Abri os olhos, um pouco receosa, temendo que eu tivesse mandado á mim e Flora para alguma espécie de limbo no espaço-tempo. Enquanto meus olhos se acostumavam á claridade do ambiente, senti uma rajada de ar frio congelante eriçar os pelos dos meus braços e por um momento desejei que a capa, que minutos atrás parecia quente demais, fosse um pouquinho mais grossa. Flora se dirigiu para a janela de onde a corrente de ar vinha e a fechou.
- Onde nós estamos? - Questionei, analisando o amplo salão. Haviam várias escadarias espalhadas, e nas paredes estantes repletas de livro que iam do chão até o teto abobadado.
- Por curiosidade, no que exatamente você pensou quando abriu o portal? - Flora parecia um pouco irritada, mas no jeito habitual dela de ser, contido. - Porque isso não me parece o corredor de uma passagem secreta. - Ela disse enquanto assoprava o focinho de nossos cavalos, fazendo com que eles voltassem a ser apenas frágeis raminhos belladona, agora de aspecto ressecado.
-Folhas. - Confessei, me sentindo confusa. Não havia nenhuma vegetação ao redor, por quê o portal teria nos levado até ali?
- Isso explica muita coisa. Auradon está passando pelo pior inverno de sua história desde muito tempo. - Flora explicou, e eu caminhei em direção a janela, para confirmar a informação. Lá de cima pude ver todo o reino soterrado por uma fina camada de neve. - É como uma seca em que a única coisa que se tem é agua, água congelada. Como não encontrou nenhuma planta, o portal nos trouxe para outro tipo de folhas. Se eu estiver certa, estamos na biblioteca real do castelo.
- E o que faremos agora? - Diminui o tom de voz, tomando consciência repentina do perigo que estava correndo. Provávelmente haveriam guardas bem próximos, patrulhando a entrada do cômodo.
- Exploraremos o ambiente, e procuraremos pelas passagens secretas. Tenho quase certeza de que há alguma por aqui.
Balancei a cabeça em afirmação.
De repente, uma pergunta genuína despontou em meio aos meus pensamentos.
- Como conhece tanto assim o palácio?
A pergunta parecia um pouco óbvia, já que Flora fora ama de leite de Ben, o que significava que ela vivera lá por mais de 20 anos e conhecia bem o local.
Mas passagens secretas eram para ser secretas. Elas eram conectadas á pontos estratégicos do palácio para permitir a fuga ou o esconderijo de membros da família real se o castelo estivesse sofrendo algum ataque interno, e apenas os membros da família real e altos cargos da guarda tinham acesso a elas. Não é o tipo de informação que se sai contando para qualquer um, como empregados. Talvez ela tivesse descobrido sozinha, por acidente, ou talvez Ben a considerasse de confiança e tenha mostrado para ela, como fez comigo. Infelizmente, Flora já estava longe demais e não ouviu a pergunta.
Resolvi segui sua ordem e comecei a explorar o ambiente, indo na direção oposta á ela para que pudessemos cobrir uma maior aréa.
Avistei uma porta, entre duas prateleiras, que dava para uma espécie de salinha mais afastada. Adentrei, cautelosa, me aproximando da mesa que havia no centro, onde repousava uma pilha de papéis, e dei uma olhada. Decretos reais, relatórios de reuniões, projetos de lei... aquele certamente seria o escritório de Ben.
Comecei a examinar as gavetas dos móveis ao redor sem saber exatamente pelo o quê procurava. Haviam garrafas de whisky pela metade, bombons importados, remédios muito pesados para dor de cabeça (pilhas de embalagens vazias, pra ser mais específica) e recortes de jornais falando sobre a crise que vinha sendo provocada pelo inverno congelante.
Foi então que me deparei com uma gaveta trancada. Insisti em puxá-la mas a madeira era bastante resistente e não seria facilmente arrombada. Procurei por alguma chave nas demais gavetas mas não encontrei nada. Felizmente, isso não era um grande problema para uma portadora de magia. Eu desejei que ela abrisse, e senti a curiosidade, então a gaveta abriu.
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Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }
FanficEm um reino encantado, onde contos de fadas ganham vida, o Príncipe Ben decide quebrar as barreiras que separam o bem e o mal. Ele escolhe quatro crianças da Ilha dos Vilões, uma terra habitada por figuras sombrias, na esperança de guiá-las para um...