♤ A Masmorra ♤ pt.1

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♤POV:Mal♤

Eu nunca tinha estado em uma masmorra antes. Nem mesmo entendia porque haviam masmorras em Auradon se, teoricamente, todos as posssíveis ameaças já estariam aprisionadas  em uma ilha, cercados por uma barreira mágica, mas talvez o Castelo Real fosse mais antigo que a própria Auradon. Eu só não imaginava que masmorras tivessem camas.

 Me revirei nos lençóis, sentindo a textura macia deles entre os dedos. Não parecia seda como os do quarto de Ben, nem linho como os que haviam nos quartos dos dormitórios acadêmicos, mas eram igualmente confórtáveis,  como algodão puro tecido á mão.

Á contragosto abri lentamente os olhos, tentando me acostumar á claridade do sol que entrava pelas frestas das cortinas, repentinamente tomando consciência do meu corpo e de como ele parecia dolorido e pesado. Olhei ao redor, examinando o ambiente e tentando inúltimente reconhecê-lo. A estrutura do lugar indicava que eu estava em uma casa baixa de madeira, pefeitamente arrumada e decorada, ainda que os poucos móveis do cômodo fossem modestamente rústicos: uma cômoda de cabeceira com um jarro de margaridas, uma poltrona próximo a janela e uma estante de livros recostada na parede oposta. O ar cheirava á hortelã. Eu definitivamente, não estava em uma masmorra. Será que eu havia morrido? 

Tentei mover minhas pernas mas fui subitamente tomada por uma dor excruciante na minha panturrilha esquerda. É, eu não estava morta. Não que eu já tivesse morrido alguma vez para saber como parecia, mas imaginava que tivesse algo haver com não sentir nada, incluindo dor. Ao erguer os lençóis percebi que estava seminua da cintura para baixo e corei violentamente.

- Ah, a filha da Malévola acordou. - Uma senhora gorducha e baixinha apareceu na porta, carregando consigo uma bandeja. Mas não era comida que ela trazia, para infelicidade do meu estômago que ronrronava como um gatinho filhote assustado. Eram ataduras, algodão e algo líquido que eu imaginava ter propriedades antissépticas por causa do cheiro. - Posso? - Ela disse fazendo menção a retirar os lençóis.

Instintivamente os puxei contra meu corpo e recuei, me sentindo completamente vulnerável. Ela suspirou, pacientemente.

- Eu sou Vera. - Ela se apresentou enquanto sentava na beirada da cama e delicadamente descobria  a parte inferior das minhas pernas, de modo que apenas os meus tornozelos ficassem visíveis. Meus ombros relaxaram aos poucos e eu notei que minha panturrilha já estava enfaixada em um ponto. Vera não veio para fazer um curativo, mas para trocá-lo. - Qual o seu nome, querida? 

- Você sabe de quem sou filha, mas não sabe meu nome? - Temi ter soado rude mas continei a esperar pela resposta, torcendo para que ela notasse a contradição dos fatos e não se sentisse ofendida.

 Ao que ela respondeu com um breve sorriso gentil enquanto erguia meus pés e os colocava sobre o colo.

- Eu reconheceria esses olhos em qualquer lugar. - Franzi as sobrancelhas, analisando-a. Algo naquela afirmação e no modo como ela se portava pareciam-me extremamente familiar.

- Olhos? Eu não estava dormindo até tipo, dois minutos atrás? - A confusão em meu rosto devia ser evidente. Será que no fim das contas aquilo tudo era um sonho? A irracionalidade daquela conversa indicava isso.

- Correção: você estava inconsciente até dois minutos atrás. Não significa que dormiu tranquilamente durante todo o período desde que chegou aqui. - Vera cortou a atadura com uma tesoura de aço pequena e começou a desenfaixar meu tornozelo.- Você não só abriu os olhos diversas vezes como ficou delirando e balbuciando sobre um rapaz e varinhas mágicas. 

Ignorei a última parte propositalmente.

- Como assim ''o período desde que cheguei aqui''? A quanto tempo  isso se refere?

- Você está desacordada desde que chegou, há duas noites atrás. Os outros levaram menos tempo, talvez tenham  ingerido uma dose menor de veneno. - Veneno?  Ela desfez a última volta da faixa (ou a primeira, dependendo do ponto de vista) e eu segurei um arquejo ao encarar o ferimento, que aparentava ser profundo, embora estivesse começando a cicatrizar. Eu me perguntava o que poderia ter causado aquilo. 

- E onde estão os outros? - Perguntei, imaginando que ela se referia aos meus amigos. Acho que só eles poderiam responder todas as dúvidas que eu possuía de forma clara.

- Minha irmã, Fauna, ficou de mostrar a cidade para eles. Nesse momento devem estar almoçando em algum lugar. Quer ir encontrá-los? 

- Fauna? - Engrenagens girando em minha cabeça. O sorriso da mulher se alargou, docemente. - Fauna tipo, a fada da princesa Aurora? - Ela assentiu com a cabeça. - Isso quer dizer que você...

E então tudo passou a fazer sentido. Quando conversei com Audrey ela chegou a mencionar que as madrinhas moravam naquela floresta. 

''Eu reconheceria esses olhos em qualquer lugar'' foi o que Vera disse. Olhos verdes, olhos como os de minha mãe, porque ela a conhecia, conhecia Malévola. Vera era um apelido... para Primavera. Permaneci imóvel por alguns segundos assimilando a idéia.

- Certo. - Eu disse enquanto saía do meu transe. Então notei que havia ignorado a pergunta sobre encontrar meus amigos.  - Aonde está a minha calça?

- Espero que não se chateie,  mas tivemos de jogá-la fora. Estava empapada de sangue quando você chegou e Evie teve de cortá-la para que eu pudesse dar uma olhada no ferimento. Mas não se preocupe, acredito que eu tenha algo aqui que possa lhe servir. 

Vera começou a revirar as gavetas da cômoda ao lado da cama, enquanto resmungava sobre como suas irmãs sempre retiravam  coisas do lugar e não as devolviam para  onde estavam antes. Por fim ergueu as sobrancelhas como se finalmente tivesse encotrado o que estava procurando e  retirou um vestido de tecido semelhante ao do lençol, exceto pela cor terrosa-alaranjada.

- Este aqui deve servir. Vou sair para que você possa se arrumar, me chame  se  precisar de alguma coisa.

Agradeci com um sorriso tímido.

O vestido possuía um decote modesto e mangas curtas, era adornado com bordados simples de flor e seu comprimento ia até metade da canela de modo que cobrisse o ferimento, e eu me senti grata porque poderia evitar perguntas que eu sequer saberia responder. O caimento era fluído e disfarçava um pouco quando eu mancava.

Atravessei a porta e me deparei com o que parecia ser uma sala de estar no mesmo estilo rústico do quarto:  paredes de madeira desgastada, uma lareira de pedras no centro, uma mesinha ao canto com três cadeiras, uma escadaria e prateleiras que exibiam os mais variado objetos, livros, flores em conserva e cristais.

- Ora, ora, mas você é mesmo uma coisinha formidável. - Vera sorriu enquanto descia os degraus. - Como sua anfitriã tomei o cuidado de lhe garantir um meio de transporte. O restaurante não é tão longe, mas qualquer distância é longa demais para quem tem um ferimento.

- É muita bondade sua. - Agradeci novamente, meio sem jeito. Não entendia porque ela estava fazendo tudo aquilo por mim, é claro que eu conhecia todo aquele discurso de bondade altruísta, mas ela não deveria guardar algum tipo de rancor por mim?

- Ele já deve estar lá fora, melhor se apressar querida. 

Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }Onde histórias criam vida. Descubra agora