Cap.4 - A Queda de Reis

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    Já não sentia mais as pontas dos dedos, mesmo com as três luvas de pelagem em casa mão. O clima estava claro, céu limpo com poucas nuvens, era difícil dizer quantos quilômetros Madarda andou sozinho, desde o incidente na cabana do velho louco. Seus cabelos brancos, pele pálida e roupas cobertas por camadas de neve, conseguiam fazer ela sumir por entre a neve. Não havia florestas próximas, nem rios, nem lagos congelados, nem vilas ou cabanas abandonadas, apenas neve e montanhas. Não havia vento, o que ajudou e muito provavelmente salvou a vida de Madarda. Talvez fossem os Bons-Senhores, ou Asteron, talvez a Cabra-Velha ou Aqua, não importa o Deus, Madarda tinha o seu próprio. Mão-Negra, como os chamavam. Os Wiccanos, no extremo norte de Glaciales, cultuam um Deus chamado de Mão-Negra, ao ser a única parte do corpo do Deus que eles podem ver. Em pinturas e totens, Mão-Negra está envolto de um capuz, por entre a fresta, dá para ver seu olho direito, amarelo-dourado, reluzente e uma mão-negra saindo das vestes. Com seu toque, ele abençoa seus seguidores e os da força e mana para alcançarem seus objetivos. Agora, pelo menos, o que sabemos, apenas Madarda carrega essa religião.
     A mulher albina caminhou por mais alguns quilômetros até cair com o rosto coberto sobre a neve. Era macia, porém, de um frio mortal. Não conseguia mais caminhar, suas pernas chegaram ao seu limite. Lágrimas escorriam de seu rosto enquanto a dor de seus músculos começavam a se espalhar pelo corpo de Madarda. Pode ouvir trotes pisoteando a neve fofa. Os barulhos se aproximam da moça. Tentou olhar para cima, metade de seu rosto estava soterrado sobre a neve. Ao ver, primeiro achou que fosse seu Deus, Mão-Negra a levando para a Grande Mesa. Entre os Wiccanos da Natureza, acreditam que após sua morte terrena, sua alma é conduzida até o Palácio dos Deuses, onde seus amigos e familiares que já partiram, o esperam em uma grande mesa, cheia de comidas e bebidas que nunca acabam. Viveria toda a eternidade com os seus, até o Fim dos Homens chegar, o que seria a perdição da vida, quando o propósito de todos estejam concluídos. Enfim, voltamos para Madarda, não era seu Deus e nem um cavaleiro, era um menino, um adolescente de cabelos longos, lisos e negros. Sua pele era pálida e seus olhos castanhos escuros. Também trajava pelagem animal, porém, mais bem costurada do que os que conseguiu com Ygra. O jovem usava de montaria um Alce-Gigante. Eram muito raros, tinha o dobro do tamanho de um cavalo, por volta de uns três metros. Sua pelagem marrom-escura era linda, espeça e coberta de pelos grossos.

- Quem é você? -Perguntou o garoto. — Qual seu nome? — Viu que Madarda estava fraca demais para responder qualquer coisa, então assobiou para seu alce e ele se ajoelhou. Facilitou que o garoto pusesse a mulher em suas costas. Assim que ambos estavam montados, o garoto assobiou novamente e a criatura ficou de pé, parecia que Madarda estava voando.

- O que... está fazendo? — Com uma voz fraca e rouca, pode se apresentar. - Madarda. - Foi o que disse antes de desmaiar sobre as costas do grande Alce.

     Enquanto isso, mais no coração do Campo. O velho arrogante, Hunter Treelips, veria as consequências de roubar comida de um povo faminto. A volta do Bosque foi difícil. Com o bloqueio dos Zera, a comitiva de Hunter teve que fazer um desvio. Em vez de passarem por Vila Bela Moça, Hunter achou mais prudente desviar o caminho da confusão, mal sabia ele que os Zera já haviam partido para Corrente e que a tribo Dentes foi extinta. Mesmo assim, o velho, que não tinha muitos amigos na corte do Campo, foi recebido de portas fechadas na Vila Monte Chifre. Os habitantes o odiavam, sabiam que ele obrigava seus soldados a estocarem comida, tirando não dos campos, já que a tribo Dentes o roubava, mas sim dos habitantes. O pouco de alimentos que guardavam até a próxima colheita, foi cruelmente confiscado pelos soldados Treelips, por ordens de Hunter.
    Não era de se esperar que fosse recebido aos gritos de covarde, tomates foram arremessados das janelas enquanto sua carruagem passava. Repolhos pretos e vencidos, cebolas necrosadas e até mesmo penicos cheios eram jogados às portas de Hunter. Seus soldados foram conquistados, já que serviam aos Syr antes do arrogante tomar posse do castelo, mas não concordavam com as escolhas que ele tomava. Pela honra, seguiam suas ordens, mas por quanto tempo? Mesmo assim, uma fileira de soldados Treelips o guarneceu até passarem por Monte Chifre. O general, pediu para que o rei Hunter, parasse em Monte Chifre para que seus homens pudessem descansar. O velho recusou o pedido e deu ordens para seguirem caminho até seu castelo em Pedramalha. Foram mais três dias de viagem até chegarem, muitos homens desmaiaram no caminho, não puderam comer, já que Hunter levou abastecimento apenas para a ida. Não esperava ser mandado embora do Bosque como foi. Sem parar em nenhum lugar, muitos ficaram para trás, seja por cansaço ou simplesmente desertaram. Hunter partiu com mais de cinquenta homens e trinta cavalos, ao chegar nos portões de Pedramalha, estava com apenas vinte e três homens e oito cavalos, contando os dois que levavam a carruagem.
Ao chegar aos portões, encontraram eles fechados. O sol estava no seu topo, então não custava muito para o núcleo da carruagem se tornar um forno. Hunter desceu, estava com sua túnica suando.

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