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- Vamos, será divertido! - dizia para a menina.

Ela sorria, assentindo com a cabeça. Alen dera as costas e cobrira os olhos, contando de um a cem. Lúcia correra para longe, adentrando a área dos empregados, alternando entre os corredores. Tropeçou ao dobrar para o quarto dos jardineiros, esticando as pequenas mãos às maçanetas do guarda-roupa. Escondeu-se em seu interior, camuflando-se nos uniformes monótonos, espiando o ambiente externo pelas linhas em vão. Cinco minutos escondida, ouvindo o frágil coração batucar abafado, sentiu-se ser puxada e ter uma crise de risos enquanto Alen fazia cócegas em sua barriga.

- Ahh, não! - exclamava entre as risadas - Pai...

O loiro sente seus ombros serem sacudidos, fazendo com que abrisse os olhos lentamente.

- Alen - Benjamin sussurra, estando por cima do parceiro, agarrando seus ombros com seus dedos gélidos.

- O quê você está fazendo? - Murmura, estranhando.

Ele bufou, um pouco chateado. Sua visão embaçou, e o Capitão tocou em seu próprio rosto, sentindo as lágrimas.

- Você estava chorando - murmurou, largando os ombros, sentando-se ao lado esquerdo da cama.

- E daí? - Resmungou.

- Isso me acordou - ergue uma sobrancelha.

Suas pupilas pareciam ocas, mal refletiam o brilho das luzes do quarto. Mesmo depois de tantos anos, ainda era terrível olhar seus olhos, cheios de marcas e sequelas tão aparentes. Relembrar o que fizeram para o homem que amava.

- Sim - responde - Eu sinto muito.

Fitaram-se por alguns segundos.

- Estava sonhando com o quê? - Sussurra.

Ele afagou as madeixas claras, sua pele albina quase camuflava-se entre os lençóis brancos. Ele toca na prótese de Benjamin, é branca e bem detalhada com fios prata, eles sobem até chegar em sua pele, marcando-a também até a lateral do rosto. Benjamin era uma lembrança constante dos tempos difíceis.

- Luci.

- Hum - gemeu, deitando-se ao lado do loiro. O material frio tocou a pele morna.

- E você?

- Não lembro - murmurou, suspirando. Alen riu fraco.

- Mentiroso.

Ben acariciou o rosto do loiro e deu um beijo em sua testa. Fitou o teto pensando em todas as coisas que viveu e sentiu, não queria partilhar dessa dor com o outro, era desnecessário fazê-lo sofrer porque eram impotentes perante o passado.

Alen voltou a dormir, e a imagem fez Ben suspirar aliviado. Visou o relógio na cabeceira, uma da manhã, quinze de abril.

- É claro - sussurra cobrindo o rosto.

Ele se levanta da cama com cuidado para não acordar Alen. O quarto está silencioso, exceto pelos suaves ruídos do Palácio das Serpentes que penetravam pelas janelas entreabertas. Ben caminhou até a varanda e sentou-se resignado. As luzes por trás dos muros eram coloridas, diversos aviões e aeronaves brilhavam pelo céu.

Fitou as próprias mãos, como se o sangue do leonino, o jovem Teles, ainda estivesse nelas. Não havia falado com Alen sobre o rapaz que executou há alguns dias, mas é claro que ele já sabia. O príncipe ainda era o líder da Resistência.

O que sua mãe pensaria se pudesse vê-lo agora? Ela entenderia o trabalho que tem feito?

Ele toca as pontas dos dedos em suas madeixas longas, desciam até o pescoço até tocar na barba rala. O quarto permanecia silencioso, mas era quinze de abril e ele não conseguiria dormir.

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