PRÓLOGO

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O vento assobiava feroz, varrendo a neve contra os muros de pedra fria do castelo de Celestia

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O vento assobiava feroz, varrendo a neve contra os muros de pedra fria do castelo de Celestia. A noite era implacável, um testemunho do inverno rigoroso que envolvia o reino em um manto branco e congelante. No grande salão, iluminado por tochas acesas, o rei Kristof estava sentado em seu trono de prata, os olhos perdidos em um ponto distante do chão de mármore. Ele parecia distante, mas sua postura rígida revelava a tensão que o dominava.

À sua frente, Brianna, a hóspede acolhida em uma noite de tempestade, permanecia de pé, uma figura de beleza quase sobrenatural. Seus cabelos negros caíam em cascatas lisas sobre os ombros, e seus olhos púrpura brilhavam com uma intensidade inquietante, como se carregassem segredos que nenhum mortal deveria conhecer. Sua mão pousava sobre o ventre ainda discreto, mas que ela agora proclamava carregar o herdeiro do rei.

— Estou esperando um filho seu, meu rei — disse ela, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina.

O rei ergueu os olhos lentamente, mas manteve o semblante impassível. O silêncio entre os dois era carregado, como uma corda tensa prestes a arrebentar. Ele observava Brianna, mas sua mente estava longe. Há semanas, notara uma movimentação suspeita no aposento da dama. Enio, seu irmão mais novo, passara uma temporada no castelo e fora visto deixando o quarto de Brianna em mais de uma ocasião.

— Não vai dizer nada? — insistiu ela, tentando encontrar algum vestígio de emoção no rosto do rei.

Kristof inclinou-se levemente para frente, o brilho das tochas refletindo no metal frio de sua coroa.

— Pensa que não sei? Estou ciente das visitas de Enio ao seu quarto. Pelas minhas contas, se eu estiver certo, é impossível que este filho seja meu. — Sua voz era gelada, cada palavra carregada de desprezo. — Arrume suas coisas e parta com o Lorde da Praia Negra. Desapareça antes que eu mude de ideia.

O rosto de Brianna endureceu, mas os olhos de um tom púrpura vivo mantiveram sua intensidade.

— Você me prometeu ouro, prata, proteção… E agora me manda embora como se eu fosse uma mendiga. Há muito ouvi falar de sua benevolência, mas vejo agora que todos estavam enganados.

Kristof soltou uma risada curta e amarga, inclinando-se contra o encosto do trono.

— Você abre as pernas para o meu próprio irmão e espera que eu seja benevolente? Por Deus, Brianna. Eu ainda sou misericordioso por não ordenar sua execução.

O silêncio que se seguiu era tão pesado quanto a tempestade do lado de fora. Brianna segurou o ar por um instante, mas logo o soltou em um suspiro de fúria.

— Meu rei, estou lhe poupando de uma verdade dura — disse ela, sua voz tingida de desespero e raiva. — As sementes de seu irmão foram plantadas em meu ventre contra minha vontade. Jamais o trairia. Meu coração pertence ao senhor desde aquela noite em que me salvou.

Kristof fixou os olhos nela, mas desta vez havia algo mais — desconfiança.

— Você mente. — Ele se levantou lentamente, como se a gravidade do trono ainda pesasse sobre seus ombros.

Brianna deu um passo à frente, e seus olhos púrpura pareciam faiscar. As chamas das tochas nas paredes tremularam e, de repente, cresceram, lambendo os tetos abobadados com fúria renovada. Kristof deu um passo para trás, seus olhos arregalados de medo e surpresa.

— O que foi isso? — ele murmurou. — Bruxa!

— Por consideração ao homem que amei, peço que me deixe ir em paz — respondeu Brianna, agora com uma autoridade assustadora. — Mas, se persistir em suas ameaças, eu lhe prometo, meu rei, que verá o peso de sua decisão em breve.

— Vai se arrepender de ter pisado em meu reino — retrucou ele, embora sua voz traísse o pavor que agora crescia dentro de si.

Brianna deu um sorriso sombrio, aproximando-se do rei.

— Não precisa acreditar em mim agora, mas um dia se lembrará de minhas palavras. O senhor terá uma filha, bela e forte, mas sua linhagem terminará com ela. Não terá herdeiros homens porque neste momento está negando o único que teria.

— Você é uma mentirosa.

— Não, meu rei. Este é o futuro. Meu filho será forte, um homem como nenhum outro. Ele não será ferido por nada neste mundo, exceto pela prata, a riqueza de Celestia. Ele voltará a este reino para tomar o que é dele por direito.

Kristof sentiu o sangue gelar em suas veias.

— Saia daqui antes que eu mande queimar você viva.

— A casa Magnus cairá, meu rei. Você viverá para ver sua filha completar dezessete anos e depois morrerá, sua cabeça adornando a estaca mais alta deste reino, para que possa olhar eternamente a vastidão de seu reino perdido.

Com um último sorriso carregado de amargura, Brianna se virou e saiu do salão. Seu manto negro se arrastava atrás dela, e quando alcançou a soleira da porta, o vento feroz apagou as chamas do castelo, deixando Kristof imerso na escuridão e no medo.

Naquela noite, dizem as más línguas, que Brianna partiu com o Lorde da Praia Negra, e os dois desapareceram na tempestade. Mas, nos anos que se seguiram, o nome da bruxa e suas palavras permaneceram, como uma sombra ameaçadora sobre a casa Magnus e o trono de prata.

𝐈𝐍𝐐𝐔𝐄𝐁𝐑Á𝐕𝐄𝐈𝐒: 𝑺𝒂𝒏𝒈𝒖𝒆 𝒆 𝑷𝒓𝒂𝒕𝒂Onde histórias criam vida. Descubra agora