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Alen Torres é um homem que sabe fazer discursos.

Ele toca as pessoas, faz com que elas acreditem. Existe algo em suas palavras que inspira e talvez por isso tenha criado a Resistência com tanta facilidade e mantido tantos aliados por tantos anos. Ele é bom com as palavras e tem um coração sincero; a segunda parte teria sido a sua ruína sem seu fiel companheiro sendo seu braço direito durante as últimas décadas.

Ruína é uma boa palavra.

Estar perto de Benjamin fazia as palavras de Alen ruírem. Ele nunca sabia bem o que dizer. Mesmo depois de tantos anos juntos, parecia que a ustra havia criado uma barreira que o albino era incapaz de passar. Uma linha imaginária os separava. Por isso, apenas fitou Benjamin, deixando alguns relatórios sobre a mesa de sua sala. O Capitão estava sentado no sofá luxuoso, assistindo à TV sem som; era uma reprise das entrevistas com os prodígios na noite anterior.

Benjamin deixou o relatório, separou alguns papéis e, antes de sair, a voz de seu parceiro o fez parar.

- Pode dormir aqui, sabia?

Alen balança o copo cristalino, fazendo a bebida transparente reluzir. Benjamin estava sem a máscara do seu uniforme, foi possível ver seus lábios se curvando.

- Sabe que não costumo dormir no Palácio.

O loiro deu um pequeno gole, deixando o copo sobre a mesa de centro.

- Ainda somos casados, sabia?

Ben fecha os olhos, as luvas pretas trancam a porta da sala. Para evitar que servos curiosos ouvissem os desentendimentos do casal. Não que fosse alguma novidade.

- Alen, eu não quero discutir.

- Ah, sim - concorda - Nós não discutimos, para isso seria preciso conversarmos.

- Conversamos todos os dias.

Ele inclinou a cabeça, frustrado. O moreno se aproxima, tirando o copo das mãos de Alen.

- Bebeu um pouco?

- Não estou bêbado.

- Você nunca está, não é? - Benjamin suspira, deixando o copo de lado. A expressão séria era substituída por preocupação.

O príncipe suspira, fitando as roupas pretas do parceiro e tombando o corpo de volta ao sofá. Benjamin encara as quatro garrafas em cima da mesa sofisticada, três vazias e uma quase na metade, um licor forte, imagina-se, prismas não são dopados com tanta facilidade.

Ele senta-se ao lado do loiro, olhando-o pelo canto dos olhos cinzentos. Estava irritado com Alen. Toda vez que não conseguem salvar um mestiço, ele age dessa forma: tira a noite para se embebedar sozinho.

Sabia que Alen estava sofrendo, assim como ele. Quando se separaram, algo se quebrou irreparavelmente. Não era apenas a dor do luto; já tinham tempo o bastante para lidar com isso, trinta anos e a companhia um do outro, a nova família que criaram; mas existem feridas que simplesmente não cicatrizam, o que aconteceu não foi um trauma, traumático é uma palavra simples demais, o que os ustras fizeram foi destruir completamente quem ele era. Traumas podem ser trabalhados, mas o que é destruído não pode ser recuperado.

Suspira, desviando o olhar para a tela da televisão, onde imagens dos prodígios aparecem. Ele reconhece Dess de Leão e mais alguns apatriotas infiltrados. A Resistência tem sido sua vida por décadas, mas ultimamente parece que estão perdendo terreno, que a esperança está se esvaindo aos poucos.

- Alen... - Benjamin começa, sua voz suave contrastando com a tensão no ar.

Ele não responde de imediato, sua mente vagando por lembranças dolorosas, por sonhos destruídos. Ele sabe que precisam continuar lutando; o que mais resta para fazer?

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