♤POV: Mal♤
- Ouçam, - os olhares de meus amigos se voltaram pra mim, enquanto desfrutávamos de nossa sobremesa, um delicioso pudim de amoras selvagens - Sei que talvez não seja o momento ideal para falarmos sobre isso e também não é minha intenção pesar o clima mas...
- Desembucha logo. - Carlos apressou e eu revirei os olhos.
- Eu só não quero ser rude. - Me defendi. - Quero dizer... as fadas tem sido tão gentis conosco, nos abrigando e nos ajudando em tantos outros aspectos que parece extremamente inadequado... desconfiar de tanta bondade.
- Você acha que elas podem estar tramando alguma armadilha? - Jay questionou, indo direto ao ponto.
Suspirei, notando como a minha acusação soava ainda mais horrível quando era verbalizada por ele.
- Eu realmente não sei. - De repente, o pudim ja não parecia mais tão apetitoso, então eu afastei o prato. - Pessoas podem ser genuínamente generosas, certo? Mas não podemos ignorar que elas são madrinhas de Audrey, ou que podem acabar optando pelo que é certo em detrimento do que de fato seria melhor para nós. Além do mais, - diminui o tom de voz, para evitar que nossa conversa chegasse até as outras mesas - não somos como as outras pessoas deste lugar, não estamos aqui por causa da magia. Somos fugitivos.
- Puxa, se você não me dissesse...
Ás vezes eu queria ser capaz de fazer Jay engolir o próprio sarcasmo. Evie tocou minha mão delicadamente e só então eu notei que estava esmagando meu garfo enquanto encarava o rapaz. Soltei o talher, voltando novamente minha atenção para a discussão.
- Você acha que as fadas planejam nos usar como moeda de troca? - Ela me encarou, compreendendo onde eu queria chegar. - Acha que elas podem tentar uma nova negociação á respeito da legalidade da magia em Auradon e oferecer-nos em troca?
Jay e Carlos se tornaram momentâneamente sérios e concentrados na conversa, como se só agora notassem a dimensão dos fatos. Sorri sem humor algum.
- É uma hipótese provável. Benjamin é o novo rei, e seus súditos o consideram mais flexível que o pai. - Ponderei. - Além disso, ele já demonstrou o quanto está interessado em nossos pescoços. Não acho que os arcanianos estejam inconformados com o modo de vida que levam, mas nós também sabemos o que é viver nas sombras, excluídos do acesso à necessidades básicas como água encanada ou tecnologia.
Meus amigos encaravam seus pratos em silêncio, certamente relembrando a infância difícil a que fomos condicionados.
- O que você sugere que façamos, então? - Jay não me encarava diretamente, perdido em pensamentos, mas era perceptível que a pergunta se dirigia à mim.
- Não faço a menor idéia. - Balancei a cabeça lentamente em um gesto de negação - Mas ouçam o que eu digo: estejam atentos.
- Atentos a quê? - Fauna surgiu por de trás de minha cadeira e eu estremeci, num sobressalto. Ela exibia um sorriso amigável que eu retribui tentando disfarçar minha surpresa. A fada ainda estava esperando por uma resposta à sua pergunta.
- E então? Comprou tudo que estava procurando? - Evie questionou, desviando o assunto, e eu agradeci aos céus por ela ser tão habilidosa em contornar situações desconfortáveis. Eu desconfiava que minha melhor amiga estivesse usando o charme em Fauna, pelo modo como a a fada pareceu momentâneamente confusa antes de virar toda sua atenção para ela com um sorriso ainda maior que o de antes, como se a vida inteira estivesse esperado por alguém que lhe perguntasse sobre suas compras. Mas eu não me importava com os meios que Evie utilizava desde que Fauna esquecesse o que ouvira.
- Oh sim, sim! Veja! - Fauna exibia suas mãos cheias de sacolas e uma expressão que carregava um misto de empolgação e contentamento. Esses eram os efeitos do charme. - Eu pretendia ir direto para casa porque a alça dessas sacolas incomodam que é uma beleza, mas enviei um pardal encantado e Vera informou que vocês ainda não haviam retornado. - Seu rosto assumiu um lapso de preocupação. - Então vim procurá-los, pois já faziam horas que eu os havia deixado e nenhuma refeição demora tanto assim! - Fauna ria-se.
Fiz contato visual com Evie e ela entendeu que era hora de parar.
- Tenho certeza de que Jay e Carlos ficariam muito felizes em ajudá-la a carregar todas essas sacolas. - Sugeri, ignorando o protesto silencioso dos rapazes, que não hesitaram em cumprir minha ordem velada. - Agora, o que você estava dizendo sobre as horas? Quer dizer, fazem apenas alguns minutos que você saiu.
- Oh querida, Vera não explicou a vocês? - Olhei para os meus amigos, buscando em suas expressões algum sinal de que soubessem sobre o que Fauna estava falando, mas eles pareciam tão ignorantes quanto eu. - Em Arcânia o tempo dança ao seu próprio ritmo! - Ela disse, batendo palminhas e eu não entendia o que havia de fascinante naquilo. - O que significa que o tempo aqui passa diferente de Auradon e que as horas nunca são aquilo que aparentam.
- Espera. - Jay se pronunciou. - Então quando você disse que veio nos procurar porque haviam se passado horas desde que você havia saído, você realmente quis dizer... horas?
- Veja, por si mesmo. - Fauna instruiu, indicando as janelas.
Carlos tomou a iniciativa e levantou-se de seu assento. Ele afastou as pesadas cortinas de cor púrpura e eu semicerrei os olhos esperando que os raios solares do meio dia atravessassem o vidro cristalino e me incomodassem a vista. No entanto, a única coisa a tocar-me o rosto foi a carícia gélida da brisa noturna. Espera, noite?
Eu não precisava olhar para os meus amigos para saber que eles estavam encarando a janela boquiabertos, tão descrentes quanto eu.
- Isso... isso quer dizer que... - Carlos engoliu em seco. - Enquanto nossa estadia em Arcânia durou dias... podem ter se passado apenas alguns minutos em Auradon?
- Ou anos. - Fauna confirmou. - Décadas quem sabe. O tempo tende a ser inconstante.
Estremeci com a hipótese. Ou fosse apenas a brisa noturna percorrendo a minha espinha e causando-me arrepios. Estávamos em um lugar onde as leis da física e do tempo não se aplicavam da mesma forma que em casa. E agora, tínhamos que aprender a navegar por esse novo mundo, antes que ele nos engolisse por completo, pois não tínhamos para onde ir.
- Ora, não fiquem com essas carinhas. - A voz de Fauna despertou-me de meu transe. - Minhas compras na cidade foram justamente para ajudá-los a se adaptar e estou aqui para ampará-los no que for preciso. Não vejo a hora de mostrar-lhes tudo que comprei. - A fada tentou nos animar, se interpondo entre Jay e Evie e acariciando-lhes o ombro, ao que eles devolveram um meio-sorriso. - Além disso, temos uma convidada especial para o jantar. - Ela anunciou antes de se dirigir ao balcão para pagar a conta.
Talvez tenha sido minha imaginação, mas por um momento pude jurar que Fauna dera uma piscadinha para mim.
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Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }
FanficEm um reino encantado, onde contos de fadas ganham vida, o Príncipe Ben decide quebrar as barreiras que separam o bem e o mal. Ele escolhe quatro crianças da Ilha dos Vilões, uma terra habitada por figuras sombrias, na esperança de guiá-las para um...