Ela se debruçou por alguns minutos ao lado do notebook, eram tantas possibilidades que tinha sobrecarregado seu cérebro, e a cada possibilidade de senha era uma memória que tinha que revisitar de James. Ela tentou datas, tentou nomes, seu próprio nome várias vezes,a data dele e sua de aniversário até que ela se deu por vencida, ela nunca descobriria a senha. Ela fechou o punho e bateu na mesa com fúria, o barulho ecoou até o andar de cima, onde Simon pacientemente esperava e já imaginava o tipo de reação que aquilo poderia estar causando nela, ele não poderia fazer nada a não ser esperar, até que ela subisse e caso Sora não descobrisse a senha, eles teriam que partir dali imediatamente.
"Eu não posso ficar chorando." - ela pensou enquanto secava as lágrimas que brotavam do seu rosto. - "Eu preciso continuar tentando..."
As horas foram se passando e todos os acessos foram negados ao notebook. Exausta, sentia a sua nuca doer, então, abaixou a tela, subiu de volta e encontrou Simon cabisbaixo e de braços cruzados.
"Não consegui." - ela sentou em uma poltrona paralela ao sofá que ele estava. - "Vamos ter que dar um jeito de te tirar daqui."
"Sora."
"Eu vou ter que contar a história ao Xerife e espero que ele não resolva me prender ou algo do tipo." - ela levou as mãos no rosto, estressada por estar encurralada naquela situação. - "E o pior de tudo é que ele era amigo do meu pai e escondi a presença de terroristas aqui..."
Simon avaliava bem no que deveria dizer a ela, enquanto ela murmurava sozinha alguma palavras no dialeto materno indígena, ele foi ate a cozinha e começou a ferver um pouco de água, escolheu algumas ervas e ficou próximo do fogão, ele não era bom em confortar pessoas em situações como aquela, o máximo que ele poderia fazer, é tentar oferecer conhecimento. Sora tinha um arsenal no seu subsolo, mas pouquíssimo conhecimento em como utilizar aquilo tudo. Enquanto a água fervia, ele pensava em opções menos ruins o suficiente e que fossem rápidas. Assim que a água ferveu, ele deixou as ervas descansando e retornou até ao sofá, se sentiu, puxou o ar, sentiu uma leve pontada no pulmão e continuou:
"Se formos sair, precisamos sair amanhã, o mais rápido possível."
Sora parou de murmurar e olhou para ele petrificada, olhou ao redor, as fotografias, os quadros, as paredes de madeira desgastada e sentiu medo, por um tempo, ali tinha sido seu conforto e sair dali de volta ao mundo, a assombrava. Simon tinha percebido o assombro no seu olhar e virou o rosto, sabendo que aquilo seria uma decisão difícil para ela.
"Ou você tenta achar a senha, chamamos recursos, e você continua aqui." - ele pontuou sem rodeios. - "Se não achar, temos que ir."
"Não posso." - ela falou, hesitante.
"Como não pode?"
"Aqui é minha casa, meu lar...Eu não tenho lugar pra onde ir." - ela cada vez mais abaixava o tom de voz, enquanto ia se encolhendo e esfregando uma mão no braço.
"Então você prefere ficar aqui e esperar que nos matem? Por que?!"- respondeu impaciente - "Esse lugar está em ruínas e você sabe disso."
Ela virou o rosto para ele e sua expressão se contorceu, ela não sabia se gritava, se discutia, ele tinha tocado bem em seu ponto fraco, ela até se levantou e começou a andar de um lado para o outro. Claramente a ideia de deixar a cabana a tinha perturbado a ponto de deixá-la mais inquieta ainda.
"Eu posso te fornecer proteção, e um lugar pra ficar." -ele continuou, falava calmamente, mas ainda sendo sério com ela.
Ela se levantou de imediato e voltou para o andar de baixo. Simon suspirou, sentindo-se derrotado.
As horas se seguiram e até o momento em que a mente da moça não aguentava mais, tinha tentado de tudo, então, suspirou, tomou mais um gole do chá que Simon tinha deixado ao seu lado e finalmente, aceitou o destino que seria sair dali. Ela mal conhecia o homem que estava ali com ela, mas pela primeira vez depois da morte de James, ela não conseguia ver outra alternativa a não ser ir com ele. Já era dia, e depois de ter retornado do túmulo vazio, ela havia cortado a noite naquelas tentativas falhas de achar a senha.
Ela subiu, fechou o alçapão e colocou o carpete de antes em cima do mesmo. Foi até o seu quarto e pela janela, nenhum sinal do sol, mas sim uma iluminação difusa e fria, dos seus raios que refletiam nas nuvens baixas e na Neblina que descia lentamente montanha a baixo. Ela se jogou na cama e assim que o fez, sentiu a maciez do colchão e das cobertas, apertou-as como se quisesse agarrar a última sensação de toque antes de dizer adeus a elas.

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Wolf and Raven
Science FictionSimon Riley, em uma missão juntamente com Soap e uma equipe de seis soldados, são emboscados em uma operação no estado de British Columbia, no Canadá. Sozinho e ferido no meio de uma densa e sombria floresta, ele está quase a ponto de desistir de su...