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(21 anos antes)

Os mais jovens arfaram ao descerem do helicóptero, exaustos pelo esforço ininterrupto. Rios cristalinos, circundados por densas florestas, formavam um belo plano de fundo para a jornada que agora parecia infinita. Dentro do veículo estavam alguns ustras com suas vestes tradicionais. Além do barulho mecânico, o único som audível era a movimentação da fauna.

A unidade entrou em formação. Em duplas, formavam um "V", até restar apenas um à frente, sem companheiro. Os serpentarianos próximos ao Major solitário se remexeram, inquietos.

- Major! - Gritou um deles, despertando a atenção do rapaz à frente. - Podemos parar para descansar? Nossos novatos estão exaustos!

Benjamin fitou o garoto que o tirou de sua concentração. Isaías o encarava com olhos levemente inseguros. Apesar da pouca idade, ele vinha fazendo um bom treinamento e era muito curioso.

Sabendo que os demais rapazes concordavam silenciosamente, o Major fez um sinal para que parassem à beira de um dos rios.

- Não ficaremos muito tempo.

Ninguém ousou discordar.

- - -

Não muito tempo depois, estavam no veículo novamente. O Major observou as áreas devastadas; algumas casas estavam bombardeadas, as restantes pareciam ter sido invadidas, talvez pelo exército de Aries, talvez pelos próprios sobreviventes.

O vento fazia os fios escuros, ligeiramente mais longos agora, escaparem de trás das orelhas. Com a tradicional máscara que mostrava apenas os olhos sem vida, não restava dúvida para os outros serpentarianos de quem era o líder.

Sobrevoaram a floresta, em alerta. Estavam em território inimigo. Há semanas buscavam vestígios de bases e assentamentos de rebeldes na floresta ao oeste do território do Zodíaco. As buscas, no entanto, foram infrutíferas, o que fez os ustras grunhirem insatisfeitos.

- Eles estão por aqui - rosnou uma dos ustras - Não sei como se escondem tão bem.

Benjamin olhou de canto para a tenente Senna, seus olhos pareciam furiosos. A serpentariana odiava quem estava caçando; era totalmente pessoal. Benjamin compreendia perfeitamente; nos últimos dez anos que esteve no meio dos Ustras, sempre foi tudo muito pessoal para ele. A Resistência quase acabou quando mataram Lúcia, Cássia e todos os outros que ajudaram na tentativa de fuga. Ben conseguiu silenciar Acuri antes que o interrogassem, mas foi um golpe duro para resistirem.

Para recuperar a confiança do Rei, ele precisou entregar muitos nomes e caçar seus próprios aliados. Em algum momento na última década, ele parou de sentir as coisas como sentia antes; era como se tudo estivesse... anestesiado? Longe da realidade.

Ben balançou a cabeça. Não podia nutrir esses pensamentos que não o levariam a lugar algum. Colocou a mão livre na lateral do rosto, sentindo as cicatrizes do novo prisma em seu sangue. Desenvolveu um estranho hábito de tocá-la, como um lembrete do porquê precisava continuar lutando, mesmo que ficasse exausto, mesmo que seus amigos e aliados morressem no processo.

O Major fez outro sinal, trazendo a atenção de sua equipe.

- Não há sinal dos cairos nesses territórios. Vamos para casa.

Os ustras concordaram animadamente. E ele podia jurar que quase sorriu também.

- - -

- Hiromi, ele voltou!

O grito empolgado de Camélia não despertou atenção apenas de Benjamin, mas também de outros empregados que seguiam em suas tarefas diárias. A jovem sorria enquanto encarava os portões da mansão Bellini sendo abertos.

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