Flávia notou que Michelle não estava dentro da capela e resolveu procurá-la. Apesar do estranhamento inicial, elas até que se davam bem. A garota havia se interessado pelo namorado de sua amiga e, para o próprio azar, os dois eram inseparáveis. Flávia sentiu empatia por ela, afinal ela mesma sabia o quanto era difícil gostar de alguém e não ser correspondida.
Procurou primeiro no banheiro, depois nas salas que estavam vazias, mas nada de Michelle. Foi em direção à quadra e avistou a garota sentada na arquibancada, conversando com Rafael. Ela se aproximou dos dois, alheia ao assunto. Quando estava próxima, começou a ouvir parte do que diziam. Ela percebeu que Michelle tinha chorado, pois sua voz estava diferente, mas era em Rafael que prestava mais atenção. Aconselhava Michelle, dizendo sobre o valor que tinha e que ela merecia se casar no templo. Mencionou o quanto seus pais queriam o melhor para ela. Ele falou de tantas coisas que também cabiam exatamente para si! As palavras dele, mesmo que tão doces, fizeram doer seu coração. Pois ela sabia que estava se deixando levar por Gustavo. Sabia que o namoro deles acabaria em um compromisso formal, mas longe de ser um casamento baseado nas coisas mais importantes para ela. No fundo, sabia que ele se esforçava para ir à igreja só por causa dela. Eles se gostavam, mas tinham metas tão diferentes... Flávia precisava tomar as rédeas de sua vida. Tinha que decidir pelo que era certo. Precisava de coragem. Parecia tão fácil quando estava longe do namorado, mas toda vez que pensava em terminar, ele dizia algo ou fazia com que se sentisse tão amada, que ela descartava qualquer tentativa de voltar ao assunto.
Tanto Rafael quanto Michelle não perceberam a presença dela. E, da mesma forma que chegou, saiu silenciosamente. Sua cabeça estava a mil, pensando no que faria de sua vida.
***
Como Maurício havia falado, seus irmãos Cris e Marcos vieram para almoçar em família. Cris era a irmã mais velha, com 26 anos, e já casada. Assim como Maurício, tinha os olhos da mãe. A altura lhe dava um porte esnobe, mas o sorriso fácil fazia com que a impressão não durasse mais que alguns segundos. O marido, Davi, era um engenheiro gaúcho que havia abandonado o sul após conhecer a moça quando passou férias em Salvador. Tinha o mesmo senso de humor que abraçava a família Gomes, embora disfarçado, pois aparentava ser extremamente sério. Davi e Cris tinham Mateus, uma criança de dois anos que fazia a alegria dos avós. Marcos era o irmão do meio, junto com Maurício. Pareciam--se bastante, sendo Marcos um pouco mais baixo. Tinha dezoito anos e acabara de receber seu chamado para servir na missão Japão Nagoya. Sentia-se animado pelo desafio e já saudoso por ter que deixar a família. Estava passando alguns dias na casa da tia favorita, em Ilhéus, e voltara para conhecer a namorada do irmão, a pedido da mãe.
Marina ficou impressionada como todos se pareciam, tanto fisicamente quanto em personalidade. A chegada deles trouxe mais barulho à casa. Todos riam, falavam ao mesmo tempo e se entendiam de igual modo. Seu Marcondes trazia o bebê para Marina paparicar; Cris abraçava Flávia, elogiando sua blusa delicada; Davi conversava com Rafael; e Maurício tentava suspender Marcos, inventando umas palavras num japonês- -baianês que era hilário de se ver. Breno apenas ria, observando a cena.
Michelle estava no banheiro, lavando o rosto onde tinha rímel escorrido, fazendo-a parecer um panda de olhos azuis. Ouvia a agitação de todos e estava ansiosa para voltar à sala. Dona Lila – que deixara parte do almoço preparado no dia anterior – finalizava tudo, pedindo aos filhos que a ajudassem a por a mesa. Cris foi à cozinha papear com a mãe, enquanto os rapazes se prontificaram com a organização.
Quando Michelle saiu do banheiro, teve a impressão de que Maurício havia remoçado alguns anos. De fato, o coração da moça bateu descompassado quando avistou Marcos, que abriu um sorriso ao vê-la, enquanto arrumava os copos na mesa. Percebendo a troca de olhares dos dois, Maurício tratou de apresentá-los devidamente sob o olhar de aprovação de Seu Marcondes, que deu uma piscadela cúmplice para o filho.
O almoço seguiu animado. Seu Marcondes contava histórias do seu tempo de juventude e os filhos corrigiam, inventando situações que incrementavam os relatos. O patriarca protestava, sem chance de ser ouvido. As histórias ficavam mais interessantes com os adendos que os filhos faziam. Em seu coração de mãe, dona Lila agradecia por ter todos reunidos novamente. O nó na garganta apertava, sabendo que Marcos partiria em algumas semanas, mas ela considerava que aquela tarde era uma gentileza do Pai Celestial a uma mãe amorosa.
Após a sobremesa deliciosa e a continuação do bate-papo em família, Cris e Davi se despedem parabenizando Maurício pelo namoro. Marcos, Michelle e Breno sentam na varanda numa conversa à parte, enquanto Flávia e Marina ajudam dona Lila na cozinha. Rafael, Maurício e Seu Marcondes conversam na sala, sobre um discurso que todos consideraram muito especial. A propósito, esse era um costume que a família Gomes mantinha ao longo dos anos: conversar sobre o que tinham escutado e aprendido na igreja.
Na varanda, Marcos fez questão de sentar-se perto de Michelle e pareciam mesmo ser amigos de longa data. Ele voltaria a Ilhéus na tarde da segunda-feira e a moça viu uma oportunidade de irem juntos, já que seus pais também estavam por lá. Acertaram de comprar uma passagem para ela na manhã do dia seguinte, deixando o rapaz ansioso para passar 300 quilômetros ao lado da nova amiga.
***
Depois do almoço na casa de Maurício, Rafael notou que Flávia tinha ficado um pouco mais calada. Continuava sorrindo e conversando, mas não estava tão participativa como antes. Por duas vezes, naquele dia, ela havia ignorado as chamadas no seu celular. A aula sobre casamento eterno tinha mexido com ela e isso era notório. Rafael não imaginava o que se passava na cabeça dela, mas podia entender. Ele mesmo tinha entrado em um relacionamento sem futuro. Mas e Flávia? Será que ela e Gustavo estavam realmente dando certo? E a respeito aquela conversa de Marina sobre Gustavo estar pensando em se casar?
Flávia se virou para ele, percebendo seu olhar. Todos estavam na sala de estar, conversando sobre alguns lugares que poderiam visitar, antes de partirem de volta a Belo Horizonte. Flávia deu um sorriso, ao que Rafael retribuiu.
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Quando o Amor Acontece: A Procura
Lãng mạnFlávia acha um celular perdido e decide devolvê-lo, mas não imaginava que o dono do telefone fosse despertar tanto o seu interesse. Rafael era encantador e, pelo que ela percebeu, também se interessou por ela. Para completar, o melhor amigo dele se...