular da amiga estava descarregado.

Rafael olhava o mar enquanto o carro seguia pela avenida, tentando capturar a imagem perfeita que levaria na memória. Não conversaram muito, apenas um ou outro comentário sobre o dia ou sobre o voo em si.

Chegaram ao aeroporto e após o check-in, Rafael tratou de levar Flávia para uma livraria deixando Marina a sós com o noivo. Aquele momento não estava sendo fácil para eles e a despedida tinha até mudado o semblante de Maurício. Enquanto folheavam revistas e olhavam alguns livros, Rafael sorriu para Flávia.

– O quê? – ela sorriu de volta. – Tem alguma coisa no meu rosto?

Ele meneou a cabeça e continuou sorrindo.

– Gostou da viagem? – ele falou, com uma revista aberta em mãos.

– Adorei – ela corou, mas manteve o olhar.

– Você sabe que temos muito o que conversar, não sabe?

– Temos? – franziu a testa, divertida.

Ele fechou a revista e arregalou os olhos.

– Sinto muito, mas você não é boa atriz – disse ainda encarando-a. – Canta bem, mas atua como vilã de filme mexicano...

Ela abriu a boca semicerrando os olhos, fingindo estar ofendida. Riu antes que pudesse convencer alguém.

– Não falei? – ele sorriu.

– Você quer conversar, então?

– Não queremos?

– Hm. Queremos? – provocou.

– Dona Flávia Campos não-sei-seu-outro-sobrenome, nós temos que conversar. E não me venha com churumelas!

Ela sorriu largamente, sentindo o rosto corar novamente. Como era capaz de corar tantas vezes? Se Marina estivesse ali, sentenciaria o famoso está caidinha por ele. Mas estava mesmo. E que bom que estava! Passeou mais um pouco pelos livros enquanto ele comprava uma revista. Ficou o observando, sem ser notada. Algumas garotas passaram e olharam para ele, comentando alguma coisa. Sentiu um ciúme besta e riu de si mesma. Ouviu a chamada para o voo e retornaram para encontrar Marina, que tinha os olhos vermelhos de tanto chorar. Maurício a consolava, se esforçando para não chorar junto.

Seguiram para a sessão de embarque e o coração de Rafael apertou. Odiava despedidas desde sempre e aquela não seria diferente. Abraçou o amigo já com os olhos úmidos, com promessa de retornar brevemente.

Maurício, pela primeira vez, não sabia o que dizer. O sentimento era maior do que qualquer coisa que pudesse falar. Sabia que o momento de se separar da noiva chegaria rápido, mas não estava preparado. Nunca estaria! Marina compartilhava do silêncio, reprimindo o choro. Ela se achava ridícula quando chorava. Temia a distância que se instalaria de novo entre eles.

– Se... – ela começou, tentando não desabar.

– "Se" nada! – Maurício disse, segurando o rosto dela entre suas mãos. – É certeza, morena! É pra sempre! É contigo! Eu te amo, Marina Futura Gomes! – fez graça, arrancando um sorriso meio choroso dela.

– Eu te amo demais... Não queria ir embora – ela respondeu, recebendo um abraço apertado do noivo. – Não demore a me visitar. Afinal, eu aceitei seu pedido, mas tem que enfrentar meus pais! – tentou parecer descontraída.

Oxe! Acha que eu sou cabra mole? – disse apertando mais o abraço. – Não consigo mais ficar longe de você, minha rainha! Pode ter certeza que, quando menos esperar, apareço por lá! – prometeu dando um beijo na testa da moça. E permaneceram assim, juntinhos, por algum tempo.

Rafael sabia que o amigo se esforçava para não deixar a noiva mais triste do que já estava, mas que o grande coração de Maurício estava miúdo dentro do peito. Acontece que pessoas muito expansivas guardam corações imensos, mas um tanto frágeis. Maurício era assim.

Ao caminharem para o embarque, Rafael trocou um olhar empático com ele e disse, só para que ele escutasse: eu vou cuidar dela. Maurício sorriu e pôs a mão aberta no peito, em sinal de agradecimento. Rafael então passou o braço por cima dos ombros de Flávia e de Marina e guiou-as até o portão de embarque.

Quando entraram no avião, Rafael sentou-se próximo à janela, pois Flávia queria ficar perto de Marina e essa, por sua vez, preferia uma injeção a ter que visualizar a altitude a que chegariam.

Então Flávia ficou bem no meio, entre feliz e triste: feliz do lado esquerdo, por causa de Rafael, e triste do lado direito, por causa de Marina. Ok, triste, mas nem tanto. Levando em consideração que as lágrimas da amiga eram apenas de saudade, era uma tristeza boa. Porque saudade a gente pode matar. A única coisa pela qual ficamos felizes quando morre é a saudade, foi o que Flávia pensou. Enquanto o avião não decolava, ela e Marina conversavam, enquanto Rafael folheava a revista da companhia aérea. Ele leu uma matéria sobre Belo Horizonte, por coincidência.

Encostou a cabeça, reclinando o banco, e ficou recapitulando a sua vida até aquele momento. Coisas de Rafael. Pensou em um mineiro, que tinha saído de Belo Horizonte e um baiano, que tinha saído de Salvador, para irem a São Paulo. E fizeram missão juntos, tornando-se melhores amigos. E ele perdeu o celular, mas achou Flávia. E Flávia trouxe Marina e Marina conheceu Maurício. E quem é Maurício? O baiano que o mineiro conheceu em São Paulo.

– Devo dizer, senhoritas, que esse mundo é muito pequeno – voltava o encosto para a posição inicial, pois já estavam para decolar.

– Por que diz isso? – Flávia falou enquanto arrumava o cinto de segurança.

– Marina, você deu uma visão totalmente nova à minha missão.

– E a gente ainda nem está na altitude... – ela secou o nariz com um lenço. – O menino já está delirando.

– Estou falando sério, sô! – Rafael se inclinou para ela. – Veja só: se eu não tivesse saído em missão, você não teria um noivo! – piscou um olho e fez um barulhinho com a boca.

– Hm. Faz sentido. Devo escrever um cartão de agradecimento? – o avião começava a se mexer e ela fechou os olhos apertando os braços da cadeira. Flávia segurou sua mão.

– Deve – ele foi enfático. – E deve me convidar para passar as férias todo ano com vocês também.

– Só se a Flavinha for junto – abriu apenas um dos olhos. – Combinado, cara pálida?

Rafael e Flávia sorriram um para o outro e ele respondeu:

– Combinado!

Quando o avião finalmente alcançou as nuvens, Flávia continuou segurando a mão da amiga que, de tanto chorar, resolveu apenas ficar com os olhos fechados. Rafael olhava a imensidão azul e, num gesto carinhoso, segurou a mão de Flávia.

– Senhoras e senhores, bom dia – ouviram a voz do capitão pelo sistema de som.

A viagem estava apenas começando. Minutos depois, Marina deu uma espiada pela janela do avião, conseguindo ver as nuvens brancas que pareciam ser feitas de algodão. Apesar da saudade que já sentia de Maurício, podia dizer que agora estava, literalmente, nas nuvens! Afinal, em algum tempo, eles estariam juntos para sempre, sem distância alguma!

Rafael e Flávia, enfim, encontraram um no outro a pessoa que sempre procuravam. Suas vidas haviam sido postas juntas e, apesar dos maus entendidos até o momento, se viam esperançosos. Um futuro que ainda precisava de alguns acertos, mas que surgia em um horizonte cheio de expectativas.

Quando o Amor Acontece: A ProcuraOnde histórias criam vida. Descubra agora