𝑪𝑨𝑷Í𝑻𝑼𝑳𝑶 1: A Nova Prima-Dona

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A fila de garotas aumentava. As jovens conversavam entre si e vocalizavam (de um jeito estridente). Então, uma moça entrou na fila, e todas as outras a encararam. Nunca haviam visto ela antes. A donzela tinha cabelos castanhos, que caíam por seus ombros e olhos azuis profundos como um oceano. Sua pele era clara, parecia ser feita de porcelana.

Ela trajava um simples vestido índigo com um cinto de de couro marrom em sua cintura. Todas ficaram abismados com tamanha beleza, quem era aquela garota, e de onde ela veio? As portas da Ópera foram abertas, as audiências começaram. As horas passaram, os diretores estavam exaustos e sem esperança, estava tudo sendo um desastre. Uma jovem havia acabado de terminar sua apresentação, sua voz lembrava uma ave, uma ave com dor de garganta e rouca.

- Estamos perdidos, Louis! Perdidos!
- choramingou Francis.

- Há de ter alguma moça talentosa, eu sei disso. Deus irá enviar um de seus mais belos anjos para nós! - disse o homem apalpando seu bigode.

- Próxima! - exclamou LaRoche.

Com passos graciosos, uma donzela parou no centro do palco. Era a mulher de cabelos castanhos que havia chamado a atenção de todas as outras garotas. Ela respirou fundo e sua voz começou à ressoar por toda parte. Francis e Louis ficaram boquiabertos ao ouvirem as primeiras notas saírem da boca da bela jovem.

"Oui, c'est moi - je t'aime!

Malgré le démon moqueur,

je t'ai retrouvée!

Oui, te voilà sauvée!

Viens, c'est moi!

Viens sur mon coeur!"

Ela terminou a canção com grande entusiasmo, ao olhar na direção dos diretores, viu suas expressões de choque e admiração. Eles bateram palmas, com grandes sorrisos em suas faces.

- Brava! Brava! Incrível mademoiselle!
- falou Hervé.

- Como se chama, querida? - perguntou Francis num tom amigável.

- Me chamo Claire, monsieur. - ela sorriu educadamente.

- Sua voz é divina! Uma das mais belíssimas que já ouvimos, não é Francis?
- Louis cutucou seu colega.

- Sim! Claro! - Ele respondeu em alto e bom tom. - Gostaria de tornar-se nossa soprano?

- Oh! Adoraria! - Seu sorriso dócil cresceu ainda mais.

- Magnífico! Bom, venha conosco. Meninas, estão dispensadas! - disse Hervé.

Pôde ser ouvido os murmúrios desapontados das outras jovens enquanto andavam, aglomeradas, até as portas da Ópera enquanto a mais nova estrela iria até o escritório dos diretores selar seu contrato.

-Dois dias depois, na noite do baile.

Claire estava em seu camarim em frente ao grande espelho que estava na parede. Ela colocava seus brincos dourados e alguns adornos. Há alguns dias atrás, ela nunca imaginaria que se tornaria Prima-Dona, muito menos que iria fazer sua primeira estréiana frente de toda Paris. Mas algo a perturbava, havia alguma coisa errada.

- Sinto como se alguém me observasse...
- Ela falou para seu reflexo. - Devo estar ficando louca, não é? - ela riu. - Estou ansiosa, apenas isso.

Porém o espelho lhe dava uma sensação estranha, então, resolveu tocar a superfície dele com seu dedo. Estava perfeitamente normal, até que ela olhou atentamente para o espelho e arregalou seus olhos azuis com medo. O reflexo de seu dedo na superfície do vidro tocava seu dedo real. Isso significava uma coisa: o espelho era falso. A moça afastou-se e olhou ao redor, logo depois, pegando um lençol que estava no sofá e cobrindo o espelho.

- Deus, que terrível! Irei ficar longe desse espelho por um bom tempo.

- Mademoiselle Claire, o espetáculo começará em três minutos! - exclamou a camareira.

- Certo, estou a caminho!

O elenco estava agitado, tudo precisava ser perfeito esta noite. Claire andava apressada pelos corredores indo em direção aos bastidores que não percebeu quando uma moça vinha em sua direção. Elas esbarraram uma na outra. Era uma jovem com belos cabelos loiros que estavam presos em uma humilde trança.

- Sinto muito. Afinal, como se chama?
- perguntou a soprano.

- Meu nome é Meg Giry, sou parte da equipe de balé. E você é...Claire, certo?

- Sim, correto. É um prazer conhecê-la, Meg. - elas fazem um aperto de mãos.

- Venha, é melhor irmos andando ou você chegará atrasada! - disse a loira.

As duas correram e finalmente ingressaram nos bastidores. Estavam sendo postos os últimos detalhes, Claire avistou seu reflexo num espelho ao longe. O vestido branco com correntes douradas ao redor deixava suas curvas ainda mais nítidas, seus cabelos castanhos presos em um coque com alguns adornos dourados, ela estava radiante. Havia chegado o momento, a hora de ir até o palco. A moça respirou fundo e aos poucos, a cortina vermelha se erguia na sua frente. A sala estava repleta de pessoas, cujo falavam alto, mas ao verem a moça no centro do palco, todos se calaram e a voz imponderada e angelical da cantora ecoou por todos os cantos.

Os espectadores não viam voz tão perfeita desde Christine Daaé, que havia se tornado Condessa de Chagny há quatro anos atrás, após a morte do Conde Richard de Chagny. Quem assumiu o título dele foi seu filho, Raoul, marido de Christine.

Enquanto Claire cantava docemente, mal sabia ela que uma força além de sua imaginação a ouvia também. Do alto do Camarote N° 5, o qual ninguém ousava entrar por causa dos boatos que dizem que a alma do Fantasma reside ali, no meio das sombras, estava ele, o mais temido pelos parisienses, o misterioso Fantasma da Ópera. Todos achavam que ele havia morrido, encontraram seu corpo num rio subterrâneo, porém, claramente ele havia armado toda aquela cena.

Não havia como negar que a voz da mulher era linda e ardente em cada nota, como uma lira tocada pelas mãos mais hábeis. Mas além disso, algo nela era familiar, algo cujo nem o próprio Fantasma conseguia distinguir. O espetáculo acabou, uma chuva de aplausos veio da platéia, junto com gritos de pura emoção. O homem misterioso deu as costas para a visão da moça e sumiu na escuridão. Andando pelas passagens escuras, ele caminhava em direção à seu covil subterrâneo, onde viveu desde que era apenas uma criança. Porém algo o fez parar sua caminhada, o som de uma voz abafada cantarolando. Vinha do outro lado do espelho falso no camarim Prima-Dona. O Fantasma se aproximou para ver, mas sua visão era bloqueada por um pano vermelho que tampava a superfície do espelho, mas era possível ouvir a voz da pessoa do outro lado perfeitamente.

- Onde será que você está agora? - dizia uma mulher num tom distante, era a soprano. — Você está seguro?
- Ela suspirou.
- Como sinto sua falta, meu Erik.

Naquele instante o mundo pareceu parar, cada vez mais tudo parecia mais escuro para o Fantasma. Sua mente voltou ao passado, para suas lembranças mais dolorosas. Lembranças que vieram antes mesmo de Christine Daaé. Lembranças da infância.

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E esse foi o 1° capítulo! Espero que tenham gostado. ♡

𝑵𝑬𝑽𝑬𝑹𝑴𝑶𝑹𝑬 - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora