25. Dreams

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Assim que chegam em casa, Sora pergunta a Susan se é possível que ela utilize computador caso tenha, Susan os levam até o escritório, que fica em um cômodo do térreo e os deixa a vontade. Naquela sala existe uma poltrona de couro e uma estante de madeira de incontáveis livros dos dois. Sora se senta ao lado de Simon, que toma frente para utilizar o computador, infelizmente, a única maneira de se comunicar com alguém é por e-mail, então, ele cria um simples rapidamente e tenta lembrar qual é o e-mail pessoal de Price ou de Laswell. A comunicação, ele pensa, tem que ser o mais sucinta possível, ele só quer que ambos saibam que ele está vivo. Algo como:

"Tô vivo, preciso de apoio."

"Eu espero que eles não demorem a entrar em contato, a agente da minha unidade provavelmente deve rastrear o IP e enviar reforços, normalmente é aberto um canal de comunicação remota oculta. É isso que posso fazer por hora."

O silencio pousa novamente entre dois, Sora pensa no que fazer dalí para frente, a ansiedade é crescente, ela espera que a patrulha não demore muito que não haja mais perigo rondando entre eles. Ele percebe o seu olhar distante.

"Olha, eu sinto muito." - ele resolve dar um encorajamento a ela, apesar de não ser muito bom nisso.

"Ele quis se vingar de mim. Ele ia me enterrar."

Simon não responde, a resposta dela o deixa sem palavras.

"Achei que não ia te achar com vida, que bom que cheguei a tempo."

"Sim... Acho que no final das contas eu achei que pudesse dar conta de mim mesma, mas estava errada. Nem todo o arsenal do mundo seria suficiente."

"Então, você não tem culpa. Você é uma civil... Estar sozinha no meio do nada também é ter muita coragem."

"Com a minha casa em ruínas, eu não sei mais o que fazer."

"Olha, eu não sei como te fazer sentir melhor... E nem sei se tenho condição de te oferecer alguma opção melhor do que a de sair daqui."

"Ir pra onde?"

"Isso é com você, posso te colocar em qualquer lugar do mundo."

Aquela afirmação abre um leque de oportunidades para Sora, mas ainda sim, ela tem muito medo de deixar a montanha para trás, no fundo, ela tem a esperança de que pudesse de alguma forma reconstruir sua casa, mas lembra de sua conta bancária, que não tem muito dinheiro guardado, e de conhecidos, só tinha Oliver e Susan.

"Olha, tem um certo lugar, que na verdade eu nem ao certo sei porque comprei." - começou a contar meio que dando de ombros, como se aquela decisão da sua vida não tivesse importância - "Imaginei que quando tivesse alguns dias de folga pudesse me isolar lá, mas muita coisa aconteceu e eu nem tive tempo de planejar uma reforma."

Sora sentou-se de frente a ele, curiosa com o que ele poderia dizer com aquilo, naquele momento, ela sentia uma fenda se abrir sob os seus pés e suas opções eram escassas.

"Você já foi a Inglaterra?" - perguntou, a tirando dos seus pensamentos angustiantes que faziam uma redemoinho da sua cabeça.

"Não."

Ele voltou sua atenção para o computador e digitou rapidamente algumas palavras, abriu a seção de imagens do Google e as fotos mostravam uma praia, com alguns penhascos, alguns vilarejos e campos esverdeados.

"Essa é a costa da Cornualha. O lugar que eu comprei uma casa... Bom, não diria que seria uma casa, é um pequeno castelo antigo, deve estar totalmente em ruínas, como não tive condições de dar manutenção."

"Você comprou um castelo." - os olhos dela se arregalaram e exprime surpresa genuína sobre o fato.

"Estava preço de banana pelo estado." - ele rola seus olhos para o alto e contrapõe tentando não fazer daquela informação grande coisa - "As manutenções que seriam extremamente caras."

Sora olhava bem as imagens, era uma paisagem totalmente diferente do que ela imaginava, a falta de árvores e a exposição da região a deixavam ao mesmo tempo que fascinada, lhe geravam uma certa sensação de vulnerabilidade. Ela sempre foi acostumava a andar pelas sombras das copas das árvores e nunca se imaginou andando em um campo aberto ou a beira de uma praia, era um cenário completamente diferente do que tinha vivido.

"Eu preciso de alguém que fique por lá e acompanhe a reforma, eu devo ter mais alguns anos servindo o exército, e pensei em apodrecer ali." - ele diz em tom sarcástico, mascarando o peso que seria se transformar parte da edificação de pedra que havia comprado para si. - "É uma oferta, mas você pode me dizer o que quer fazer ou pra onde você quer ir."

Ela pensa por um instante, nunca pensou em mudar de país, mas estar longe de toda a agitação de uma capital lhe agradava, apesar de ponderar bastante sobre o local.

"Posso te pagar um salário até você decidir o que fazer." - ele pega o ar novamente, nem ele ao certo sabe se está tomando a decisão certa em apresentar aquela proposta a ela, mas dentro de si, ele sabe que da mesma forma que ela o ajudou, colocando um completo estranho a beira da morte em casa, era o mínimo.

"Eu preciso pensar."

"Assim que eu tiver que ir embora, é o tempo de você decidir, e espero que não demore."

Sora percebe que não teria mais a presença do Inglês, e isso a pega de surpresa, ela olha para dentro de si o que vê a assusta, ela nem ao menos sabe o que ele gosta de fazer, foi pouquíssimo tempo para conhecê-lo e por que ela estava de repente sentida que ele teria que ir embora? Pelo seu maneirismo, era uma pessoa muito fechada, de poucas palavras, o olhar perdido e por vezes desesperançoso. Ela esteve tanto tempo sozinha na cabana que nem lembrava o que era estar perto de outras pessoas, e talvez, ele tivesse passando pelo mesmo.

"Como são as pessoas lá? Aliás, como é lá?" - ela pergunta, com vergonha de estar transparecendo um interesse repentino novamente.

Por um momento, por baixo da barba, Simon levanta o canto da boca em um rápido sorriso, que faz questão de conter antes de começar a contar.

"Ah, então, como Britânicos são pessoas mais fechadas por natureza, não é muito diferente das pessoas daquele vilarejo, por pouco tempo que fiquei lá, pude perceber, mas tem aquele certo calor de interior, você deve ver isso aqui, pela hospitalidade de Oliver e principalmente de Susan, isso pude perceber." - começou seriamente. - "Mas é um lugar bem tranquilo, nada demais acontece. As vezes, alguns turistas, mas nada muito cheio e nem muito bagunçado, talvez você tenha uma maior experiência que eu se resolver morar lá."

"Entendi..." - ela pondera, enquanto cruza os braços e tenta se imaginar em um castelo de pedra, provavelmente frio e solitário, nada muito longe do que já estava acostumada. - "Vou pensar a respeito."

"Sendo sincero, eu te sugeriria tentar ficar perto de pessoas, não quero parecer que estou fazendo isso por interesse, mas você é jovem, pode viver muita coisa, ao invés se isolar."

Aquilo a deixa pensativa por alguns minutos, e ele sabe que pelo seu silêncio e a maneira que evita contato visual, ela provavelmente se encontra em dúvida e apreensiva quanto a essa decisão.

"Bom, eu preciso ir ao banco, tentar ver se consigo acesso a minha conta, acredito que consiga apenas pela digital, não podemos ficar aqui de qualquer jeito e nem muito tempo incomodando os dois." - ela se levanta e ele faz o mesmo - "Não precisa vir se não quiser, é melhor você descansar."

"Não vou deixar você andando sozinha por ai." - ele pondera em um tom autoritário, apesar de não conseguir fazer muito por causado braço enfaixado.

Ela suspira, sabendo que não vai conseguir discutir muito com o Inglês e permite que ele a acompanhe durante os seus afazeres na cidade. Simon anda ao lado de Sora como se fosse um sentinela, olha para todos os lados e observa todas as pessoas que cruzam o caminho de ambos, parece que realmente, é uma cidade muito tranquila, sem muito movimento. As pessoas andam pacificamente e mal elas sabem dos últimos acontecimentos da região, e na cabeça de Simon, era bom que continuasse daquela maneira.

Sora consegue averiguar a quantidade de dinheiro que tem em sua conta e consegue fazer um saque de uma quantia, era o suficiente para suas despesas pessoais e as que Simon necessitasse, até seu apoio chegar. Ambos resolvem ir em uma loja de departamento e comprar roupas e calçados novos, ao entrar com algumas roupas no provador, Simon olha para si mesmo no espelho e mais uma vez, sente-se incomodado pela sua imagem, tanto em estar vulnerável e totalmente exposto quanto pelo cabelo e barba compridas, talvez fosse melhor assim por hora.

Após as compras, ambos resolvem parar em um restaurante, e o vislumbre de um almoço aquecia o coração de ambos, ele para e suspira, olha para o prato quente e depois através do vidro onde ainda conseguia ter um vislumbre do pico branco da montanha, pensativo sobre tudo. Lá na montanha, jazem os corpos dos seus companheiros, e ele imagina que caso não tivesse sido tão descuidado, todos estariam vivos, ele se julga e se culpa mais do que qualquer Capitão faria caso cometesse um erro.

"Tá tudo bem?..." - ela pergunta, quebrando o transe em que ele se encontrava.

"Sim, sim, não é nada." - ele volta a atenção e começa a comer.

Assim que terminam de almoçar, retornam a casa, já se foram algumas horas desde que saíram e assim que chegassem, esperavam que talvez Susan tivesse alguma notícia de Oliver e os outros, mas não é o que acontece. Chegam e encontram uma Susan pálida, tentando ligar a todo momento, mandar mensagens, suas mãos tremem e ela toma um copo d'água de uma vez. Ela encara os dois com o olhar petrificado.

"Não consigo falar com Oliver."


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