2000 palavras.
— PRECISA COMER. — A voz de Ellianor era firme, mas havia um traço de súplica ao estender a tigela de sopa. Ela tentou, uma vez mais, levar a colher até a boca do comandante. — Vinho não vai mantê-lo vivo.
— O vinho é a única coisa que afoga essa maldita dor. — Cedrick virou o rosto com uma teimosia infantil, os olhos distantes, fixos no fogo que estalava na lareira. Ele reprimia cada gemido, como se negar a dor fosse uma batalha contra sua própria fraqueza. Evitava encarar a rainha.
Ellianor apertou os lábios, o toque da impaciência em sua voz quase transparecendo: — Não posso deixá-lo definhar. Se não comer, vai se enfraquecer. E aí, quem vai me aconselhar e me ouvir?
Cedrick suspirou, franzindo o cenho.
— Por que se importa? — As palavras saíram como um desafio, embora sua voz fosse gasta, marcada pelas cicatrizes de velhas batalhas.
Ela parou. Sentiu o peso das palavras no ar, como uma flecha disparada ao acaso que encontra seu alvo. Respirou fundo, repousando a tigela no colo, os olhos baixos.
— Porque você é... o mais próximo que tenho de um pai.
O silêncio que se seguiu era palpável. Cedrick piscou, as lágrimas brotando sem permissão. O sorriso que esboçou era pequeno, quase imperceptível, mas sincero, como se aquelas poucas palavras tivessem derretido a armadura que revestia seu coração por tantos anos. Ellianor sabia que ele sentia o mesmo. Quando o rei, seu verdadeiro pai, foi assassinado, ela não chorou. O vazio que lhe tomara o coração foi perturbador, como se tivesse perdido algo que nunca realmente possuíra. Mas quando Cedrick foi golpeado pelas costas, uma dor diferente a atravessou — aguda, insuportável. Perder aquele velho guerreiro a deixaria desamparada e ela sabia bem.
— Me dê isso aqui. — A voz de Cedrick estava rouca, mas menos rígida. Ele pegou a tigela com dedos trêmulos, a disfarçar a emoção. Ellianor observou quando ele finalmente cedeu, o coração aliviado.
Cedrick mergulhou a colher na sopa espessa, o aroma de carne, cenoura e ervas invadindo o ar com uma força avassaladora. Ele ergueu a colher lentamente até a boca, mastigando com o cuidado de um homem que teme que até a comida o traia. Ellianor observava cada movimento, mas logo o cheiro forte a invadiu de uma maneira mais cruel. Seu estômago deu um nó, e antes que pudesse se controlar, virou o rosto e vomitou.
O vômito saiu ácido, queimando sua garganta, o gosto amargo espalhando-se pela boca, como se algo podre estivesse enraizado em seu corpo. Era amarelo, tão vivo quanto a sopa que preparara. Ela sentiu o corpo estremecer, e tudo o que conseguiu pensar foi no quão ridícula parecia diante de Cedrick, o velho comandante que a olhava com um misto de preocupação e surpresa.
— O que foi isso, Elli? — A voz de Cedrick soou grave, carregada de preocupação, enquanto seus olhos examinavam cada detalhe da expressão da rainha.
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𝐈𝐍𝐐𝐔𝐄𝐁𝐑Á𝐕𝐄𝐈𝐒: 𝑺𝒂𝒏𝒈𝒖𝒆 𝒆 𝑷𝒓𝒂𝒕𝒂
FantasíaUma bruxa, magoada e com ego ferido, profetizou a ruína do rei de Celestia e a chegada de seu filho, que traria o fim à dinastia Magnus; a morte e a desonra andariam ao seu lado. Mas eram apenas boatos, histórias para assustar crianças, e Ellianor M...