♤ Mãos de fada ♤ pt.2

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♤Pov: Mal♤

Por um momento pensei que estivesse sonhando. Minha mente , embaralhada pela confusão que a imagem a minha frente me trazia, parecia que nunca mais voltaria a raciocinar com a mesma velocidade de antes. O que ela estava fazendo ali?

A pergunta me deixou zonza, e por um momento pude jurar que minha cabeça girava, ou fosse a sala de estar das fadas girando. Pisquei repetidas vezes, custando a acreditar que aquilo era real.

Assim que cruzamos a varanda e ouvi o som de risadas, recordei-me do comentário de Fauna sobre a visita para o jantar, entretanto jamais pensei que fosse rever uma velha-amiga ao abrir a porta.

Quando saí de meu transe, juntei todas as minhas forças e ignorando a dor em minha perna que parecia aumentar a cada respiração, corri em direção à nossa convidada, abraçando-lhe intensamente. Sendo hóspede da anfitriã, talvez eu estivesse descumprindo com algum protocolo de etiqueta ao cumprimentá-la em um gesto tão íntimo, mas isso pouco me importava.

- Cecé! - Exclamei, com a voz embargada, afundando meu rosto na curva de seu pescoço e inspirando profundamente seu perfume de baunilha, enquanto apreciava a textura suave de sua pele macia e quente. Só percebi que estava soluçando baixinho quando senti o tecido molhado da manga de seu vestido e notei que suas mãos gordas e macias acariciavam suavemente as minhas costas em uma tentativa de me acalmar.

- Shh, está tudo bem, querida, está tudo bem, estou aqui com você. -  Célia sussurrou baixinho , com sua voz doce.

Para ser sincera, eu não entendia porque estava chorando. Talvez fosse o impacto causado por ver alguém querido e familiar depois de acreditar que nunca mais voltaria a ver ninguém que havia deixado em Auradon. Ou quem sabe fosse o fato de Célia ter sido o mais próximo de uma figura materna tradicional que eu já tive. Mas eu desconfiava que o verdadeiro motivo  fosse o peso de tudo que estava associado à imagem de Célia. Sim, aquela dorzinha que eu estava ignorando desde que despertara, e que me fez sentir péssima por acordar, porque quando estava inconsciente eu não a sentia. A dor da angústia sufocante por tudo que eu estava me esforçando para ignorar nas últimas 24 horas. A dor da perda, do medo, da incerteza, da saudade... saudade de Ben. 

Eu quis acreditar que me sairia bem em Arcânia, que esqueceria tudo rápido e que conseguiria me adaptar a nova realidade, como tinha feito ao sair da ilha. Queria acreditar que poderia  viver uma vida nova com meus amigos onde enfim eu poderia priorizar a minha própria felicidade sem ter que me importar com as expectativas alheias que nunca levavam em conta o que era melhor para mim. Mas agora essa mesma realidade me trazia uma dolorosa constatação: Ben me fazia feliz, e a minha felicidade estava atrelada à felicidade dele. Sem notícias dele, a distância dilacerava o meu coração e provocava um vazio que parecia prestes a engolir minhas entranhas. 

Mas havia algo mais, havia a dor causada pelo que poderia ter sido. Eu poderia ter sido presa se tivesse permanecido em Auradon, é verdade. Sentenciada à masmorra para sempre, talvez. Mas uma hora Ben seria rei, e mesmo que tomado pelo amargor de minha traição ao seu futuro reinado, pelas minhas mentiras, talvez uma chama de seus sentimentos por mim reacendesse sua compaixão e ele me mandasse de volta para Ilha, ou atenuasse à minha pena, ou quem sabe... me deixasse ser livre novamente, para contemplar sua felicidade sem mim à distância. 

Tudo poderia ter sido tão diferente...

Ora, a quem quero enganar? As circunstâncias todas estavam contra mim. Ben já sabia da poção. O espião já sabia de meus planos. E eu descobri tudo... tarde demais. Talvez não fosse para ser. Por mais lastimável que fosse, eu tinha que aceitar que a minha história com Ben havia sido incinerada, reduzida à cinzas, e o que restara era apenas um montante inúteis de ''e se's''. 

 Finais felizes não eram destinados à vilões.

Eu queria acreditar que tinha feito o que era melhor para mim, que havia escolhido o caminho certo, mesmo que isso significasse sacrificar minha felicidade pessoal. Mas a dúvida persistia, uma sombra constante que me perseguia onde quer que eu fosse. Eu havia feito a coisa certa? O peso de minhas decisões nunca parecera tão insuportável quanto agora.

Por mais que Célia fosse um lembrete doloroso de tudo que eu havia perdido, me sentia extremamente grata pela sua presença e o conforto momentâneo que ela me trouxe, como um raio de sol em meio a escuridão que envolvia meu coração. Ela era uma memória viva de tempos mais simples e seguros, de encontros pós-a aula e de beijos roubados nas passagens secretas do palácio real.

- Eu não quero ser um estraga prazeres e atrapalhar esse momento lindo de reencontro. - Jay se pronunciou, despertando-me de meus pensamentos.  - Mas desde quando vocês se conhecem? - Ele se virou para mim. - Você permaneceu inconsciente durante todos os dias que Flora esteve aqui, como é possível que você a conheça?

Flora?

Olhei para Célia em busca de uma explicação, mas ela apenas sorriu gentilmente, como se estivesse aguardando por minha resposta.

- Jay, do que você está falando? - Sorri, confusa, acreditando que Jayden é quem estava enganado. - Esta é uma das empregadas do palácio, foi a ama de leite de Ben, seu nome é...

Minha voz sumiu quando a verdade finalmente se fez clara em minha mente. Meu coração começou a bater mais rápido, uma luz clareando meus pensamentos.

Mãos de fada, foi o que eu pensei ao provar os doce de Célia pela primeira vez.

- Flora... - Murmurei, minha voz tremendo ligeiramente. - Mas então... isso significa...

Minha mente girava enquanto as conexões se formavam rapidamente. Célia não era apenas uma velha amiga de Auradon. Ela era parte de uma história maior, uma história que eu havia enterrado profundamente em minha mente.

Foi então que a recordação de nossa conversa na horta do palácio real me atingiu com um raio. ''Jamais confundiria esse par de olhos verde-esmeralda, com nenhum outro'', foi o que Célia disse. E assim também fez Vera, quando acordei em seu quarto de hospédes. As pistas estiveram debaixo de meu nariz o tempo todo.

Olhei para ela, com os olhos arregalados  pela compreensão repentina. Uma onda de emoções tomou conta de mim enquanto eu processava essa revelação.

Enquanto isso uma pergunta ecoava insistentemente em meus pensamentos:

- O que você está fazendo aqui?


Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }Onde histórias criam vida. Descubra agora