♤ A Conversa 2-2 ♤

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♤POV:MAL♤

- Não vai me convidar par entrar? - Ele sorriu, mas não havia humor em seu lábios.

 O sorriso se desfez com a demora da minha resposta.

- Ahn, é claro. - Senti minha voz travar. - Por aqui. - Disse indicando a cadeira da escrivaninha e me sentando na cama. - Receio que este seja o assento mais confortável que possa lhe oferecer, Majestade. 

 Fiquei completamente atônita ao abrir a porta e me deparar com o Rei Fera. Seu nome era Adam, mas ele aceitava o apelido informalmente, dada à sua popularidade. Mil possibilidades passaram pela minha cabeça mas nenhuma justificava o que teria levado o rei de Auradon à se dirigir, sozinho, ao meu dormitório e bater à minha porta em um horário de tão pouco movimento. 

- Presumo que já saiba o motivo da minha visita. - ele me encarava sério, e eu me remexi desconfortável. 

- Pra falar a verdade, - respirei fundo. - eu não faço a menor idéia. 

Ele suspirou, como se me achasse estúpida.

- Eu já sei o que você e meu filho andam aprontando. 

Eu não estava entendendo o rumo daquela conversa.

- Então Ben já contou que estamos... 

- Ah, por favor. - Adam riu com escárnio. - Ben não precisaria me contar nada. Você achou mesmo que seria tão fácil assim adentrar o castelo real sem ser vista? - Ele revirou os olhos. - Me poupe. Eu governei esse reino por mais de vinte anos, nada me passa despercebido. 

- Mas então... - Tentei continuar. 

- Se ninguém impediu vocês foi porque eu não permiti. - Ele me interrompeu, mais uma vez. - Mas isso não significa que não foram notados. 

- Eu não estou entendendo aonde vossa Majestade -  Dei ênfase na palavra, tentando não soar ríspida. Ao invés de intimidada, eu estava apenas começando a me sentir ofendida. - quer chegar. 

- Se possui algum zelo por si, você tem que se afastar de Ben. - Ele disse, sem mais rodeios. 

- Isso é uma ameaça? - Questionei com a voz perigosamente baixa. 

- Eu não citei consequências, nem exigi nenhum prazo. - O rei disse, firmemente, sem alterar o tom de voz. Então pôs-se de pé novamente e começou a andar em círculos pelo quarto. - Deixe-me ser mais claro. Eu não importo com o quê meu filho faz ou deixa de fazer para se divertir. Não vou impedir que ele cometa pequenos deslizes enquanto não for rei, para contribuir com seu crescimento pessoal. Mas sejamos sinceros, querida. Embora eu detestasse a Audrey, nós dois sabemos que você  não é a escolha certa, Mal. Namorar você, não é um deslize de Ben. É um erro. E eu não vou permitir que a inexperiência dele enquanto jovem rei ameace a estabilidade desse país, que eu levei anos para constituir, transformando um projeto de vilã em rainha. - Ele se aproximou, me encarando profundamente. - Eu não sei se conquistar o príncipe faz parte de algum planinho seu. Mas se você pretende tirar algum proveito dessa relação, é melhor ir tirando o cavalinho da chuva, porque eu não vou permitir

Sem mais delongas, o Rei Fera saiu do quarto batendo a porta com força, à passos duros. 

Com o estrondo ecoando pelo quarto, me encontrei sozinha, cercada pelo silêncio tenso e pela fúria que queimava em meu peito. ''Um erro''. As palavras do Rei Fera ressoavam em minha mente, como uma melodia desagradável que se recusava a desaparecer. Durante toda a conversa, mantive um semblante sério e atento, mas relaxado. Como se não desse a mínima e estivesse me esforçando para ouvir. Mas assim que ele saiu, pude sentir minhas bochechas arderem de cólera. Quem ele achava que era para agir comigo daquela maneira? Que se dane o poder hierárquico, naquele momento eu queria a cabeça do rei. Chorei de ódio, vertendo minha raiva descontrolada em lágrimas inconsoláveis.

Avistei algum enfeite de cerâmica sobre a escrivaninha e o arremessei com toda a força contra a parede. Ele se estraçalhou, com o choque, partindo-se em mil pedaços. Era exatamente como eu me sentia.

O som abafado de passos suaves se aproximou da porta do quarto. Antes que eu pudesse limpar as lágrimas que teimavam em escapar, a porta se abriu lentamente, revelando a figura preocupada de Evie, minha melhor amiga e confidente.

Seus olhos se arregalaram ao me ver naquela condição e, sem hesitar, ela fechou a porta atrás de si antes de se apressar na minha direção.

-  Mal, o que aconteceu? - Evie sussurrou, sentando-se ao meu lado na cama e colocando um braço reconfortante ao meu redor. - Shhh, já passou.

Chorei de soluçar, deixando-me desabar contra o ombro dela. Contei a ela sobre a visita surpresa do Rei Fera e as palavras duras que ele dirigiu a mim, com desprezo. Evie ouviu em silêncio, seu olhar oscilando entre compreensão e indignação. Ela não sabia o que dizer e se limitou a continuar me abraçando.

Analisei o ocorrido. Em uma outra situação a indiferença do rei Fera apenas teria me motivado ainda mais a roubar a varinha e suas palavras não surtiriam o menor efeito em mim. Mas naquele momento, quando eu começava a aceitar os sentimentos que nutria por Ben, sua atitude me feriu de modo inimaginável.

 Obviamente, eu não precisava da permissão dele para nada.  Benjamim era um homem adulto e logo seria governante de Auradon, a autoridade máxima. O que de fato me incomodava é que as expectativas de Adam sobre mim estivessem tão corretas. Eu detestava me sentir transparente. E detestava ainda mais que as pessoas estivessem sempre esprando o pior de mim. Era orgulhosa de mais para aceitar a previsibilidade como característica.

Além do mais a opinião do Rei era um reflexo da opinião de seu povo. Ninguém em Auradon aprovava o relacionamento do princípe. Primeiro porque antes de tudo ele ja namorava uma garota, considerada ideal. E eu o roubei dela.

 Segundo porque achavam que não passava de uma síndrome-de-salvador. Para eles, a insistência de Ben  em mostrar que poderia haver algo de positivo nos jovens da Ilha dos Perdidos era apenas uma atitude juvenil e rebelde de desafiar os pais, pagar de herói, ou talvez apenas orgulho em assumir que o seu primeiro decereto real havia sido um completo fracasso. Eles agiam como se fosse inadmissível a possibilidade de que Ben realmente amasse uma garota como eu, e isso me pertubava de alguma forma. Seria eu digna de amor?

Por uma breve momento, quase como um lapso de alucinação, reconsiderei o plano maléfico de minha mãe. Mesmo que motivada por pura vaidade, eu queria provar que todos estavam errados sobre mim. Mais do que isso. 

Eu queria ser a garota certa para Ben.



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NOTAS DA AUTORA:

Acho que esse foi um dos capítulos mais dificeis que eu escrevi até agora. O que acharam???



Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }Onde histórias criam vida. Descubra agora