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Só existe um canal de televisão: o Canal de Notícias da capital, Ofiúco. O apresentador usa um smoking branco e tem o cabelo bem penteado. Assim como todos os serpentarianos, seus olhos têm um tom branco, quase prata. É impossível não identificar um signo, pois os olhos são a primeira coisa que se nota. Por isso, Dess sabia que o homem na foto mostrada pelo jornal era sagitariano, com olhos em um tom escuro de laranja. A leonina o conhece, mas jamais o admitiria em voz alta.

- Pegaram mais um daqueles vermes - comenta uma voz, fazendo-a voltar a encarar o seu almoço. Levi, um dos pupilos da Tenente Gatária, e Dess, mesmo não gostando muito dele, são cabos, o que os faz acabar sentando na mesma mesa.

- Que desperdício, excelentes engenheiros - diz Davi, seu gêmeo (que não é um prodígio como Levi, é apenas... o Davi).

- Vários, na verdade - diz Ingrid, a moça sentada ao lado dela - Vários sagitarianos estavam construindo túneis secretos para os terroristas.

O refeitório está barulhento; ela precisa se concentrar para ouvir. Um frio na barriga. Sabe que jamais verá aquele homem de novo, que os túneis serão destruídos... O trabalho de uma vida, que havia começado antes mesmo dela nascer. Aqueles túneis haviam salvado inúmeras vidas. Dess os conhecia como a palma de sua mão. Tenta formar uma pergunta: Quantos foram pegos? Algum escapou?

Olha novamente para a grande televisão, mais rostos e nomes. Uma mulher asiática de rosto abatido, olheiras profundas e cabelos curtos. Rosa Matsu, engenheira industrial, 58 anos, mãe de uma jovem que atualmente está sob investigação. Nicole Matsu.

- Deveriam se livrar de todos. Provavelmente esses suspeitos são todos culpados. Já cortar o mal pela raiz.

- Com certeza - murmura Dess, tentando disfarçar as emoções. Era amiga de longa data da família Matsu. Ou do que restara dela.

- Quem sabe quando a Dess se tornar Comandante ela não resolve esse problema com os terroristas?

- Duvido muito - retruca Ingrid cutucando Dess - A cabo Desmartinez adora os signos inferiores.

Dess deixa seu prato; já não sente fome. Esboça um sorriso desdenhoso para Ingrid. As duas não se dão muito bem... Mais por sua culpa, que tem o péssimo hábito de partir o coração de leoninas bonitas. A loira só estava passando o tempo e sempre deixou claro que não queria se envolver com ninguém. Há anos só tem olhos para uma mestiça.

Enid era como uma irmã... pelo menos até Dess entrar na adolescência, mas eram família, estavam ligadas por algo maior que os sentimentos da leonina. Não que fosse recíproco e mesmo que fosse, não faria diferença. Enid a amava, fraternalmente.

- Eu só não vejo necessidade em não ser legal com quem produz nossa comida - indica o prato, os outros riram concordando.

- Eles certamente não gostariam de irritar quem tem o dobro do tamanho deles.

Ela voltou a olhar para a TV; é a última vez que veria aqueles rostos amigos. Os aparelhos digitais dos uniformes dispararam em um som baixo e repetitivo, um sinal que o almoço havia encerrado. Os virginianos que voltam da Sintonia entram para o seu horário de almoço. Passa os olhos rapidamente, procurando Enid. Ela está sozinha, com a expressão cansada. Seus olhos se encontraram e a mestiça dá um leve sorriso. Dess aproxima-se o suficiente para cumprimentá-la, ignorando o olhar acusatório de Ingrid e outros guardas.

- Não deveria vir falar comigo na frente de todos assim.

Apesar das palavras, é visível no tom de voz que está feliz por vê-la.

- Acho que não tenho muito com o que me preocupar - lança um rápido olhar em volta - Eu sou... tipo a rainha desse lugar.

- Sim, a pupila da Tenente...

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