♤ Pais ♤

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♤Pov: Mal♤

Recebi um torpedo de Ben pedindo para que eu o encontrasse no Ginásio, em meia hora. 

Chegando lá, sentei nas arquibancadas e  esperei o treino terminar enquanto observava meu namorado, que parecia nervoso. Seus ombros estavam tensionados e ele parecia centrado, havia tanta determinação em seus olhos que eu podia jurar que o gol era seu inimigo mortal, e não apenas um alvo. Seu time marcou um ponto e o treinador soou o apito indicando o fim do treino.

 O time de Ben se juntou para comemorar em um grito de guerra mas ele apenas deixou seu taco cair e se dirigiu para fora da quadra de cabeça baixa, sem perceber que estava vindo em minha direção. 

- Espero que não estivesse pensando em mim quando marcou aquele ponto. - Chamei sua atenção para mim, enquanto me levantava.

Notei que seus cabelos úmidos caiam perfeitamente sobre a testa e que a blusa grudada ao corpo ressaltava os músculos definidos de seus braços. Ben notou minha presença e instâtaneamente seus ombros se relaxaram. Ele sorriu de canto para mim, com a respiração ofegante. Senti uma onda de calor percorrer o meu corpo.

- Eu quase sempre estou pensando em você, princesa.

Ele subiu até onde eu estava e aproximou nossos corpos, me segurando pela cintura e me encarando de cima porque era mais alto. Daquele ponto de vista, seu rosto contra a luz do sol, ele quase parecia um deus grego, sorrindo mais uma vez antes de me roubar um beijo lento e quase desesperado, como se eu fosse oxigênio e ele estivesse prestes a sufocar.

Ouvi gritos e palmas ao longe, e a contragosto empurrei o peito dele separando nós dois.

Agora ambos estávamos ofegantes. Ele se virou percebendo a pequena platéia, do outro lado do gramado.

- Estamos em público...é...ok. - Ele passou a mão pelos cabelos enquanto tentava organizar os próprios pensamentos. E então olhou pra si mesmo. - E eu estou todo suado. - Ele fez uma cara de desaprovação. - Cinco minutos, linda, é tudo que eu preciso. - Ele indicou o banheiro do vestiário com a cAbeça. - Ah não ser que você queira vir comigo, daí nós iríamos precisar de mais tempo. - Havia um brilho de divertimento em seu olhar.  

- Como você é bobo. - Revirei os olhos, tentando não sorrir. - Anda logo com isso. - Apressei.

Ben tentou me dar mais um selinho mas eu desviei o rosto, levando-o sem querer a beijar meu pescoço.

 - Não demoro. - Ele reafirmou, antes de me dar mais um beijo na testa e sair correndo.

☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆

Minutos depois estávamos os dois sentados em um banco, em baixo de uma árvore, no lado de fora de uma sorveteria. 

- Por quê me trouxe aqui? Você não deveria estar super ocupado com a chegada da coroação? - Disse, enquanto comia meu sorvete de morango com calda de caramelo.

- Eu precisava ver você. - Ele sorriu. - E precisava esfriar a cabeça... - Ben encarou o próprio sorvete. Ele havia pedido o exato sabor oposto ao meu, caramelo com calda de morango, enquanto falava alguma bobeira sobre sermos opostos perfeitos para a atendente, que ria diante de tamanha breguice e me fez revirar os olhos escondendo um sorriso. - Além disso, os preparativos da coroação estão momentaneamente pausados por conta da festa do dia da família.

- Ah sim. A fada Madrinha tentou nos fazer uma surpresa hoje por causa da "distância". - Comentei. - Uma videochamada com nossos pais. Mas acho que não saiu muito como o planejado.

Ben não respondeu ao meu comentário. Estava distraído, perdido em pensamentos.

- Quando eu era menor, eu achava que se as crianças da Ilha ficassem perto de seus pais isso poderia despertar nos vilões sentimentos positivos, porque eram do mesmo sangue e isso deveria influenciar  em alguma coisa. Mas daí eu cresci  e percebi que nem mesmo ser uma pessoa boa faz de você necessariamente um bom pai e aí...

- E aí você teve a brilhante idéia de roubar quatro crianças de seus pais e se responsabilizar por cultivar nelas esses sentimentos. Conheço essa história. - Sorri.

- E quando eu olho pra você, sei que tomei a decisão certa. - Ele me encarou, sério, acariciando a minha mão.

Em seguida Ben se levantou levando nossas embalagens vazias de sorvete até o lixo. Quando voltou, deitou-se no banco e repousou a cabeça em meu colo. Passei os dedos entre seus fios castanhos, e ficamos assim por alguns segundos em completo silêncio.

- Mal? - Ele chamou e eu o encarei. - Você acha que eu seria um bom pai?

- Por quê a pergunta? - Questionei.

Ele suspirou, como se estivesse indeciso sobre continuar com aquela conversa.

- Ás vezes eu sinto como se meu pai tentasse ter controle sobre todos os aspectos da minha vida. Ele me criou como seu sucessor ao trono, não como filho. E a maior parte da minha vida ele tentou tomar decisões por mim que praticamente nunca levavam em conta a forma como eu me sentia em relação aquilo.

Benjamin brincava com a manga do meu casaco, e minha mão repousava sobre seu abdômen. Eu compreendia perfeitamente o sentimento, mas decidi permanecer em silêncio e ouvi-lo com atenção. Deduzi que o pai fosse o motivo de ele parecer tão bravo no treino hoje. E se eu estivesse certa, talvez eu  fosse o motivo da discussão entre eles.

- Quando eu tinha seis anos, - ele recordou - fiquei de castigo porque tropecei  na inauguração da nova biblioteca. Eu comecei a chorar porque me assustei com os flashes em minha direção assim que caí. Meu pai achou que com seis anos eu ja deveria saber que um futuro grande governante jamais pode demonstrar sentimentos em público e me trancou de castigo em meu quarto, para que eu ficasse sozinho o dia inteiro. Minha mãe tentou debater, mas meu pai estava irredutível, então ela apenas acatou a decisão dele e ordenou que me levassem umas cesta de doces no quarto, em nome dela. E foi nesse dia que eu conheci  Célia e descobri que ela havia sido minha ama de leite. - Havia um sorriso triste no canto de seus lábios.

Em outras circunstâncias eu teria ficado surpresa em descobrir que a familia modelo de Auradon não era tão perfeita assim. Mas depois do incidente com o rei Adam, nada de ruim que viesse dele me surpreenderia.

 Mais um tópico para se acrescentar na minha lista mental de ''Motivos para a barreira da Ilha ser completamente injusta'': A barreira não definia o caráter de quem estava dentro ou fora dela. Nem todos os vilões estavam aprisionados. 

- Por isso, - Ben continuou - acabei colocando na cabeça que quando eu tivesse minha própria família faria tudo completamente diferente. Mas agora, sinto que a falta de referências faria de mim um péssimo pai.

- Você só pode estar brincando. - Eu ri de descrença. - Ben você é simplesmente o cara mais gentil que eu conheço, incapaz de fazer mal a uma mosca. Qualquer criança seria muito sortuda em ser seu filho. - Eu estava sendo totalmente sincera. - Além do mais não dizem por aqui que é com os erros que se aprende? Você vai ser tipo o rei dos pais.

- Rei dos pais. - Ele repetiu, analisando a sonoridade da expressão e se sentou novamente, deixando a cabeça pender sobre o encosto do banco, enquanto encarava o céu. - Eu gostei. - Ben sorriu. - Obrigada, Mal.

Eu sabia que ele não estava agradecendo apenas pela piada.

Começou a garoar e voltamos ao dormitório, respingos sobre nossas cabeças enquanto caminhavámos de mãos dadas comentando entre sorrisos os nomes mais bonitos para bebês.

- Nome com a inicial dos pais é tão brega, nós deveríamos quebrar esse ciclo. - Opinei.

- Eu não teria o menor problema em ter uma filha chamada Beatrice Bertha, ou quem sabe Malcolm Florian?

Me dobrei de rir e ele me acompanhou, como se não pudesse resistir ao som da minha risada. Então me ergueu em um rodopio e me beijou.

- Eu amo você. - Ele sussurrou.

- E eu amo o gosto de chuva nos seus lábios.


Notas da autora:

No outro app falaram que pelo nome do capítulo acharam que eu ia anunciar uma gravidez kkkkkkkkkkkk vcs gostariam de ver algo assim na  história?







Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }Onde histórias criam vida. Descubra agora