𝑪𝑨𝑷Í𝑻𝑼𝑳𝑶 5: Teimosia

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Erik foi para seu covil nos subterrâneos. Ele estava frustrado, com ódio de si mesmo. Ele rosnou e derrubou os papéis e o candelabro que se encontrava numa mesa próxima.

Chegando perto do órgão, cujo estava empoeirado e repleto de papéis amassados, o homem pegou uma garrafa de uísque e deu um gole na bebida. Atirou-se no banco que ele costumava passar horas escrevendo belas músicas e continuou a beber. Desde a partida de Christine, Erik abandonou a música e seus dons artísticos. Seus ataques de raiva eram constantes e sempre terminavam do mesmo jeito: ele adormecia bêbado. Às vezes apenas chorava até cair sem forças no chão. Não havia consolo para ele, Erik estava sozinho e isolado do mundo como nunca esteve antes, enquanto sabia que Christine estava feliz junto de Raoul. Por que ele não podia ter um final feliz também? Por que não podia receber amor? Ele sabia o porquê. Como uma aberração como ele poderia ser amado? Quem neste mundo poderia amar um monstro?

Claire estava em seu camarim junto à Madame Giry e Meg. A soprano estava perdida em meio as cascatas de lágrimas que corriam por seu rosto. Ela nunca iria imaginar que Erik havia passado por tudo aquilo.

- Como puderam fazer isso com ele...?
- a soprano questionou em meio à lágrimas.

- Oh, minha querida... - Madame Giry a abraçou.

- E-Ele não merecia isso... - disse Claire secando seu rosto. - Eu preciso vê-lo. Sou a amiga dele, tenho que confortá-lo.

- Como irá até ele? - perguntou a jovem Giry.

- Eu o vi passar pelo espelho... - ela se aproximou do objeto e o arrastou para o lado, revelando um corredor sombrio.

- Tem certeza que irá até lá? - Madame Giry colocou uma mão em seu ombro.

- Sim, eu tenho. Erik precisa de mim mais do que nunca.

- Você é uma amiga leal. Vá, mas antes, pegue isto. - a senhora à entregou um castiçal.

- Obrigada, Madame, obrigada Meg.

Então, com um suspiro confiante, Claire passou pela passagem secreta e começou a caminhar pelo corredor escuro. Após alguns minutos andando, a jovem se deparou com uma lagoa. Coçando a nuca, ela olhou ao redor a procura de outra forma de atravessar. Ela achou uma passagem estreita e seguiu por ela até perceber a luz de algumas velas. Finalmente, Ela havia chegado ao covil de Erik. Um suspiro de espanto saiu do fundo da garganta da moça, estava tudo uma bagunça!

Garrafas de vidro pelo chão, algumas estavam quebradas e os cacos estavam espalhados pelo chão. Papéis amontoados e dispersos por cada canto, candelabros quebrados, etc. E no meio de todo aquele caos, estava Erik. Ele dormia serenamente com a cabeça apoiada numa mesa. Um garrafa de uísque estava caída do chão, entornando seu líquido. A máscara que o homem usava estava sobre a mesa e era possível ver seu rosto deformado.

- Ah, meu pobre Erik... - a mulher beijou o topo da cabeça o rapaz e o viu se mover e murmurar algo. - Erik?

- C-Christine...? - ele estava embriagado.

- Não...Sou eu, Claire.

- Claire... - Erik soltou um leve grunhido.
- Minha cabeça dói...

- Por que bebeu tanto? - não houve resposta. - Vai ter que cooperar comigo, levante-se.

O homem levantou-se com certa dificuldade, a moça o apoiou e o guiou até sua cama, onde o ajudou a deitar-se. Claire o encarou por algum tempo, ele estava muito pálido e magro, mas mesmo assim preservava as feições atraentes que ele tinha.

- Eu estou bem...Pode ir embora. - ele resmungou.

- Não vou ir à lugar algum. Vou cuidar de você.

- Não preciso que cuidem de mim. - O homem virou-se de costas para a moça.

- Mesmo assim eu vou cuidar de de você.
- ela colocou um pano umidecido sobre a testa do rapaz. - Durma um pouco, irei voltar para a Ópera e pegar um pouco de comida para você.

Ele apenas murmurou e fechou os olhos. Claire revirou os olhos e foi a caminho da Ópera. Ela não precisaria passar pelo caminho estreito, pois havia avistado uma gôndola na margem da lagoa. A mulher cruzou as águas densas e chegou até o corredor escuro. Vendo a passagem do espelho, ela apressou o passo e se aproximou, notando que era possível ver tudo do outro lado. A Prima-Dona corou violentamente pensando no fato de Erik já tê-la visto através do espelho. Ela finalmente adentrou o quarto e fechou a passagem secreta.

A jovem foi até a cozinha e pegou algunsingredientes para fazer uma sopa para ressaca. Após terminar de cozinhar, pegou a pequena panela e uma tigela, colocando-as numa cesta vazia que estava largada num canto. Ela retornou até o covil, encontrando Erik ainda no mesmo lugar. Claire sentou-se ao lado dele e o sacudiu seu ombro.

- Erik, acorde. - não houve nenhum movimento. - Erik. - ela o chamou novamente, ele apenas virou-se de costas para ela. - Sei que está acordado, levante!

E mais uma vez não teve resposta. A moça grunhiu impaciente. Juntando toda força que tinha, empurrou o homem, que rolou da cama e caiu de costas para o chão. Erik abriu os olhos e logo sentiu a dor da queda espalhar-se por seu corpo.

- AH! - ele exclamou. - Você está louca?!

- Da próxima vez levante quando eu te chamar e não aja como uma criança malcriada! - ela bufou. - Fique de pé ou pisarei em você.

Desta vez, ele imediatamente fez o que ela mandou e ficou de pé. Seu olhar soltava faíscas e seu peito subia e descia freneticamente enquanto encarava aquela mulher que mantinha um olhar sereno.

- Estou de pé, o que quer agora, vossa excelência?

- Venha comigo. - a soprano segurou na mão do rapaz e o guiou até uma mesa, onde estava a panela com sopa e a tigela.
- Sente-se.

- Não tenho fome. - ele cruzou os braços ao sentar-se na cadeira.

- Mas irá comer mesmo assim. É uma sopa para ressaca. - ela colocou um pouco de sopa na tigela. - É melhor começar a comer se não quiser que eu o force à isso.

- Desde quando você se tornou tão mandona?
- perguntou Erik.

- Desde quando você se tornou tão teimoso? - Claire rebateu. - Se você se comportasse, seria muito gentil contigo, mas como insiste em ser malcriado, devo ser ríspida com você.

- Já pensou em ser mãe?

- Quer dar-me um filho? - ela cruzou os braços.

- Quantos quiser. - disse num tom sarcástico.

- Estou brincando, seu idiota! - a jovem desferiu um pequeno tapa no ombro do homem. - Além de malcriado é pervertido!

- Também estava brincando! - ele deu um leve tapa no ombro da moça. - Agora estamos de acordo.

- Hm, estamos. - ela observou-o comer.
- Está de seu agrado, monsieur?

- Falta um pouco de sal. - o olhar de Claire estava sério, era melhor parar de provocá-la com essas brincadeiras.
- Está ótima.

- Acho bom.

𝑵𝑬𝑽𝑬𝑹𝑴𝑶𝑹𝑬 - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora