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A única luz que iluminava seu trajeto pertencia ao grande telão da cidade. As imagens alteravam em curtos intervalos, ora propagandas patriotas ora rostos com fichas criminais. O rosto mais recente era um homem de e olhos magenta. Ele não usava o uniforme obrigatório de identificação, mas a cor dos olhos indicava que era um libriano.
Traidor. Rebelde. Assassino e varias outras mentiras brilhavam. Dess conhecia vagamente aquele rosto, mais uma vida perdida.

Sua figura esquivava-se entre os prédios. Todas as janelas permaneciam apagadas por lei. Naquela noite não se ouvia apenas o som da natureza do Campo de Virgem, mas o som dos passos de milhares de virgianos vagando em seus quartos. É claro que todos estavam acordados, quem dormiria antes do Exame de Sintonia?Era uma semana difícil.
As roupas escuras ajudavam a passar despercebidas, mas os cabelos loiros foram escondidos dentro do uniforme. Observou uma das janelas sem movimento, um menino estava sentado em sua cama, os olhos focados em lugar nenhum, pela pouca idade provavelmente seria a primeira vez na Sintonia. Não podia culpar o garoto. O Exame decidiria se era geneticamente aceitável. Seus olhos verde-folha mostravam que parecia um virgiano, mas ele realmente era? Estava a altura de viver no Zodíaco? Ou seria apenas mais uma falha genética?

Afastou-se e apoiou os pés na janela ao lado. Terceira janela do nono andar estava aberta, a leonina apoiou os cotovelos e saltou para dentro quase sem fazer nenhum som. Seus olhos tentaram adaptar-se a escuridão do quarto, havia apenas uma cama de solteiro e uma figura feminina.Suas mãos esticaram-se até segurar o rosto e puxá-la em um beijo. À medida que seus passos chegaram até o centro do quarto Enid afastou-a:

- Dess...o que está fazendo aqui?

- Imaginei que não iria dormir - as vozes saiam tão baixas que Enid precisava se concentrar para entender - E eu também não consegui.

A loira sentou-se pesadamente na cama, perdendo a postura que manteve durante todo o dia. Enid sentou-se ao lado. Ela era um poema vivo, uma obra-prima entrelaçada pelos fios negros, lisos como a noite, caíam como uma longa cascata até encontrar o descanso suave sobre seus ombros. Em sua presença, a natureza encontrava uma musa, e sua beleza era um eco suave da terra ancestral.

Dess fechou os olhos, podia sentir a pele de tons castanhos de Enid tocando seu uniforme, até chegar ao rosto dela. Gostaria de falar como estava assustada, como não queria ir embora, não queria deixa-la, esperou tantos anos para que pudesse...

- Dess? - chamou a mestiça.

E então ela acordou. Os cachos dourados descasavam sobre o travesseiro, ela massageou as maças do rosto.

Um sonho...

- É claro - murmurou levantando-se.

Leão é sempre o primeiro a acordar, precisam estar dispostos para quando os virgianos levantarem para ir ao vestiário e refeitório. Dess sempre via o sol nascer, mas naquele dia preferiu ir direto para o prédio em que ficava a delegacia. La, na mesma sala em que era feito o Exame de Sintonia, Dess convenceria ao Conselho que era leal. A Sede de Leão seguia o padrão das outras onze Sedes um quartel branco sem detalhes, apenas com paredes brancas e luzes fortes. No corredor havia dois rapazes e uma garota do setor B, Helga. Dess os conhecia, eram outros prodígios. A porta da sala do Tenente estava fechada, não havia cadeiras, então a loira encostou-se ao lado de um dos rapazes. Eles conversavam entre si, sobre como deveria ser o teste. Dess acabou entrando na conversa, mas parecia inútil já que a resposta estava atrás daquela porta. Apenas queria distrair a cabeça. Eles falavam o teste não seria físico (para testar habilidades de combate), já que fazia todos os dias observando-os. Também não seria de inteligência, nem de medo, pois já foram aplicados e os cinco naquele corredor passaram. Por um minuto pensou como aquilo estava sendo injusto, ela sabia que seja la o que tivesse ali seria algo horrível e que não seria real. Mas eles não. A porta foi aberta por um homem de cabelo grisalho, ele falou um código e a garota de rosto redondo entrou. Os garotos logo encostaram a lateral da cabeça na porta e Dess estalou os dedos para o idiotas:

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