♤ A conversa 1- 2 ♤

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♤POV: MAL♤

Adentrei o meu dormitório e joguei as chaves em cima do criado mudo. Deixei a bolsa em um lugar qualquer e me lancei sobre a cama, afundando o rosto no travesseiro.

- Você não vai falar nada? - Evie questionou, e me virei em um sobressalto. Como eu não tinha visto ela ali?

- Evie? Você não deveria estar na escola? - Falei, engolindo em seco.

- E você também, não? - Ela me lançou um olhar mortal. - Talvez eu tivesse ido, se não tivesse passado a manhã inteira procurando por você. - Ela parecia muito brava. - Como você se atreve a sumir assim, Mal? Eu praticamente nem dormi de preocupação. Tem noção das possibilidades que passaram pela minha cabeça? Eu considerei até mesmo que você teria sido burra o suficiente pra tentar roubar a varinha sozinha, tinha sido descoberta, capturada pelos guardas e agora estava mantida em cativeiro até que eles decidissem o que fazer com a nova prisioneira. Exatamente o que eu gostaria de fazer agora com você agora.

Permaneci em silêncio, sem saber o que dizer. Evie só estava tentando demonstrar que se importava comigo, da maneira dela.

Seu semblante mudou quando ela me analisou com mais atenção.

- Você está chegando agora com a mesma roupa que saiu ontem? - Evie franziu as sobrancelhas, e um leve momento de tensão se instaurou. Eu quase podia ver as engrenagens girando em sua cabeça e as peças se encaixando.- Você dormiu com o Ben, Mal? - ela disse, elevando um pouco tom de voz, incrédula.

- Fala baixo! - Ordenei, sussurrando. Me recostei no travesseiro e olhei para o teto. - Simplesmente aconteceu. - Admiti. - Acho que eu fiquei tão envolvida em tudo que quando voltei à realidade eu já estava acordando no quarto dele.

- Isso não fazia parte do plano. - Ela afirmou calmamente. - Você realmente está gostando dele, Mal. - Ela tentou assimilar a idéia. O que era aquilo nos olhos dela? Pena? - O feitiço virando contra o feiticeiro. - Ela sorriu com pesar.

- Mais do que eu gostaria. - Assenti. - E a culpa é toda dele e daqueles olhos castanhos. - Bufei. Em seguida peguei um travesseiro, pressionei contra meu rosto e gritei, tentando dissipar toda a confusão da minha mente, em vão. Evie se limitou apenas a me observar, de modo compreensivo.

- E o que faremos agora? - Ela questionou.

- Como assim ''o que faremos''? Seguiremos com o plano. - Falei, como se fosse óbvio.

- Mas...

- Não tem nada de ''mas'', Evie. - A interrompi, séria. - Por acaso esqueceu que Ben está sob o efeito da poção do amor? Nada disso é real. Ele nunca olharia para mim se não fosse esse feitiço idiota. - Encarei o chão. - Além do mais, tenho quase certeza de que o que estou sentindo é passageiro e não passa de um efeito colateral do ar sentimentalista desse lugar. - Falei, me referindo a Auradon, com certo nojo na voz.

Ela pareceu ponderar os meus argumentos.

- É por isso você que estava lendo a receita para quebrar feitiços de amor?- Ela indagou.

 A pergunta me pegou de surpresa e eu me senti encurralada.

- Evie, você andou mexendo nas minhas coisas de novo? - Indaguei, com uma raiva contida.

- Foi você quem deixou o livro aberto e jogado na escrivaninha. - Ela se defendeu. - E você não está respondendo a minha pergunta.

Revirei os olhos, e me sentei na cama. 

- Eu apenas pensei que... - As palavras saíram com dificuldade. - Que quando quebrarmos a barreira da ilha, e todos os vilões vierem roubar, saquear e distruir tudo que é bom e belo... - Fiz uma pausa, imaginando a destruição daquele lugar. Eu havia idealizado ''A vingança'' desde que era criança. Era um dos meus passatempos favoritos com minha mãe. Mas por algum motivo, agora pensar nisso me deixava apreensiva. - Ben ainda vai estar apaixonado. - Continuei. - E isso seria... cruel demais. - Finalizei, com a voz embargada. Lágrimas quentes e densas rolavam pelo meu rosto.

Evie se sentou ao meu lado e me abraçou em silêncio. Não pude deixar de me sentir patética. O que minha mãe diria se me visse falando daquela maneira? "Cruel demais"? Talvez ela questionasse a própria maternidade. "Não existem limites para crueldade." ela afirmaria. E talvez me deserdasse percebendo minha exitação em provocar dor e sofrimento alheio. Isso se ela possuísse algum bem além daquele cetro empoeirado, o que não era o caso.

Provavelmente mamãe também me acharia fraca.

Era exatamente assim que eu me sentia. 

☆☆☆☆☆☆☆

Por conta do cansaço emocional, acabei pegando no sono com a cabeça no colo de Evie, enquanto ela passeava com as mãos em meus cabelos.

Acordei com batidas na porta. O quarto estava vazio, então imaginei que minha amiga havia ido buscar algum livro na biblioteca.

Ultimamente ela estava se dedicando intensamente aos estudos, justificando que o conhecimento também era uma arma muito poderosa. Mas eu sabia que não era só isso. Graças à Rainha Má, Evie cresceu achando que não passava de um rostinho bonito. No entanto, agora que conhecera Doug ela estava descobrindo que tinha muito mais habilidades e talentos, e que gostava de aprender coisas novas.

    De repente, como se acordasse de um sonho ruim, ela percebera que não precisava fingir ser burra para conquistar nenhum garoto inseguro, minimamente bonito (mas entediante), que lhe daria um castelo, e uma carruagem; porque (acredite só!) haviam outros objetivos, outros sonhos e metas. Ela podia conquistar uma profissão! Trabalhar com o que gosta e até mesmo comprar o próprio castelo se quissesse. Evie até começara a ler revistas de arquitetura porque também lhe agradava a idéia de construí-lo.

Não de modo físico, é claro, porque ela não levava jeito para trabalhos manuais, e detestava qualquer atividade que envolvesse esforço. Mas ela poderia desenhá-lo! E lá se iam horas falando sobre o castelo perfeito. Eu adorava ficar ouvindo ela, principalmente quando me incluía nas suas fantasias. Minha melhor amiga era meu principal suporte, e eu não poderia ficar mais feliz pela mudança dela.

Me levantei da cama em direção à entrada do quarto.

- Evie, quantas vezes preciso te lembrar de levar as chaves quando... - Abri a porta,  silenciando abruptamente ao encarar a figura de costas, recostada no batente.

- Olá, querida. - Ele disse polidamente, enquanto se virava, e acho que estremeci com o som de sua voz. - Podemos conversar?

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NOTAS:
Já estou escrevendo o próximo capítulo, talvez eu lance amanhã.
Curiosos???🤭

Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }Onde histórias criam vida. Descubra agora