Não foi só as pontinhas. Nunca é.
Durante as longas horas, teve que suportar cremes na cabeça e tinta nas sobrancelhas. Uma pasta com regras e horários da Triagem tentava entreter durante a sessão de beleza. Quando a dupla finalmente terminou, as madeixas atingiam um pouco abaixo dos ombros, com ondas perfeitas.
- Uau - sorriu Dess para o reflexo, um pouco de rímel fez uma enorme diferença em seus olhos.
- Deu pro gasto - murmurou Viana.
- E bem no horário - Celina concordou alegremente - Chegaremos em poucos minutos.
- Já estamos em Serpentário? - Dess já se dirigia à janela mais próxima.
- Sim - concordou Celina - mais precisamente em Ofiúcos.
Dess estava admirada com a vista da cidade. A escuridão cedeu lugar a ruas iluminadas, prédios de vidro e pontes prateadas. À medida que o avião se aproximava, Dez via as luzes, tudo muito branco e brilhante. Serpentário nunca deveria ter visto a noite, pois havia luz por toda parte. O mais impressionante chegou em menos de dez minutos: um palácio, literalmente. Dess o conhecia como O Palácio das Serpentes, onde vivia a família real de Serpentário. Uma colossal construção de mármore, iluminada por holofotes de todos os cantos, brilhava tanto que doíam os olhos. Com um jardim de rosas brancas, fontes e estátuas, e longas escadarias com guardas em uniforme branco e prata. Era tão grande que poderia cobrir todos os pomares do setor B. Do lado de fora, entre os muros imensos, havia centenas de jornalistas. O avião seguia para o telhado, onde havia marcas indicando o local de pouso.
Assim que aterrissou, Dess pulou para fora sem que a aeromoça precisasse abrir. O Palácio parecia ainda mais brilhante. Colunas longas cobriam a luz do sol, e podia sentir um ar pesado. As ruas abaixo eram movimentadas e barulhentas, uma trilha sonora esquisita.
- Senhorita Desmartinez.
O rapaz que a chamava era branco. Literalmente. Doía olhar diretamente para seu terno branco, com sapatos brancos, luvas brancas e cabelo branco. Tudo na mesma tonalidade, como se o estilista tivesse ficado com preguiça de variar entre branco gelo ou branco champanhe.
- Oi... Gálio? - leu o nome bordado em seu peito. Pelo menos estavam em cinza.
- Acompanha-me, por favor, senhorita Desmartinez.
Dess imaginou que o rapaz deveria ser uma espécie de guia turístico, mas parecia muito formal. Ela seguiu o rapaz para a entrada mais próxima. Por dentro - pode parecer chocante, mas sim - era branco e enfeitado por rosas (também brancas). Ela o seguiu pelo corredor até um salão onde havia apenas uma escadaria. No topo, estavam sete serpentarianos vestidos com uniformes idênticos e um homem albino de cabelo quase branco com roupa da realeza. Qual era a dos Serpentarianos com branco? Rosa também era bem bonito, Dess gostava de rosa. Talvez devessem experimentar uma vez ou outra. Na parte baixa do salão estavam exatos vinte e oito jovens. Sete em cada fileira: Áries, Leão, Serpentário e Escorpião. A loira sentiu um calafrio correr por todo seu corpo. Também conhecidos por Elite, os escorpianos eram o signo de maior confiança do Rei. Eram espiões, agentes secretos. Viviam nas sombras; a maioria das vezes com os rostos cobertos. Estavam sempre de tocaia à espera de ações suspeitas. Eles matavam revoluções antes mesmo que acontecessem. Matavam os líderes, pior, queimavam as ideias para que nunca mais pudessem ser lembradas. Era o maior problema que a Resistência enfrentava. Escapar de seus olhos era quase impossível.
Dess evitou olhá-los nos olhos, a última coisa que precisava era de um escorpiano enchendo o saco. A fila mais próxima, Áries, conhecidos pela cor escarlate e olhos de demônios; todos rapazes eram grandalhões e a única moça possuía uma longa cicatriz nos lábios. Eram barulhentos e a atenção do homem albino era toda deles. O homem albino, apesar de pálido, não parecia doente. Na verdade, era alto e forte e olhava de forma simpática para os prodígios. Dess o reconheceu assim que olhou seu rosto simétrico, era o Capitão Torres, o caçula da família real. Ele possuía o segundo título militar mais importante, abaixo apenas de um dos irmãos. Quando o golpe começar, pensou, será um dos primeiros a morrer.
A mulher que deu um passo à frente possuía um moicano em Black Power; era bonita, mas os lábios torciam-se em desgosto vendo sua equipe aproximar-se. Eva estava em uma das laterais da parede, estudando-a. Havia um rapaz ao lado dela quando já aproximou-se. Estava bordado ''Soldado M. Áster''; a primeira coisa que pensou foi a planta áster, roxinha e delicada. Mas depois olhou bem para o rapaz e pensou como era muito bonito. Fez uma anotação mental para seu dicionário particular: ''áster é o novo sinônimo para gostosão''.
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ZODÍACO
Science FictionNa nação do Zodíaco, cada signo desempenha um papel crucial na sociedade, desde o feroz exército de Áries até os visionários industriais de Libra. Sob a tutela do décimo terceiro signo de Serpentário, a capital é o coração de uma sociedade aparentem...