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Enid não gosta do escuro, mas depois de tantas horas em salas brancas com forte luz artificial, tudo o que ela mais queria era descansar suas retinas.

Um forte chiado a faz abrir os olhos, doutora Viola balança a cabeça, insatisfeita. Por trás da parede de vidro que isolava-a, Enid imaginava que o homem de terno branco falava coisas que estavam irritando-a. A mestiça tenta levantar da mesa, sem sucesso. Sentia uma fina linha de sangue correndo do nariz até o queixo.

Ainda não percebeu nenhum efeito colateral das pesquisas. Diferente de um dos mestiços que ela encontrou no corredor, estava praticamente vegetando, tinha sua própria cuidadora. Ela ergueu os olhos para o teto, segurando as lágrimas. Não iria chorar. Sabia que acabaria morrendo, mas não iria chorar.

Não consegue realmente sentir o tempo passando, pelo menos não da maneira como costumava sentir, quando o tempo era sobre colher nos pomares e comer ao lado de Dess. Quando era sobre esperar a leonina aparecer escondida em seu quarto para passarem horas conversando em sussurros.

Quando a vida fazia sentido.

Quando a porta de vidro se abre novamente e Viola entra na sala, a jovem não sabe quanto tempo transcorreu. Ela parece irritada. Seu rosto severo parece mais velho, as linhas de expressão estão cada vez mais fundas. Enid era um problema? Talvez ela estivesse tentando algo novo e se frustrando.

Os lábios da mestiça abrem-se lentamente, formulando palavras, era estranho falar depois de tanto tempo em silêncio:

- O que estão tentando fazer?

- Informações - murmura a mulher.

Por algum motivo nos últimos dias Viola respondia as perguntas. Talvez porque Enid não estava raivosa, não chorava ou tentava escapar. Enid simplesmente eceitou sua condição. Não queria ser arrastada a força, ainda tinha dignidade para manter. O orgulho sempre foi uma característica forte de Capricórnio. Um orgulho diferente de Leão, mas com certeza tão profundo quanto.

- Sobre? - sussurra sentindo o outro serpentariano que não se lembrava o nome tirar os fios ligados ao seu corpo.

- A guarda está investigando quem protegia você. Eu sei que não adianta perguntar, você não vai falar, porém não vou deixar levar uma de minhas amostras em perfeito estado para um interrogatório - bufou irritada e separou uma bandeja na mesa ao lado - Você voltaria com muitas sequelas.

Ela não evitou rir fraco, soltando uma tosse pesada.

- Pior do que o cara que vocês deixaram vegetando?

Dra. Viola faz uma expressão de desdém e entrega uma longa seringa para Dr. Sorbus. Ele aplica um líquido esverdeado no soro que está conectado ao braço direito de Enid.
O metal está frio como gelo. A maca desliza para um dos cantos da sala, para dentro de uma máquina. Encara a brancura. O som surdo de batidas faz-a fechar os olhos, lembrando do rosto de sua mãe. Os grandes olhos verde-folha, o cabelo castanho claríssimo escorrendo nos ombros delicados, que vagavam entre o loiro, ruivo e castanho dependendo da luz. Sua mãe tocando seu rosto quando se conheceram... A pele levemente avermelhada pelo contato com o sol, as abundantes sardas e seu gentil sorriso por encontrar sua pequena filha.

Lembra-se perfeitamente como na luz do fim da tarde seus cabelos eram quase ruivos. O tradicional chapéu de colheita, em um bambu claro e grande para proteger do sol, o avental verde... Ela usava o uniforme completo, até as luvas de jardinagem eram perfeitamente limpas. Uma virgiana dos pés a cabeça.

Margarida, era o nome dela.

Margarida Thomazini, jovem e gentil. Teve a infelicidade de apaixonar-se por um pesquisador de Capricórnio. Ela nunca contou a Enid o nome de seu pai.

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