Prólogo

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O cheiro de enxofre e o calor infernal ardia debaixo de seus pés, mas o calor maior vinha de seus olhos. A raiva, o ódio e a sede de sangue chegavam a espumar pela boca. Seus olhos tão azuis quanto o céu em tempos de paz, quanto mar em tempos de calmaria e seus longos cabelos tão brancos quanto a neve recém-caída. Sua pele revela marcas de batalha, cicatrizes e manchas já curadas pelo tempo. Suas vestes de seda fina, cor de esmeralda e mantas pretas enroladas pelo pescoço, dançavam ao vento enquanto dava seus graciosos e lentos saltos. Estava descalça, mas seus pés nunca tocavam o solo rochoso e fervente.

— Me procurou por todo esse tempo, para ficar fugindo da luta como uma covarde? — Gritou sua adversária, era um pouco mais baixa, de cabelos lisos e negros, olhos dourados e pele tão pálida quanto de um cadáver. Seu vestido caía bem em sua cintura e suas mangas eram tão longas que se arrastavam pelo chão escaldante.

— Não podemos lutar diretamente com você, mas posso retardá-la. — Brandia sua espada, de colocação verde como uma esmeralda. Ao seu lado, um garoto com 7 anos, de cabelos cacheados castanhos, conjura um escudo invisível com seu grimório, tão velho, tão grande e pesado, que precisara usar ambas as mãos.

As mãos da mulher fúnebre começam a pegar fogo, ao tocar seus dedos no solo rochoso, colunas de lava saltam como gêiser em direção à dupla. O escudo do garoto os protegeu, mas rompeu logo no primeiro ataque.
Raios vermelhos e nuvens negras cercavam os três em um cenário infernal.

— Somos da mesma espécie Aleyne, você deveria me agradecer por iniciar o fim dos tempos e o recomeço do nosso. — A mulher de vestido negro rodeou o campo de batalha, enquanto Aleyne e o garoto também rodeavam na mesma direção, mantendo distância e olhos na adversária.

— O fim dos homens não precisa ser o início do nosso Morgana! — Aleyne prosseguiu — Holyland é a terra que nosso senhor Armon nos deixou. Podemos ser livres por lá, sem medo de usar nossa magia ou procurar um poço para fugir.

— Eu não quero ser livre em Holyland, quero ser livre no mundo! Eu sou um ser imortal! Quero que todos saibam que Morgana Luceluz é o ser mais poderoso que já pisou nessa terra desgraçada.

— Isso não vai acontecer! — Aleyne avançou em saltos suaves em direção a sua adversária. Com a espada esverdeada reluzente, desferiu um golpe na horizontal no peito de Morgana. A figura se desfez em uma sombra negra. — Consegui!

— Você foi muito bem! — O garoto comemorava do outro lado do campo de batalha.

Aleyne desviou o olhar por um milésimo e já não sabia mais se realmente atacara Morgana. Ao se virar rapidamente para o garoto, percebe que uma coluna de sombra surgia atrás dele. Aconteceu muito rápido. Antes mesmo que o menino de 7 anos pudesse se dar conta. Morgana reapareceu atrás dele, segurando uma foice de lâmina vermelha e cabo de madeira marrom. O corte na horizontal arrancou a cabeça do garoto e cortou seu grimório ao meio. A cabeça do menino rolou pelo chão, enquanto queimava no solo quente do terreno vulcânico.

— Não! — Aleyne arregalou seus olhos, presenciando o horror e a perda de mais um amigo para os Wiccanos Negros.

— Eu avisei Aleyne, se não dobrar os joelhos, eu matei cada pessoa que você conhece. — A foice de sua mão esquerda desapareceu na mesma fumaça que Morgana surgiu. — Ajoelhe. Não tem mais nada que você possa fazer. Em poucos minutos o leviatã descerá dos céus e esse mundo queimará em chamas negras.

— Isso não vai acontecer! — Aleyne arremessou sua espada. Com o dom de sua magia, a espada voou como uma flecha em direção a Morgana.

— Estou pronta! — A Wiccana Negra uniu as mãos e abriu um pequeno portal para a espada. Ao chegar no portal, a espada não entrou, atravessou direto a barriga de Morgana. — Meu senhor Armon...

— Não subestime a magia dos Wiccanos Verdes.

A passos lentos, Aleyne andou em direção à sua inimiga. Antes que pudesse chegar a tempo, Morgana segurou a lâmina da espada, deixando seu sangue escorrer pela mesma e a fazendo desaparecer no portal que abriu.

— Sua espada se foi... Estou dando minha energia para o Leviatã! Apenas a minha energia vai libertá-lo! Acabou Aleyne! — Desesperada, Morgana tentou transferir sua energia. Sua boca se abriu e uma coluna de nuvem negra começou a subir aos céus. Aleyne tapou a boca de Morgana e colocou sua mão esquerda em seu peito.

— Já disse, isso não vai acontecer. — Os olhos de Aleyne se tornam brancos e sua pele perdia cor. — Senhor Armon, venho a ti e humildemente lhe peço o dom da vida após a morte, bebeis e comeis de minha alma!

A fumaça parou de subir, sendo interrompida pela magia de Aleyne. Morgana e ela estavam unidas, por um laço de luz. O laço atravessou ambas pelo peito.

— Você acabou de transferir nossas almas para o tempo. Sabe que esse feitiço não durará para sempre. Em algum lugar do mundo eu me reencarnarei novamente. — Em seu último golpe, atravessou sua mão na barriga de Aleyne.

— Mas pelo menos irei atrasar você. O mundo não morrerá hoje e eu também reencarnarei. — O rosto pálido de Aleyne começou a esfarelar em cinzas. O mesmo acontecia com Morgana.

As lendas contam que Aleyne e Morgana morreram, ou até mesmo que nunca existiram. Suas almas sumiram, o mundo voltou a sua antiga paz e três mil anos depois desses acontecimentos, uma nova era estava prestes a deixar o mundo um passo de um novo apocalipse, de um novo leviatã.

O Prelúdio Da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora