♤POV: MAL ♤
Eu não me importaria de voltar para a cabana a pé. O clima da noite estava ameno, eu estava em companhia dos meus amigos e Fauna era agradável, além disso seria como um passeio turístico pelo vilarejo e eu estava curiosa a respeito das histórias dele, mas assim que Evie percebeu que eu estava mancando e que ja havia feito três pausas antes mesmo de cruzarmos o quarteirão, ela decidiu que era hora de parar.
- Ah crianças... - As sobrancelhas de Fauna se uniram em desapontamento - Eu sinto muito, mas já gastei todo o dinheiro que havia trago para o nosso passeio. Nenhum cocheiro nos levará a lugar nenhum sem ser pago préviamente.
- É apenas um leve incômodo. Dói, mas é suportável. - Tentei tranquilizá-la com um sorriso - Não precisa se preocupar, veja.
Dei alguns passos adiante, me esforçando ao máximo para demonstrar equilíbrio e para não guinchar com a dor lancinante que parecia atravessar meus ossos. Modéstia a parte, eu estava me saindo muito bem até tentar dar meia volta e acabar desabando. Por sorte, Jay foi mais rápido em me segurar.
- Você já foi melhor em esconder suas dores, gatinha. - Ele provocou.
Fingi não ter sido afetada. Jay me ajudou a sentar em um dos bancos de pedra que haviam na calçada.
- Não existe nenhuma estrebaria por aqui perto? - Carlos perguntou. - Nós não precisamos de uma carroça, só Mal está machucada. Poderíamos pedir um cavalo emprestado para ela e devolvê-lo amanhã. - Ele sugeriu.
- Olha, não é má-idéia. - Evie concordou.
- Eu vou procurar com você. - Jay propôs.
- Certo. Evie e eu ficaremos aqui fazendo companhia à Mal, minhas pernas também já estão pedindo socorro. - Fauna riu. E então se tornou momentâneamente séria. - Sejam cuidadosos e não aceitem...
- Nada de estranhos? - Tentei adivinhar sua fala.
- Apenas nada que pareça tentador demais. - Ela se dirigiu aos rapazes, mas não compreendi o que quis dizer. - Ah, e levem isso. É um amuleto. - Ela depositou um pequeno embrulho nas mãos dos rapazes e eles se foram antes que eu pudesse ver do que se tratava.
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♤ POV: JAY ♤
Caminhamos por ruas sinuosas, seguindo um rumo incerto. Enquanto isso observávamos os lampiões que ladeavam as calçadas de pedra e nos quais dançava uma chama azulada. Pensamos em pedir por informação mas as pessoas passavam apressadas por nós e por vezes tive a impressão de que nos ignoravam propositalmente.
Finalmente, depois de cruzarmos uns quatro quarteirões Carlos avistou uma pilha de feno ao fim de uma viela e eu quis acreditar que a sorte estava ao nosso lado.
Paramos em frente ao prédio e vimos que se tratava de uma espécie de celeiro. As paredes de madeira velha e a tinta vermelha desgastada que revestia as paredes sugeriam que se tratava de uma construção antiga. Avistamos ferraduras enferrujadas em um canto da porta e decidimos entrar.
O ambiente era escuro e sequer enxergaríamos alguma coisa se não fossem as duas tochas que queimavam cada qual em uma extremidade lateral do celeiro. O ar úmido cheirava a mofo, como se o lugar não recebesse ventilação o suficiente.
Ao fundo, um senhor trabalhava pesadamente retirando sacas da traseira de uma caminhonete e empilhando-as cuidadosamente em uma estante. Sua respiração cansada era o único ruído do lugar e ele parecia não ter notado nossa presença ainda.
Tentei chamar sua atenção.
- Ahn... com licença, senhor?... - Eu não levava o menor jeito.
- Ora, ora - O homem se revirou e enxugou o rosto com um lenço branco que retirou da lapela de seu macacão, largo demais para sua figura esguia. - Eu não costumo receber visitantes aqui, em uma parte tão afastada do restante do vilarejo. - Ele sorriu, mas não havia humor em seu sorriso. - O que os senhores procuram?
Notei que seu cabelo liso, de um brilho ensebado, recaía sobre os ombros, mas o que mais chamava atenção era a cor de sua pele, que possuía um leve tom esverdeado. Ou seria dourado? Seus olhos encontraram os meus e eu me esforcei para não estremecer ao me deparar com a vermelhidão de sua irís.
- Precisamos de uma montaria emprestada. - A voz de Carlos soou firme como eu jamais ouvira. Mais firme do que a minha tentativa de iniciar uma conversa havia soado. - Vimos algumas ferraduras na entrada então nós...
- Deduziram que eu poderia ter o que procuram? - Ele completou. - Ora, vocês já deveriam saber que em Arcânia nem tudo é o que parece. Por acaso são...forasteiros? - O homem insinuou.
- Você tem ou não? - Minha voz sugeria uma ameaça, por mais que não fosse a intenção.
- Decerto que sim, meu caro. - Ele murmurou, seus olhos reluzindo com uma intensidade que me deixou momentâneamente desconfortável. - A verdadeira pergunta é: Vocês estão procurando pelo que precisam?
Carlos e eu nos entreolhamos. Onde é que aquele sujeito queria chegar com tantos rodeios? Aquilo estava me tirando do sério. Algo nele me deixava à flor dos nervos. Era como se pudesse ler nossas almas com aqueles olhos penetrantes.
Carlos permaneceu impassível, mas pude notar uma tensão sutil em sua postura.
- E o que você acha que nós precisamos?
A pergunta dele trouxe à minha memória o aviso de Fauna: ''...não aceitem nada de estranhos...nada que seja tentador demais''. Uma briga se encaixaria nesses critérios?
- Respostas sobre um passado desconhecido, talvez? - A figura incógnita sussurrou, e as palavras dele, apesar de enigmáticas, mudaram algo na expressão de Carlos, deixando-o inquieto. Aquela resposta parecia carregar um peso que eu ainda não compreendia. O indivíduo se virou em minha direção. - Ou quem sabe um lembrete sobre suas prioridades?
- Minha única prioridade agora é conseguir um cavalo. Não sei do que está falando. - Respondi, tentando manter minha voz decidida apesar da crescente ansiedade em meu peito.
Mas eu sabia, sabia sim. ''Prioridades'' era a palavra que meu pai, Jafar, usava para me convencer de que meu propósito na vida estava ligado a esquecer os outros e sempre conseguir tudo aquilo que eu desejasse. Como aquele homem poderia saber algo assim?
- Ouça, senhor. - Carlos escolhia as palavras, cuidadosamente. - Nossa amiga está machucada, tudo o que precisamos é de uma montaria emprestada para levá-la para casa, pode nos ajudar ou não?
O homem inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando o pedido, ou a postura convicta do meu amigo. Então, após um breve momento de silêncio, ele sorriu mais uma vez, um sorriso misterioso, de dentes amarelos.
- Muito bem, então. Tenho o que precisam. - Ele se virou e contiunou a descarregar a caminhonete. - Há uma égua amarrada em uma das árvores dos fundos. Podem levá-la. Mas tomem cuidado com ela, pois não é um animal comum. Vocês terão de persuadi-la a ir com vocês primeiro.
- E o que você vai pedir em troca? - Questionei, sentindo que o senhor havia cedido muito facilmente.
- Você não tem nada a oferecer, meu jovem. - Ele parecia achar graça de minha pergunta. - Mas digamos que você e o seu amigo apenas ficaram me devendo... um favor.
Antes que eu pudesse interrogá-lo a respeito de que tipos de favores estava se referindo, Carlos me puxou pelo braço em direção a saída e eu apenas respeitei a decisão dele. Aquele homem me dava calafrios. Nós já havíamos conseguido o que queríamos e quanto mais rápido fossémos embora, melhor.
Enquanto saíamos, mesmo de costas, tive o pressentimento de que o desconhecido continuava a sorrir.
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Coração Enfeitiçado ♤ { Fanfiction Descendentes // Mal e Ben // Malen }
FanficEm um reino encantado, onde contos de fadas ganham vida, o Príncipe Ben decide quebrar as barreiras que separam o bem e o mal. Ele escolhe quatro crianças da Ilha dos Vilões, uma terra habitada por figuras sombrias, na esperança de guiá-las para um...