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Enid nunca conheceu seu pai, apenas as sombras da história de seu nascimento. Seus olhos, no entanto, revelam a herança da Casa de Capricórnio: um azul profundo, escuro como a noite, mas com um traço verde no olho direito, como uma estrela cadente. Dess adorava os olhos de Enid, apesar de raramente tê-los visto sem as lentes verdes. Dizia que a mistura de cores era linda. A primeira vez que mostrou seus olhos para a leonina, elas tinham onze anos, estavam no seu lugar secreto, e Dess ficou insistindo.

Ela sentia falta da loira. Passou a maior parte da vida sendo atormentada pelo furacão dourado, e agora era tudo tão... quieto e solitário. Sentiu-se assim quando chegou aos Campos de Virgem. A maioria dos signos, quando nascem, são criados no Berçário de Peixes, até terem idade para serem educados nas suas Casas para suas respectivas funções.

Após essa formação, por volta dos 11 anos, são levados para onde sejam necessários. Enid chegou ao Setor 6-M, colheita, um ano após Dess, mesmo sendo mais velha que a leonina. Dess havia se adiantado; já era a garota dos olhos do Conselho de Leão, um prodígio que prometia muito. Inicialmente, a chamavam de Alexandra, e ela odiava, mas logo Zulma dizia que a soldado Desmartinez era dez, sempre tirando a pontuação máxima. Zulma começou a chamá-la de Dez, e logo ela se apossou do apelido.

A primeira vez que se encontraram foi no final do dia. Dess, até então, Dez, estava sendo treinada em patrulha pouco antes de recolher. Havia um grupo de crianças implicando com Enid. Dess não queria se meter e acabar sendo punida pela Tenente.
Mas então ela caiu. Não foi uma simples queda; ela rolou pelo pequeno barranco enquanto corria e caiu próximo ao lago. Dess esperou que as outras crianças ajudassem, mas apenas correram com cara de culpa. Ela não relatou seu supervisor, apenas deixou seu posto, passou entre a pequena cerca e desceu até o lago para ajudar à desconhecida. No início, a leonina teve pena da garota, e então decidiu ficar de olho. As crianças pararam de persegui-la por uns dias depois que torceu o tornozelo. Mas logo voltaram. Elas puxavam o cabelo da mestiça, que na época era muito curto. Provavelmente ela havia cortado, pois o cabelo era o principal alvo.

Elas começaram a se encontrar no lago aos doze anos. Dess disse que a ensinaria a se defender de forma discreta. Dez, Desmartinez ou Alexandra, não importa como a chamavam, para a pequena Enid, era a sua heroína. Ela foi corajosa. A mestiça se lembrava dos olhos dela. Todos os leoninos tinham olhos dourados, mas os dela eram mais brilhantes, mais alegres, tão lindos.
Dess sempre fora assim: heroica e cheia de bravura, ela era fogo, queimando em energia. Foi a primeira vez que alguém, sem ser Zulma, se preocupara com ela.
A mestiça sorriu com a lembrança. Se pegou observando a janela aberta de seu quarto, apesar do frio. Era como se estivesse esperando que a loira fosse saltar para dentro a qualquer momento. Levantou-se lentamente e fechou-a.
Não sem antes dar uma última olhada às estrelas, que sempre observavam juntas.

. . .

Há um pequeno bebedouro entre os pomares. Não se pode demorar mais de cinco minutos para beber a água. Mesmo estando sob a proteção de Zulma, Enid não é do tipo que corre riscos ou desafia as regras, não é coisa de virginiano, muito menos de capricorniano. Não faltava muito para o intervalo do almoço; já estava cansada, e o chapéu não protegia tanto do sol forte desse dia.

- Vai ficar bem?

Demorou alguns segundos para que Enid percebesse que a pergunta fora direcionada a ela. Zulma está encostada em uma das árvores e segurava uma maçã mordida. Teoricamente, ninguém podia comer fora do horário, e nem direto das árvores, mas os leoninos sempre quebram as regras. Simplesmente porque eles são os responsáveis para mantê-las. Inclinou o rosto para baixo, encarando as botas com terra seca.

- Eu...? Vou, é claro. Sou grata por tudo que ela fez. Dess merece isso. Estou feliz por seu sucesso.

- Não apenas o dela - sorriu dando tapinhas amigáveis nos ombros da mestiça - Mas o sucesso de todos nós.

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