Wolf and Raven

37.

No dia seguinte, Sora aguardava a chegada de Simon na entrada da cidade, ela levava consigo uma bolsa tira-colo com o notebook, uma mochila preta nas costas com seus itens básicos. Usava um gorro e um sobretudo preto, uma blusa branca de manga comprida por baixo e um jeans surrado, além das botas de cor caqui. Na planície gramada a frente, ela avista a chegada de três carros, e um frio da barriga toma conta dela. Antes que eles se aproximem, ela dá uma última olhada para o que tinha sido seu lar, a montanha que emoldurava a pequena Fort Nelson. A despedida de Susan não tinha sido fácil, e mais difícil ainda era não conseguir explicar ao certo o que estava acontecendo, quanto menos ela soubesse melhor. Já havia sido muito sofrimento para a viúva de Oliver. 

Os carros estacionam, e de um deles sai um homem alto, de calça jeans e jaqueta preta, com um gorro acima da cabeça e mascara preta com a pintura branca manual de caveira aparece. Mais uma vez, o frio invade seu estômago, era ele. Ele e mais dois homens se aproximam dela, ambos, observando o local ao seu redor até que ela esteja dentro do carro com eles. Dentro do carro, Simon e encara e depois, volta a olhar para a frente, estando a o lado do motorista. Ambos começam a partir em direção ao aeroporto militar mais próximo, onde um avião os esperava para a extração. Durante todo o caminho, silêncio, e ela quando tentava abrir a boca, pensava duas vezes. Haviam outras pessoas que talvez não soubessem o que havia se passado na montanha, não apenas o conflito, mas o período de proximidade dos dois.

Dentro do avião militar, não havia conforto, e sim um barulho ensurdecedor de metal colidindo entre si, até que foi lhe dado um fone. Abraçada ao notebook, ela olhava para o chão. Não haviam janelas que pudessem lhe dar uma dimensão de onde estava e nem a paisagem que pudesse lhe dar uma dica de onde iria parar. 

"Não é muito confortável, mas foi o mais rápido que consegui providenciar" - a voz rouca ecoou pelo seu fone, e ela olhou para a frente mais na extremidades dos assentos onde Simon se sentava. 

"Não tem problema." - ela tinha sido tirada do seu repentino cochilo pela sua voz, e falou baixinho, com receio de que a conversa de alguma forma vazasse para os outros membros da tripulação - "Onde nós vamos?"

"Inglaterra. Você vai ficar em uma unidade segura até descobrirmos o que tem aí." - dizia se referindo ao notebook.  - "É claro que vão te fazer perguntas em troca de proteção, e talvez fosse melhor você responder todas." - ele dizia seriamente, a voz sempre com o mesmo tom onde quase não havia demonstração de emoção.

"Ok... Eu sinceramente não sei muita coisa além do que te contei e..."

"Melhor deixar pra falar sobre isso por lá." - ele a cortou, mas logo, demonstrou interesse em continuar a breve conversa - "..Então, como tem sido por la?"

"...Ah sim.. Bom, eu estava indo limpar o terreno. Eu ia reconstruir, como te falei e ai... Era só uma curiosidade... Encontrei o... Item."

"Certo. É uma pena." - ele declarou de modo simplista se referindo ao fato de que os planos dela tinham sido atrasados por ter encontrado algo mais próximo de uma evidência do que um mero item de um soldado canadense.

"Parece meio longe essa possibilidade vendo que estou indo para a Inglaterra. Parece que sua opção está sendo mais viável agora."

Simon vira o rosto para ela e se lembra da propriedade que tem esquecida na costa Sul da Inglaterra. 

"Talvez, depende de você." 

Ela fica em silêncio, pensativa, abraça o notebook com mais força contra o corpo. Ela tenta não se culpar mais uma vez, mas o sentimento vem forte, e talvez ter deixado tudo para trás seria uma opção. Talvez a ideia de passar o resto dos seus dias como parte de um mausoléu não seria uma ideia ruim. 

As horas se passam e Sora pega no sono, encostada a cabeça em uma parte de metal do avião, ela tem sonhos e pesadelos misturados com o homem de Shemagh, Ivankov e James. Com o solavanco do avião pousando em solo Inglês, ela acorda exasperada.