Todos estavam no grande salão onde estava sendo realizado o grande baile. Casais dançavam, mulheres julgavam os vestidos das damas, homens brindavam e conversavam sobre os mais variados assuntos.
Claire estava em seu camarim e logo iria se juntar aos outros no baile de gala. Ela encarou o espelho coberto e se aproximou-se do objeto, retirando o pano vermelho de sua superfície. A jovem tocou o espelho mais uma vez, colocando a palma de sua mão sobre o vidro. Ela pôde sentir um certo calor, como se alguém encostasse em sua mão. Afastando-se do espelho, ela foi até a porta do quarto e a abriu, indo em rumo ao salão de baile.
Ao chegar lá, diversas pessoas foram parabenizá-la pelo sucesso que havia feito naquela noite. Alguns homens a convidaram para dançar e ela não recusou os convites. Algum tempo depois, estava sozinha num canto, tomando vinho tinto. Seu olhar vagou pelo salão e caiu sobre um homem que estava encostado em uma pilastra e parecia observá-la. A soprano caminhou em sua direção e parou ao seu lado.
- Também está entediado? - ela perguntou.
- Sim. - ele respondeu, sua voz grave e sedutora. - Mas por que se sente entediada, mademoiselle? Já foi convidada para dançar com quase todos os homens desta festa.
- Não me sinto entretida dançando com eles. - a moça tomou um gole de seu vinho. - Os passos são muito contidos e sem vida, como se eu dançasse com um manequim.
- Entendo. - o homem fez uma pausa.
- Por que está usando uma máscara? Não estamos em um baile de máscaras.
- Me concederia esta dança, senhorita?
- ele desviou o assunto.- Sim, senhor.
Eles caminharam até o centro do salão. O mascarado colocou uma mão na fina cintura da moça, e a outra estava entrelaçada com a de sua parceira. Os movimentos eram graciosos, eles rodopiavam em meio aos outros casais atraindo olhares curiosos. Com um sorriso esboçado em seu rosto, Claire disse:
- É um bom pé de valsa, monsieur.
- Igualmente, mademoiselle. - ele a inclinou para trás.
Junto com o término da música, a moça ficou de pé novamente. O rosto do homem misterioso e o da Prima-Dona estavam perigosamente próximos, fazendo com que uma faísca acendesse em seus olhos. Claire encarou os olhos do mascarado, eram cor de âmbar. Seus lábios eram bem esculpidos, como a obra de um dos mais habilidosos escultores. A face da jovem formigava enquanto estava próxima a daquele homem que acima de tudo, era um grande sedutor.
- Por que me encara assim, senhorita? Algo em mim lhe incomoda? - questionou o mascarado.
- Não, senhor. Apenas me diga, já nos conhecemos alguma vez?
- Não faço ideia. Já vi muitas moças durante toda a minha vida.
- Posso vê-lo sem a máscara, por favor?
- ela perguntou o mais educadamente possível.- Não. - sua voz foi bem ríspida.
- Sinto que o conheço, mas preciso ver seu rosto!
- Temo que seja minha hora de ir embora, ma chèrie.
De repente, um par que estava dançando acabou esbarrando no homem misterioso, fazendo com que o seu maior medo se profetizasse. Seus lábios tocaram os da soprano, que ficou em choque. Ao se separarem, ela o encarou perplexa.
- Me perdoe. - e ele correu para as sombras.
- Espere, senhor! - ela correu atrás dele.
A mulher corria o mais rápido que podia, porém, não encontrou o homem misterioso. Ela suspirou derrotada e olhou ao redor. Abaixando a cabeça, ela conseguiu relembrar uma sensação que não sentia há anos: A maciez dos lábios de seu amigo, Erik. Talvez eles fossem bem mais do que amigos, mas eram crianças assustadas e maltratadas por pessoas perversas, como eles saberiam o que era amar sendo que nunca foram amados? A única coisa que ela sabia era que a sensação dos lábios esculpidos do homem misterioso era muito semelhante a que Claire sentiu ao selar os lábios de Erik anos atrás.
- Erik... - ela murmurou, aquele nome ecoando em sua mente.
Claire retornou ao camarim e sentou-se em sua cama, estava exausta. Seria melhor dormir um pouco do que ficar naquela festa. Então, se levantou e pegou uma camisola delicada da cor preta e a deixou esticada sobre a cama. A moça deslizou as alças do vestido que usava, fazendo com que a peça de roupa caísse no chão. Ela colocou o vestido cuidadosamente sobre o divã e voltou-se para vestir sua camisola. Deitando na cama, a mulher imediatamente fechou os olhos e adormeceu profundamente.
Enquanto dormia, apenas sonhava com o mascarado que havia dançado. Os olhos cor de âmbar que pareciam colocá-la em uma espécie de transe, suas feições delicadas e atraentes, seus cabelos negros bem penteados, ele era lindo. Claire abriu os olhos e olhou para o relógio que estava na parede, ele marcava sete da manhã em ponto. A jovem alongou-se e foi em direção ao guarda-roupa para escolher a roupa que usaria. Optou por um vestido num tom verde desbotado. Calçou suas típicas botas marrons e escovou o cabelo, deixando-o solto, sem a presença de grampos. Claire estava decidida a saber o paradeiro do mascarado da noite passada.
Ao sair do quarto, viu uma senhora por volta dos quarenta anos de idade caminhando, ela parecia distante enquanto andava pelos corredores da Ópera. A Prima-Dona correu para falar com ela, que a olhou e a cumprimentou.
- Bon jour, mademoiselle, sou Madame Giry em que posso ajudá-la? - perguntou a senhora.
- Olá, bon jour! Madame Giry, ontem à noite durante o baile, você viu um homem vestido inteiramente de preto e que usava uma máscara? - questionou a soprano.
Madame Giry ficou perplexa, mal acreditando no tinha acabado de ouvir. A mulher pensou por alguns segundos e se dirigiu à moça.
- Por que deseja saber, senhoria?
- Acho que ele é um amigo de infância meu, eu tenho quase certeza que ele é. Mas ele fugiu do baile e não o encontrei mais...
- "Amigo de infância"?
- Sim, Madame. - a jovem estava ansiosa por uma resposta. - O nome do meu amigo era Erik.
- Erik?! - a senhora se espantou.
- Madame Giry, está tudo bem? Você viu o sujeito que lhe descrevi?
- Estou bem, querida. E sinto muito, porém não vi nenhum homem de máscara ontem à noite.
- Oh, tudo bem, mesmo assim obrigada. Até! - e a moça saiu andando em busca de pessoas que viram o tal homem misterioso.
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𝑵𝑬𝑽𝑬𝑹𝑴𝑶𝑹𝑬 - O Fantasma da Ópera
FanfictionApós a partida de Christine, juntamente com o incêndio do Palais Garnier, a Ópera foi abandonada, até ser comprada e reconstruída. Com a reinauguração do teatro, uma dama misteriosa se torna Prima-dona e encanta todos com sua bela voz, inclusive o t...